OBSERVAÇÃO: O presente texto faz parte do livro "Missão Integral: evangelismo e responsabilidade social na dinâmica solidária do Reino de Deus", de minha autoria. À venda na Amazon
A exortação apostólica Evangelii Gaudium – A alegria do Evangelho – do papa Francisco, ao
episcopado, ao clero, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos sobre o anúncio
do Evangelho no mundo atual, redigida em 2013, é o documento oficial mais
recente da Igreja Católica que trata a respeito do evangelismo e sua dimensão
social. Vamos nos ater à dimensão social da evangelização que transporta a
Igreja para a realidade da Missão Integral. É importante deixar clara essa
dimensão social da evangelização, uma vez que erros de interpretação podem
levar a práticas erradas ou a falta delas. A presente exortação demonstra essa
preocupação do risco de se “desfigurar o sentido autêntico e integral da missão
evangelizadora” (n. 176)[1].
Além
da dimensão social da evangelização, que será exposta na quinta parte deste
estudo, a Evangelii Gaudium expõe a inclusão social dos
pobres. Inclusão social é um termo que deduz uma prática bem mais abrangente
que o assistencialismo social e a própria ação social. Ambas podem ser
praticadas sem a transformação integral que garanta ao pobre a inclusão no
desenvolvimento econômico da sociedade, podendo atuar como protagonista da sua
própria libertação. Muitas ações em favor dos pobres acabam por excluí-los
ainda mais, mantendo-os presos a uma rede de caridade e assistencialismo
castradores e mantenedores da desigualdade social. Sobre isso estudaremos
posteriormente. O que a Missão Integral sugere e que encontra eco na Evangelii Gaudium, é a preocupação com o desenvolvimento integral dos pobres
que “Deriva da nossa fé em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos
pobres e marginalizados” (n. 186).
O
clamor dos pobres
Assim
se expressa a Evangelii Gaudium: “Cada cristão e cada comunidade
são chamados a serem instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção
dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade” (n. 154). O
relato bíblico demonstra de maneira clara a preocupação de Deus pelo seu povo
sofredor. Desde a expulsão de Adão e Eva do paraíso, Deus jamais deixou de
buscar o homem, de demonstrar a sua preocupação amorosa e cheia de misericórdia
para com o seu sofrimento. Quando escrava no Egito, a nação de Israel
experimentou a libertação de Deus, conforme lemos no livro de Êxodo. Mesmo
liberto, o povo ainda clamava, porque seus caminhos se desviavam dos caminhos
de Deus. Então Deus lhes prometeu um salvador (Jz 3:15). Em todas as ocasiões
aprouve a Deus usar pessoas como instrumentos e porta-vozes da sua libertação.
Hoje, a Igreja é o instrumento utilizado pelo Senhor para levar esperança,
cura, libertação e salvação ao mundo perdido e oprimido.
A
vontade de Deus é que socorramos os necessitados. “Ficar surdo a este clamor,
quando somos instrumentos de Deus para ouvir o pobre, coloca-nos fora da
vontade do Pai e do seu projeto” (n. 187). Na primeira parte deste estudo
aprendemos que o cuidado com os pobres glorifica a Deus e que as suas obras
incluem a prática do bem social. Aprendemos, também, que honrar o pobre é
honrar a Deus e que o cristão deve preocupar-se com as misérias humanas, porque
é ministro do Evangelho. O apóstolo João invoca um amor solidário e prático que
ultrapassa a retórica ao afirmar: “Ora, aquele que possuir recursos deste
mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como
pode permanecer nele o amor de Deus?” (1 Jo 3:17). O apóstolo com certeza não
está falando de cuidado com uma alma sofredora, mas com um corpo sofredor.
Recursos deste mundo nada podem fazer por uma alma pecadora, o espírito
abatido, mas podem saciar a fome de pão do miserável. Temos os recursos
espirituais que nos permitem e nos impelem a utilizar nossos recursos deste
mundo para socorrer o irmão que padece necessidade.
A
missão libertadora da Igreja não está restrita a um grupo exclusivo de pessoas,
mas estende-se a todos aqueles que professam a fé em Jesus Cristo e depositam a
sua confiança e esperança na Bíblia. A graça que nos alcançou e libertou,
deseja alcançar e libertar integralmente aqueles que dela necessitam: os
pecadores em seus pecados pessoais e sociais. A Igreja, guiada pelo Evangelho
da Misericórdia e pelo amor a Deus e ao homem, “escuta o clamor pela justiça e deseja responder com todas as suas
forças” (n. 188). Esse “escutar” se transforma numa ação de libertação quando
deixamos apenas de ouvir nas ruas e nos noticiários os apelos por justiça e nos
envolvemos amorosamente com aqueles que dela necessitam. Essa escuta “envolve
tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o
desenvolvimento integral dos pobres, como gestos mais simples e diários de
solidariedade[2]
para com as misérias muito concretas que encontramos” (idem).
Esse
clamor do mundo pode ser um clamor urbano, onde as desigualdades sociais se
agigantam de maneira diversificada (pobreza, drogas, violência, falta de
educação, saúde e saneamento básico), ou pode ser o clamor rural dos sem-terra,
dos seringueiros, dos trabalhadores em situação escrava, dos despojados por
grileiros de terras. Mas também pode ser um clamor planetário: a natureza que
morre pelas mãos do desenvolvimento e do capitalismo voraz, a necessidade de
cuidar da atmosfera, das águas, dos animais. Há muito que ser ouvido. O
tabloide “Grito dos/as Excluídos/as”, nº 59, de abril de 2014, informou:
“Segundo dados do IPEA, divulgados em novembro de 2014, no Brasil, a diferença
entre os mais ricos e os mais pobres é de 175 vezes”. O mesmo tabloide afirmou
que “Dados da ONU afirmam que no mundo há entre 600 e 800 mil pessoas
submetidas a regimes de escravidão”. Além disso, os 10% mais ricos concentram
41,9% da renda, enquanto os 10% mais pobres detêm 1,1% dos rendimentos.
O
planeta é para todos e não somente para alguns privilegiados. A Evangelii Gaudium (n. 190) afirma:
Respeitando
a independência e a cultura de cada nação, é preciso recordar-se sempre de que
o planeta é de toda a humanidade e para toda a humanidade, e que o simples fato
de ter nascido em lugar com menores recursos ou menor desenvolvimento não
justifica que algumas pessoas vivam menos indignamente.
Neste
planeta está a Igreja de Cristo, uma Igreja que congrega algumas das pessoas
que fazem parte daquela porção privilegiada da sociedade, que concentra a maior
parte da renda produzida pelos países. Como corpo de Cristo, a Igreja precisa
posicionar-se em favor dos desfavorecidos. O seu testemunho e envolvimento são
fundamentais. Pessoalmente, cristãos ricos podem agir com amor e liberalidade,
colocando os seus bens ao serviço dos outros. Como denominação, a Igreja deve
dispor de suas riquezas espirituais e materiais para a prática do bem social,
sendo empreendedora do bem de todos. Como cristãos e cidadãos, é o dever de
todos que professam a fé em Jesus Cristo lutar por justiça social. Os líderes,
cheios do Espírito Santo, devem convocar toda a cristandade para essa prática
libertadora de fazer o bem e ao mesmo tempo deixar de fazer o mal. Um estilo de
vida simples e a eliminação da prática generalizada do desperdício evita o
acúmulo de riquezas e a escassez de alimentos para milhões de seres humanos que
tentam sobreviver a baixo da linha da pobreza.
Fidelidade
ao Evangelho
O
Evangelho de Jesus Cristo está acima dos nossos discursos teológicos. Árdua
tarefa é defender uma posição contrária àquilo que o Senhor pregou e realizou.
As críticas à Missão Integral esbarram na vida santa do Senhor Jesus e na sua
constante preocupação com os pobres do mundo, não somente os espiritualmente
pobres, mas, também, os economicamente desfavorecidos. A Evangelii Gaudium
rememora alguns textos imperativos do Novo Testamento, que mostram que a
preocupação pelos pobres é uma questão de fidelidade ao Evangelho (n. 193). A
Igreja não pode ser fiel a Deus e à sua Palavra se não manifestar em suas ações
o amor que Deus deu ao mundo ao sacrificar o seu próprio Filho na cruz.
A
proclamação do Evangelho é a de felicidade para os misericordiosos, porque são
esses que alcançarão misericórdia (Mt 5:7). Aquele que pratica a misericórdia,
por ela será julgado (Tg 2:12,13). O apóstolo Pedro encontra no amor uma ação
revolucionária capaz de cobrir multidão de pecados (1 Pe 4:8). Os pais da
Igreja, como Agostinho, pregaram e viveram dentro dessa perspectiva. A Evangelii Gaudium cita a seguinte sentença de Agostinho (n. 193):
“Tal
como, em perigo de incêndio, correríamos a buscar água para apagá-lo [...] o
mesmo deveríamos fazer quando nos turvamos porque, da nossa palha, irrompeu a
chama do pecado; assim, quando se nos proporciona a ocasião de uma obra cheia
de misericórdia, alegremo-nos por ela como se fosse uma fonte que nos é
oferecida e na qual podemos extinguir o incêndio”.
Oportunidades
de praticar o bem jamais deixarão de existir e atender ao seu apelo demonstrará
nossa fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo, nossa integridade de filhos da
justiça e a coerência entre o que cremos e fazemos. O apóstolo João escreve:
“Amado, não imiteis o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem
procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus” (3 Jo 11). Quem
pratica o mal social senão o sistema capitalista neoliberal mundano? A Igreja
sabe que deve fazer o bem (Tg 4:17), que não deve negligenciá-lo e nele deve
aperfeiçoar (Hb 13:16,21). Cada cristão deve ser encontrado entre aqueles que
são amigos do bem (1 Tm 6:18; Tt 1:8), jamais entre os que são inimigos dele (2
Tm 3:3). Se houver a oportunidade de fazermos o bem, não devemos desperdiçá-la,
mas precisamos nos esforçar incansavelmente para pô-la em prática (Gl 6:9,10).
Paulo fala aos romanos: “Não tomeis a ninguém mal por mal: esforçai-vos por
fazer o bem perante todos os homens” (Rm 12:17). A esse bem devemos nos apegar
ao passo em que detestamos o mal (Rm 12:9). Do túmulo ouviremos a voz do Senhor
que nos chamará para a ressurreição da vida, caso tenhamos praticado o bem (Jo
5:29). Longe de ser salvação pelas obras, esta é a ressurreição daqueles que de
fato compreenderam a natureza do seu chamamento e foram coerentes com ele.
A
coerência não está somente na prática do bem, mas no seu ensino. A hermenêutica
católica oferece fundamentos que testificam a prática da inclusão social dos
pobres por meio da atuação efetiva da Igreja. Para a Evangelii Gaudium, a
mensagem social do Evangelho de Cristo “É uma mensagem tão clara, tão direta,
tão simples e eloqüente (sic!) que
nenhuma hermenêutica eclesial tem o direito de relativizar” (n. 193). A
hermenêutica reformada, por outro lado, tende a relativizar as implicações
sociais do Evangelho, como vimos nas críticas de Little na primeira parte. Essa
relativização separa a alma do corpo e o espiritual do social. Devemos
perguntar: fora do estilo de vida proposto pela Missão Integral de
solidariedade e transformação social, o que resta para a Igreja? Resta um
estilo de vida individualista presente no mundo secular e entre os pagãos,
embora muitos ateus pratiquem a Responsabilidade Social. A Igreja não pode ser
coerente com o mundo, mas com o Evangelho de Cristo. Ela também não pode ocupar
uma posição de neutralidade. Ficar em sina do muro decidindo em fazer ou não
fazer já uma clara decisão pelo não fazer.
O
lugar privilegiado dos pobres
Para
a Evangelii Gaudium (n. 197), existe
um lugar privilegiado para os pobres no povo de Deus e no próprio coração de
Deus, tanto que até Ele mesmo se fez pobre (2 Co 8:9). O caminho da salvação é
assinalado pela existência e participação dos pobres, como a humilde Maria,
escolhida para ser a acolhedora do Messias em seu seio. O nascimento de Jesus
deu-se em meio aos animais, numa estrebaria, rodeado por pobres pastores. A
oferta oferecida por José e Maria pelo nascimento do menino não pôde ser a de
um cordeiro, mas aquela designada para os mais pobres, dois pombinhos. No dia
do Grande Julgamento, o bem que fizemos aos pobres definirá o estilo de vida
que levamos e a verdadeira escolha que fizemos em nosso coração (cf. Mt
25:34-40). Existe um santo motivo para essa preocupação divina com aqueles que
possuem pouco ou nenhum recurso neste mundo. Se os pobres não fossem uma
preocupação para Deus, não teríamos tantos versículos na Bíblia referentes a
eles.
A Evangelii Gaudium afirma que, para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma
categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica (n. 198).
A preferência da Igreja Católica Romana pelos pobres baseia-se nessa
compreensão de preferência de Deus também pelos pobres. Segundo o ensinamento
de Bento XVI, “esta opção ‘está implícita na fé cristológica naquele Deus que
Se fez pobre por nós, par enriquecer-nos com sua pobreza’” (idem). Optar pelo
cuidado com os desassistidos, os humildes e os oprimidos seria, então, uma
prática de fé coerente com a ação misericordiosa do próprio Deus, que enxerga
nos fracos a possibilidade de salvação. Assim, a exortação apostólica conclui (ibdem):
A
nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvítica de suas vidas, e
a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo
neles: não só a apresentar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser
seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria
que Deus nos quer comunicar através deles.
Olhamos
para aqueles que nada possuem e enxergamos as nossas próprias misérias. A
impossibilidade do pobre de prover para si mesmo nos faz lembrar a nossa
pobreza espiritual, onde a salvação não pode ser provida senão pela graça de
Deus. O apóstolo Paulo tinha esta certeza quando, ao confrontar-se com sua
natureza pecaminosa e a impossibilidade de fazer por si só a vontade de Deus,
escreveu: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?.
Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo,
com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do
pecado. Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e
da morte” (Romanos 7:24 a 8:1,2). A sensível diferença é que a nossa nova
natureza nos impele a proporcionar ao pobre, pela evangelização integral, a
oportunidade de conhecer a graça de Deus que provê a sua salvação, e a chance
de prover para si próprio a sua inclusão social, deixando a dependência do
pecado que gera a morte e a da miséria igualmente mortal.
A ação salvítica de
Deus estende-se além do seu sacrifício vicário na cruz: ela se traduz em
relacionamento pessoal conosco. Deus está presente na História, Ele nos busca e
nos encontra, Ele está em nós e no meio de nós. Podemos buscá-lo em oração, na
leitura da Palavra, na sabedoria que enxerga seu agir no mundo. Deus fala
conosco, abriga-nos debaixo de suas asas, toma-nos pela mão e nos conduz em
segurança. Os seus ouvidos estão atentos às nossas dores, os seus pés se
apressam em nos socorrer quando clamamos do mais profundo das nossas misérias,
quando colocamos sob seu Senhorio a nossa vida. De igual modo, a relação da
Igreja com os pobres não pode ser meramente assistencialista, desprovida de coração
e afeto, mas amiga e companheira. “Esta atenção amiga é o início de uma
verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo procurar
efetivamente o seu bem. Isso implica apreciar o pobre na sua bondade própria,
com o seu modo de ser, com a sua cultura, com a sua forma de viver a fé” (n.
199).
O
amor que se revela em atos demonstra para a pessoa amada o valor que ela
possui. É isso que diferencia a autêntica opção pelos pobres: os pobres não são
utilizados para cumprir interesses pessoais e políticos (idem). Da compreensão
da opção pelos pobres depende a pregação do Evangelho em meio a uma sociedade
de mentiras. Segundo a Evangelii Gaudium, “A opção preferencial pelos
pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada
e prioritária” (n. 200). Eles possuem uma especial abertura à fé e por isso
necessitam de cuidado espiritual. Para tanto, ninguém deve excluir-se da
prática do bem para com os pobres, do cuidado pelas suas necessidades. A
Igreja, como despenseira de Deus, deve estar na linha de frente desta
empreitada, oportunizando ao pobre a sua promoção e libertação.
A Igreja é enviada pelo Senhor a um mundo de
desigualdades sociais, urgindo a necessidade de resolver as causas estruturais
da pobreza (n. 202). Na desigualdade reside a raiz de todos os males sociais,
que não podem ser sanados com os programas assistencialistas do governo nem com
medidas paliativas e aprisionadoras. Se a sociedade está indiferente, se o
sistema político e econômico não produz uma preocupação sincera e
transformadora com as causas emergências dos pobres, a Igreja não pode
vestir-se do mesmo sentimento, mas deve viver verdadeiramente para o bem comum
e a justiça social de quê o mundo necessita. O mercado mente de forma
desavergonhada e tenta convencer as pessoas que elas valem o quanto têm,
produzindo uma falsa segurança que aprisiona a todos no consumismo e na mentira
de que podem ser felizes dessa forma.
Cuidar
ou não dos pobres pode significar o fortalecimento ou o fim da comunidade
cristã. As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, mas a sua dureza
de coração e a sua insensibilidade diante das misérias humanas podem torná-la
inoperante, como o sal que não sai do saleiro. A Evangelii Gaudium afirma
(n. 207):
E
qualquer comunidade da Igreja, na medida em que pretender subsistir tranqüila (sic!) sem se ocupar criativamente nem
cooperar de forma eficaz para que os pobres vivam com dignidade e haja a
inclusão de todos, correrá também o risco da sua dissolução, mesmo que fale de
temas sociais e critique os Governos. Facilmente acabará submersa pelo
mundanismo espiritual, dissimulado em práticas religiosas, reuniões infecundas
ou discursos vazios.
Essa
exortação do líder da Igreja romana é, infelizmente, um retrato fiel da atual
situação da Igreja evangélica. Estamos experimentando uma época em que o
mundanismo espiritual (traduzido pela ambição evangélica por bens materiais,
prosperidade financeira e sucesso total), as práticas religiosas vazias
(traduzidas em cultos de cura e libertação, sessões de descarrego, amuletos e
superstições), as reuniões infecundas (traduzidas em celebrações litúrgicas e
eventos desprovidos da verdadeira adoração, cuja essência é antropocêntrica) e
os discursos vazios (traduzidos em pregações e ensinos sem fundamentação
bíblica, ou o que é pior: com deturpação do texto bíblico), tem sido o modus vivendi e o modus operandi dos que se declaram “crentes”.
Embora existam igrejas verdadeiramente cristocêntricas e fundamentadas na
Bíblia, mesmo essas carecem de uma revisão teológica que as coloque em contado
amoroso com os pobres.
[1] Este capítulo e o capítulo “A dimensão
social da evangelização”, na parte três, foram inseridos após a conclusão deste
estudo. A exortação apostólica Evangelii
Gaudium, do papa Francisco (2013),
chegou ao meu conhecimento recentemente. Ao ler os seus textos, percebi
bastante semelhança com a doutrina protestante da Missão Integral e aquilo que
eu já vinha debatendo aqui. Estudá-la é importante para apreendermos outros
ensinamentos que possam somar-se ao ideal buscado de Evangelho Integral,
demonstrando o pensamento de outra corrente do cristianismo e a sua prática,
que deveria ser também uma prática das igrejas reformadas. Os documentos
oficiais da Igreja Católica possuem parágrafos numerados para facilitar a sua
leitura e estudo, que são os números que aparecem entre parênteses.
[2] Na parte dois encontra-se o tema
“solidariedade” mais aprofundado.
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