Como
vimos, temos um inimigo feroz que deseja nos tragar. Embora não seja possível
ao diabo fazer a nossa alma se perder, uma vez que já estamos selados por
Cristo para a salvação, ele pode nos levar a desanimar e pecar quando nos tenta
em nossas fraquezas e nos afasta da intimidade com Deus. O que fortalece o
caráter do crente e o mantém de pé e longe do pecado é o seu compromisso com
Cristo, o seu cuidado na oração, bem como na leitura e na prática da Palavra.
Essa, porém, não é uma batalha na qual o crente luta só, onde emprega seus
esforços pessoais. Se a nossa luta é espiritual, as nossas armas também são
espirituais. O apóstolo Paulo registrou: “Porque, embora andando na carne, não
militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e,
sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando sofismas e toda
altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo
pensamento à obediência de Cristo” (1 Co 10:3-5). Seja na nossa luta interna
contra o pecado ou no confronto direto com as hostes malignas, o poder que nos
move e nos faz vencer não é nosso, mas vem de Deus e tem como objetivo levar
todo pensamento à obediência de Cristo.
a) Enfrentando o dia mau.
O evangelista deve esperar esse constante confronto, seja interno ou externo,
devendo estar preparado com toda a armadura de Deus para que possa resistir no
dia mau (Ef 6:13). Todos os dias nós enfrentamos esse “dia mau”. O próprio
apóstolo Paulo enfrentava dias como esse; “Porque chegando nós à Macedônia,
nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por
fora, temores por dentro” (2 Co 7:5). Em Hebreus 11, vemos que os dias maus
fazem parte do cotidiano de todos os servos de Deus: lutas, tribulações,
perseguições, tentações, desemprego, separações e tudo aquilo que pode nos
fazer fraquejar da fé. Todavia, o mesmo Paulo era consolado pelo “Deus que
conforta os abatidos” (2 Co 7:6). Em tudo era atribulado (2 Co 4:8-11), mas não
desanimava, pois sabia o propósito de todo o seu sofrimento e entendia que era
passageiro (vs. 12-18). Ele, então, apresenta aos efésios as armas espirituais
da nossa milícia, capazes de nos dar a vitória e nos manter inabaláveis (Ef
4:14-18), como veremos a seguir.
b) O cinturão da verdade (v.
14). O apóstolo Paulo toma como figura da armadura espiritual do cristão a
armadura utilizada pelos soldados romanos na sua época. O cinturão era uma peça de couro que prendia
as extremidades da túnica do soldado para não atrapalhar a agilidade dos seus
movimentos. A falta da verdade é algo que pode atrapalhar bastante a nossa vida
espiritual. Em primeiro lugar, é preciso que estejamos cingidos com a verdade
do Evangelho de Cristo, não pregando nem vivendo outra mensagem que não seja a
da cruz. A verdade é a essência da Palavra de Deus (Sl 119:160), e é ela que
deve guiar o evangelista (Sl 25:5). Em segundo lugar, devemos viver essa
verdade, não tendo do que nos envergonhar diante de Deus nem dando lugar ao
maligno. Quem não anda na verdade, pratica a mentira, comete pecados e dá lugar
ao inimigo. Fomos gerados pela palavra da verdade (Tg 1:18), logo, devemos
seguir a verdade em amor para que cresçamos em Cristo (Ef 4:15). O crente
precisa ser honesto, íntegro, sincero, verdadeiro. A mentira é filha do diabo
(Jo 8:44).
c) A couraça da justiça
(v. 14). A couraça do soldado romano era uma peça de metal que protegia o seu
peito e as suas costas, assumindo, aqui, dois significados. O primeiro diz
respeito à certeza da justificação em Cristo por meio da fé (Rm 5:1), que lhe
traz paz com Deus e lhe garante a salvação eterna (Rm 8:1; Jo 3:36). O crente era
um pecador faminto e sedento por justiça e foi saciado por Deus (Mt 5:6).
Muitas vezes, quando pecamos, somos levados a pensar que não fomos perdoados
por Deus, que ainda estamos mortos em nossos pecados e, por isso, não somos
seus filhos. Entretanto, o apóstolo João escreveu: “Filhinhos meus, estas
coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um
Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo 2:1). O nosso Advogado já
defendeu a nossa causa com seu sangue e o Juiz já nos absolveu dos nossos
pecados (1 Pe 2:24). Não temos que ter dúvidas quanto a nossa justificação. O
segundo significado diz respeito à prática da justiça como resultado do perdão
de Deus que nos alcançou, buscando viver em santidade e praticar a sua Palavra,
obedecendo-o (Is 11:5). Essa questão também envolve a prática e a busca por
justiça. Da mesma forma como a busca por justiça era o centro da adoração e da
vida do povo de Israel (Dt 27:29; Jr 22:3), o chamado da Igreja de Cristo é
para uma vida renovada pela justiça de Deus, que implica numa fé prática,
desprendida do egoísmo e da hipocrisia e com consequências positivas na vida
daqueles que sofrem. O que Deus pede do seu povo é a prática da justiça e
submissão à sua vontade (Rm 12:2; Cl 1:9,10).
d) O calçado do Evangelho da paz
(v. 15). A “preparação do evangelho da paz” conota um equipamento (como um
arco) que o cristão deve possuir na sua batalha contra as forças hostis das
trevas. Isso nos faz lembrar que a nossa luta não é contra sangue ou carne (v.
12); isto é; não lutamos contra as pessoas, contra as suas crenças, sua maneira
de ser, sua cultura. Mesmo quando está claro que algumas pessoas estão sendo
instrumentos nas mãos do diabo, o evangelista deve lembrar que essa batalha não
é algo pessoal que alguém tem contra ele, e por isso não pode revidar, brigar,
criar problemas e desavenças, mas vencer por meio da paz. O ódio que o mundo
tem por nós, discípulos de Jesus, não é novidade (Jo 15:18,19; Mt 10:22), mas
somos exortados a buscar a paz com todos os homens sempre que possível (Rm
12:18,19). O evangelista é um pacificador (Mt 5:9), aquele que leva as
boas-novas que fazem a paz entre o pecador e Deus (Ef 2:14; Cl 1:20; Rm 5:1; Hb
7:2). Não podemos deixar de levar em conta o termo “evangelho” neste versículo.
A nossa arma contra Satanás não é a nossa ideologia nem a nossa denominação;
também não é qualquer mensagem, mas é o Evangelho da paz. Se a mensagem não
promoveu a paz entre o pecador e Deus perdida na Queda, então não era o
Evangelho.
e) O escudo da fé (v.
16). O escudo, para o soldado romano, era uma peça feita de madeira e revestida
de couro e metal que o protegia do ataque de espadas, lanças, flechas e outras
armas de guerra do inimigo. Lembrando do que foi aprendido anteriormente, vemos
o inimigo como adversário que ataca a fé do cristão para destruí-la e desviá-lo
dos caminhos do Senhor. Quem já viu filmes de guerras do tempo do império
romano ou medievais, assistiu aquela cena em que os soldados estão no campo de
batalha, enquanto do outro lado, os soldados do campo inimigo lançam sobre eles
uma chuva de flechas, algumas flamejantes. A sua única proteção contra a morte
certeira é o escudo. O diabo pode lançar dúvidas quanto à nossa fé, a
integridade do nosso caráter, a nossa confiança e esperança em Deus. Ele pode,
inclusive, tentar fazer com que percamos essa confiança e esperança. Outro
atentado de Satanás contra a fé do crente é desviar-lhe da sã doutrina para
seguir falsos ensinos, como ocorreu com os gálatas (Gl 1:6-9). O apóstolo Pedro
apresenta a firmeza na fé como uma forma de resistir às investidas de Satanás:
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como
leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos
de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade
espalhada pelo mundo” (1 Pe 5:8,9). Até mesmo as tribulações podem ser
estratégias do diabo para nos desviar do nosso foco. A fé que pregamos e vivemos
é totalmente baseada nas Sagradas Escrituras; ela gera obediência a Deus,
frutos e obras. Crer, até os demônios creem, e tremem (Tg 2:19).
f) O capacete da salvação
(v. 17). O capacete era uma peça de metal ou couro que protegia a cabeça do
soldado contra objetos lançados contra ele. É interessante como o apóstolo
Paulo escolhe esta parte da armadura para falar sobre a salvação. A cabeça
envolve mente, intelecto, a direção de todo o corpo. É a cabeça – o cérebro –
que transmite ordens para o corpo agir. Quando ela tem dúvidas sobre o que
fazer, não emite comando algum e o corpo não age nem reage. Em 1
Tessalonicenses 1:4-9, Paulo fala a respeito da necessidade de vigilância com
relação à vinda do Senhor. Os filhos das trevas não vigiam (v. 5), mas aqueles
que são de Cristo se mantêm sóbrios, revestindo-se da couraça da fé e do amor e
“tomando como capacete, a esperança da salvação” (v. 8). O v. 9 revela que esse
capacete é a certeza de que somos salvos, que não podemos nos perder, por mais
que o diabo nos tente e por mais que ele queira nos tragar, “porque Deus não
nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor
Jesus Cristo”. Jesus já nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do seu
Santo Espírito, de modo que nos tornamos herdeiros segundo a esperança da vida
eterna, por meio da justificação pela graça (Tt 3:5-7). Muitas formas de crer e
pregar a Bíblia estão tirando essa certeza da salvação da mente dos crentes. Em
primeiro lugar, através de doutrinas como o arminianismo, que prega a perseverança
dos santos em detrimento da graça eficaz de Deus. Em segundo lugar, retirando da
pregação esta salvação, oferecendo outros elementos mais interessantes aos padrões
do cristão moderno, como bênçãos e milagres. Sem o conhecimento da salvação, não
vem a sua certeza, mas uma fé ilusória que não tem sustentabilidade, não leva para
o céu e não protege ninguém contra as investidas de Satanás.
g) A espada do Espírito
(v. 17). O conhecimento correto da Palavra de Deus é que decidirá a nossa
vitória no campo de batalha. Qualquer dúvida com relação a tudo o que foi dito
anteriormente demonstrará falta de fé e confiança em Deus. Partir para a guerra
sem a nossa arma principal, a Bíblia, significa entregar-se ao inimigo. Para o
evangelista, a espada do Espírito é crucial; ela é sua arma e seu instrumento
de trabalho. Sem ela não existe evangelismo. Não é o nosso testemunho nem as
nossas experiências que nos levarão a vencer o inimigo, mas a Palavra de Deus.
Ela é a espada que usamos na luta corpo a corpo com as trevas. Se o evangelista
não dominar essa Palavra com destreza, ela pode ser usada contra ele pelo
próprio Satanás, como aconteceu com Jesus na tentação no deserto. Jesus repeliu
as ações do inimigo com a Palavra de Deus. Satanás vinha com uma verdade
distorcida, e Jesus rebatia com a verdade genuína (Mt 4:1-11). Muitos crentes,
incluindo evangelistas, não querem ler nem estudar a Bíblia, por isso a sua fé
vacila e o diabo os conduz à queda. O evangelista deve ser um obreiro aprovado
que maneja bem a Palavra da verdade (2 Tm 2:15). Mas não basta apenas dominar o
conteúdo da Bíblia, é preciso colocá-lo em prática (Tg 1:22). Este estudo está
repleto de indicações a respeito do valor da Bíblia e da importância do seu
estudo para o evangelista.
h) A oração e a súplica
(v. 18). Paulo finaliza a descrição da armadura espiritual do Cristão afirmando
que ela deve ser tomada e utilizada com “toda oração e súplica, orando o tempo
todo no Espírito, e para isso vigiando com toda perseverança e súplica por
todos os santos”, e também por ele (v. 19). A oração demonstra dependência,
submissão e confiança em Deus. Na luta contra o inimigo, esses três fatores
devem ser observados, pois a nossa luta não é contra o sangue nem contra a
carne, mas também não pode ser nem por meio do sangue nem por meio da carne. As
armas da nossa milícia são espirituais, não seguem o padrão do mundo, mas são
poderosas em Cristo (2 Co 10:3-5). Essa oração não é apenas individual, mas
comunitária, envolve a preocupação com os outros que também enfrentam lutas.
Muitos estão presos pelas cadeias do inimigo e ainda não aceitaram a Jesus. É
preciso orar por eles e com eles, sentir a sua dor e oferecer-lhes auxílio
espiritual. No campo de batalha do mundo, o único inimigo verdadeiro é o diabo.
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