Tenho postado
alguns textos nas redes sociais para debate com temas importantes para os
cristãos. O que percebo nos comentários que são feitos, é que as pessoas em
geral não sabem utilizar as Escrituras para confirmar as suas crenças. A grande
maioria se atém a textos isolados e fora de contexto para defender o seu ponto
de vista. Por isso decidi publicar este breve estudo. Eis algumas regras que
você precisa saber para compreender um texto bíblico e antes de dizer que a
Bíblia afirma tal coisa.
A regra áurea: a
Bíblia é a sua própria intérprete
Se você é católico, deve saber que a
Bíblia não é a sua única regra de fé e prática cristãs e que o catolicismo
romano possui duas outras fontes da Revelação divina que consideram igualmente
inspiradas, no mesmo nível da Bíblia: a Tradição e o Magistério. O dogma da
imaculada conceição de Maria, por exemplo, não está expresso na Bíblia, mas faz
parte de uma tradição que se estendeu pelos séculos e que acabou por ser
sancionado pelo Magistério da Igreja como ponto digno de fé, parte da Revelação
de Deus. Mas se você é um cristão reformado, protestante, entende que a Bíblia
é a única Revelação de Deus, a sua Palavra final, suficiente, perfeita e
inerrante. Assim, ao estudar a Bíblia, você deverá buscar sempre compreendê-la
a partir dela mesma, daquilo que está escrito. Algumas ciências, como a
Arqueologia, a História e a Geografia podem nos ajudar a elucidar melhor
algumas passagens, mas sem jamais abandonar o contexto em que foram escritas.
As coisas espirituais devem ser comparadas
com as espirituais (1 Coríntios 2:13), que são as palavras escolhidas pelo
Espírito Santo para falar acerca da Revelação de Deus. A Lei perfeita de Deus (cf.
Salmo 19:7), de onde nada se pode tirar ou acrescentar (cf. Apocalipse 22:19),
basta para nortearmos a nossa fé e averiguar a veracidade dessas doutrinas. O
texto de 2 Timóteo 3:14-17, enfatiza a interpretação da Bíblia através dela
mesma como uma forma correta de ensino do crente. O apóstolo Paulo exorta
Timóteo a permanecer naquilo que aprendeu, não por meio de uma Tradição oral,
mas nas “sagradas letras”. Estas sagradas letras são divinamente inspiradas e
nelas, seguindo a tradição judaica, os meninos começavam a ser formalmente
instruídos no Antigo Testamento quando chegavam aos cinco anos. Embora o
judaísmo tenha criado outras escrituras para darem suporte à sua própria
interpretação da Bíblia, como o Talmude, a Escritura, cujos manuscritos
originais foram inspirados diretamente por Deus, eram as Escrituras aptas para
a ministração na verdade, a repreensão do mal, a correção e o ensino da maneira
certa de viver. A Bíblia fala por si própria e o ensino baseado nela é
suficiente para a educação cristã. Quando se ultrapassa o que nela está
escrito, surgem as heresias e as cobranças indevidas de formas de piedade
baseadas na cultura e na mentalidade dos povos.
Primeira regra: tomar
as palavras em seu sentido usual, comum
Quando o intérprete se depara com um texto
bíblico, ele deve ter em mente que ele não foi escrito em sua língua, mas em
outros idiomas. Algumas palavras utilizadas pelos autores bíblicos tiveram
sentido para quem as escreveu o os seus leitores na época em que o texto fora
escrito. Assim, quando lemos qualquer palavra na Bíblia, precisamos entender o
sentido que ela carrega no texto e no contexto original em que foi escrita.
Conforme veremos mais adiante, uma mesma palavra pode ter sentidos variados,
dependendo do autor que a escreveu, da sua época, do contexto histórico e do
contexto de ideias que ele pretendia transmitir naquele momento.
Um erro corrente até mesmo nas
traduções da Bíblia é a escolha errada de palavras para substituir termos
bíblicos que no nosso contexto possuem um significado diferente. Por exemplo,
aquilo que hoje traduzimos como “coração”, no texto hebraico significa as
entranhas, literalmente as nossas tripas. Na nossa cultura porém, é do coração
que brotam as emoções, assim como os judeus faziam alusão às entranhas. Mas o
sentido é preservado. Embora existam textos escritos na mesma época das
escrituras que contenham as mesmas palavras, para compreendermos o sentido
daquilo que a Bíblia nos diz, é nela mesma que devemos nos basear. A palavra
“evangelho”, por exemplo, não é de origem cristã, mas era corrente na época em
que os textos bíblicos foram escritos e significa “boa-nova”. Mas para sabermos
que boa-nova é essa, devemos consultar as Escrituras.
Tendo-se o cuidado para não tomar a palavra
ao pé da letra, mas buscando os modos próprios de expressão de cada idioma
(Lund e Nelson), é necessário buscar sempre o sentido literal dos termos.
Alguns textos podem nos soar estranhos, como Lucas 14:26 ou Mateus 10:37, mas o
estudo do idioma e do contexto sempre nos levarão a uma correta interpretação
da Bíblia. Compare-se, por exemplo, os diversos significados, em diversos
textos e contextos diferentes, das palavras “mundo” e “carne”; ou das palavras
“salvação”, “confiança”, “fé”. Ou mesmo de “obras” em dois contextos: a
teologia paulina da justificação pela fé e a epístola de Tiago, irmão de Jesus.
Segunda regra: tomar
as palavras dentro do conjunto da frase
Conforme o exemplo dado no último parágrafo,
existe uma diferença entre “obras” nas teologia paulina e na epístola de Tiago.
Se nos atermos apenas a um dos sentidos, o outro se perde e nossa exegese
jamais poderá ser correta. O pensamento do autor ao escrever a frase é que
determina o seu significado no texto. Ainda que um termo seja complexo e de
difícil compreensão, estudando-o em seu contexto literal podemos chegar a uma
ideia correta do que o autor estava dizendo aos destinatários originais e o que
Deus está nos dizendo hoje.
Uma palavra que podemos estudar é “graça”. As
traduções católicas da Bíblia procuram enfatizar a palavra “graça” utilizada
pelo anjo ao anunciar a Maria que ela havia sido escolhida para ser a mãe do
Salvador da humanidade (Lucas 1:28). A Edição Pastoral da Bíblia Sagrada, pela
editora Paulus (ed. 2003), traz a seguinte tradução: “Alegra-te, cheia de graça!”.
Como vimos anteriormente ao estudarmos sobre o dogma da Imaculada Conceição,
não existe possibilidade nem necessidade de Maria ter sido concebida sem a
macha do pecado original. Todavia, o texto áureo do dogma da imaculada
conceição de Maria repousa sobre este versículo mal traduzido e mal
interpretado pelos biblistas católicos.
O contexto da frase em Lucas 1:28 não dá
margem para essa compreensão equivocada, mas acentua a graça inigualável com a
qual Maria iria ser contemplada: a de ser mãe do Salvador. O termo original
grego (favorecida), significa conceder graça, no sentido de mostrar favor a
alguém; no caso deste versículo, significa um “favor divino para uma vocação
especial” (Rienecker e Rogers). A graça não estava na sua imaculada conceição,
mas no favor de Deus sobre sua vida. Graça sempre estará mostrando a ação
graciosa de Deus a nosso favor, seres destituídos da sua glória e carentes de
salvação, como em Efésios 2:8,9. Em Atos 4:13, porém, ela significa a pregação
do evangelho. Em outros textos, como Tito 2:11, graça faz referência que Cristo
trará na sua vinda. Já em Hebreus 13:9, graça significa as doutrinas bíblicas.
Quanto a esta regra, Lund e Nelson (p. 46, 47) afirmam que “a presente regra
tem importância especial ao determinar se as palavras devem ser tomadas no
sentido literal ou no sentido figurado. Para não cometer erros, é muito
importante, também nesse caso, deixar-se guiar pelo pensamento do autor e tomar
as palavras no sentido indicado pelo conjunto do versículo”.
Terceira regra: tomar
as palavras no sentido indicado em todo o texto
É preciso lembrar que a Bíblia é também um
texto humano e segue as regras comuns de escrita de um texto. Ela contém
elementos linguísticos e literários, como figuras de linguagem que determinam o
sentido das palavras e das ideias dos autores. O sentido verdadeiro do texto bíblico
está inserido na Bíblia. Os teólogos católicos não se importam em buscar na sua
Tradição e nos escritos dos Pais da Igreja algo que corrobore com algumas de
suas doutrinas e dogmas. Anteriormente falamos a respeito da diferença entre o
emprego de palavra “obra” na teologia paulina da justificação pela fé e na
epístola de Tiago. Para o cristão reformado, a Bíblia não pode cair em
contradição nem dar margem a interpretações equivocadas. O catolicismo, porém,
admite que a Bíblia está aberta a articulação de novos significados
(polissemia), colocando textos de diferentes visões e épocas em um
macrocontexto, ocasionando a passagem da intertextualidade
para a intratextualidade (Murad,
2009). Com isto, Murad faz uma ponte entre Paulo (cf. Romanos 1:17,28) e Tiago
(cf. 2:14-26) para afirmar que “o ser humano é justificado pelas obras, não
simplesmente pela fé” (p. 88).
Quarta regra:
considerar o objetivo ou desígnio do texto ou do livro ou passagem em que
ocorrem as palavras ou expressões obscuras
Costuma-se brincar com as pessoas que usam a
Bíblia como se ela fosse um talismã, abrindo-a em qualquer página e apontando o
dedo para ver o que Deus está falando para elas naquele instante. Abrem a
Bíblia, fecham os olhos e apontam um ponto qualquer em busca de uma direção de
Deus para suas vidas. E o dedo para em Mateus 27:5, que diz: “Então, Judas,
atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se”.
Não satisfeitos com o resultado, executam o mesmo procedimento e apontam para
Lucas 10:37, bem no final do versículo, onde Jesus diz: “Vai e procede tu de
igual modo”. Esta é uma anedota que denuncia a maneira equivocada como as
pessoas se utilizam da Bíblia, buscando nela somente aquelas partes que lhe
interessam, dando a essas partes a sua própria interpretação, sem levar em
conta todo o contexto no qual elas estão inseridas. E também é um dos métodos
adotados pelos teólogos marianos para criarem suas doutrinas.
Além de nos proporcionar um conhecimento mais
profundo, estudar as passagens aparentemente contraditórias nos traz a verdade
por trás do texto bíblico. Em que ocasião o texto estudado foi escrito? Quais
eram, por exemplo, as circunstâncias que levaram Jesus dizer a Maria: “Mulher,
que tenho eu contigo?” (João 2:4)? Será que a recusa de Jesus em dar atenção à
sua mãe e aos seus irmãos (cf. Mateus 12:46-50; Marcos 3:31-35), demonstrou uma
falta de respeito e de amor do Senhor? A tarefa de interpretação da Bíblia deve
levar em conta a sua totalidade, comparando palavras, textos e doutrinas com
outras encontradas dentro da própria Bíblia para que se chegue a um consenso.
Quando a Bíblia se cala com relação a alguma assunto, não significa que ela não
o condena ou o apoia (p. ex.: o uso de camisinha, a eutanásia, a clonagem de
seres humanos), por isso tais assuntos precisam ser tratados com bastante
cuidado.
Quinta regra,
primeira parte: consultar as passagens paralelas
Quando
as palavras não nos trazem o sentido claro do texto ou nos apresenta mais de um
sentido, devemos consultar toda a frase. Se encontrarmos mais sentidos
variados, é necessário estudar todo o contexto da passagem. Quando este ainda
não é suficiente, é preciso examinar o desígnio ou o objetivo geral da passagem
ou do livro em questão. E se mesmo assim nossas perguntas ainda não forem
respondidas, devemos buscar o sentido em outras partes das Escrituras,
comparando doutrinas, relacionando textos, interpretando a Bíblia sempre do
ponto de vista dela mesma.
A hermenêutica reformada, por mais que se
reporte a diversos teólogos para explicar algumas passagens da Bíblia – como
também fazemos aqui – entende que a verdade não está lá fora, mas lá dentro, na
Palavra de Deus. Homens que interpretam a Bíblia devem possuir autoridade
espiritual e técnica para tal, a mesma que todos os que possuem o Espírito
Santo devem possuir, sendo a segunda, fruto de muito trabalho e esforço, sempre
sob a guia do Espírito Santo. Para o catolicismo romano não é assim. Às
passagens de difícil compreensão, basta os estudos dos santos e dos Pais da Igreja,
mesmo que a sua compreensão dos textos bíblicos extrapolem o seu sentido ou
contradiga-o.
A quinta regra nos ensina a buscar passagens
paralelas às que estamos estudando para que cheguemos a um sentido correto do
texto. Elas devem fazer referência umas às outras, ter relação entre si e
tratar do mesmo assunto (Lund e Nelson). Esta atitude nos traz conhecimento
mais exato e profundo acerca das doutrinas cristãs e podem nos revelar muito sobre
o estudo da mariologia. Um texto tomado isoladamente não pode fornecer uma base
sólida para uma doutrina. Por exemplo, como o catolicismo crê na comunhão dos
santos e na salvação como um ato coletivo, onde a nossa salvação pode salvar
outra pessoa (a salvação dos pais também seve para as criancinhas), o texto de
Atos 16:31, onde Paulo diz ao carcereiro “Crê em Jesus Cristo e serás salvo, tu
e tua casa”, parece dar vazão a essa doutrina. Mas o contexto nos mostra algo
diferente, isto é, depois que o carcereiro creu, toda a sua casa também creu,
de modo que cada um foi salvo por sua própria fé (cf. vs. 32-34). Se fôssemos
buscar outras partes da Bíblia que comprovassem a doutrina da salvação comum
idealizada em Atos16:31 pelo catolicismo romano, não a encontraríamos. Isto é,
teríamos um único texto capaz de supostamente sustentar tal doutrina. Em todo o
livro de Atos (cf. 4:12; 10:43; 13:39) e em toda bíblia (cf. João 3:16, 36; Efésios 2:8,9) a
salvação é pessoal e através da fé.
Lund e Nelson afirmam a necessidade de se utilizar
a interpretação textual montando um paralelo de palavras. Isto pode ocorrer em
duas situações dentro das doutrinas marianas: o termo “graça” e seus
significados em diferentes textos e contextos; e o termo “irmão” e seus
paralelos, conforme já estudado. Outro fator citado é que o sentido das
palavras podem mudar de acordo com o autor do texto estudado, a época em que
ele foi escrito e o seu contexto. Uma mesma palavra pode expressar sentidos
diferentes, como “obras”, “carne”, “mundo”. Onde encontrar outros paralelos que
confirmem que “muito favorecida” significa “cheia de graça”, isto é, isenta do
pecado original, em outras partes da Bíblia? Que outros textos paralelos, além
de João 2:5, poderiam nos dar a certeza que Maria está demonstrando seu múnus intercessor
e mediador entre Deus e os homens? Eles simplesmente não existem.
Quinta regra, segunda
parte: paralelo de ideias
A quinta regra da hermenêutica vai direto ao
âmago da doutrinação e da dogmática marianas, por exemplo. Muito além dos
paralelos entre palavras e textos, é necessário o paralelo entre ideias de um
mesmo autor ou de toda a Bíblia. Lund e Nelson escrevem:
Para atingir uma idéia (sic!) completa e exata do que ensinam as
Escrituras, nesse ou naquele determinado texto, obscuro ou discutível, não
apenas são consultadas as palavras paralelas, mas também os ensinos, as
narrativas e os fatos contidos em passagens ou textos elucidativos que se
relacionam com o texto obscuro ou discutível.
Examinemos o texto de Lucas 1:34,35,
onde o anjo anuncia o nascimento de Jesus a uma virgem chamada Maria. Note-se
que, ao contrário de Zacarias (1:18), Maria não esboçou qualquer dúvida quanto
ao que o anjo lhe havia dito, mas apenas quis saber como sua gravidez
ocorreria, uma vez que ela não tinha relação com homem algum. Que Maria era
virgem quando concebeu de Jesus é doutrina aceita por católicos e protestantes.
Mas com base neste texto, a Igreja católica afirma que Maria era virgem antes
do parto, foi virgem durante o parto e permaneceu virgem perpetuamente após o
parto. Como extrair de Lucas 1: 34,35 tal doutrina? O texto realmente diz isso?
Que outros textos paralelos podemos consultar para afirmar a virgindade
perpétua de Maria? Embora tais textos não existam, é neste mesmo contexto que
os teólogos católicos se baseiam para insistir que estava nos planos de Maria
consagrar-se totalmente a Deus e permanecer virgem. Todavia, o texto afirma que
Maria já estava desposada com José – o que na cultura judaica significava o
noivado como já um contrato de casamento. Isto significa que ela iria casar-se
um dia com ele. Se sua virgindade já estava consagrada a Deus, por qual motivo
ela se casaria?
Quinta regra,
terceira parte: paralelos de ensinos gerais
Quando o paralelo com as palavras e as ideias
expressas nos textos estudados não são suficientes para nos esclarecer
determinadas passagens, deve-se recorrer ao ensino geral das Escrituras. Esse
tipo de paralelo encontra-se na própria Bíblia. Eles foram abundantemente
usados por Jesus ao falar a respeito da sua missão, da sua divindade, da sua
morte e ressurreição. A doutrina da justificação pela fé defendida por Paulo na
epístola aos romanos, é confirmada por toda a Bíblia, desde Gênesis até o
Apocalipse. A verdades acerca de Deus, de Jesus Cristo e do Espírito Santo
podem ser observadas em numerosas passagens bíblicas. Os textos que nos são
obscuros e às vezes parecem se contradizer, encontram sua explicação nos
ensinos gerais da Bíblia. Eis um exemplo: em Romanos 3:10 lemos que “Não há
justo, nem um sequer”, mas em Gênesis 6:9 Noé fora chamado de “homem justo”,
bem como Ló, em 2 Pedro 2:7 e José, em Lucas 23:50. Então o homem pode ser
chamado justo? Isto deve ser visto à luz da doutrina geral da justificação,
onde vemos claramente que é Deus quem justifica o pecador (cf. Romanos 5:19; 2
Crônicas 6:23; Deuteronômio 25:1; Isaías 45:25; Romanos 5:1; Gálatas 3:8; Tito
3:7).
A importância de consultar esses paralelos é
para ver se tal palavra deve ser levada ao pé da letra ou no sentido figurado
(Lund e Nelson). Jesus nos diz que é a porta e sabemos que ele não é uma porta
literal. Estudando os paralelos e o sentido das figuras de linguagem da Bíblia,
entenderemos o que Ele quis dizer com isso. Também somos chamados de ovelhas,
de sal e luz. O sentido destas figuras na Bíblia nos dará uma visão correta do
texto. Do contrário, se levarmos tudo em seu sentido literário, sem
identificarmos a intenção do autor no texto, acabaremos na criação de heresias.
A seguinte explicação de Lund e Nelson (p. 86, 87), além de nos esclarecer o
que estamos afirmando, vislumbram um pouco dos problemas causados pela exegese
bíblica católica:
Muitos se distraem ou se contentam
formando castelos de doutrinas sem fundamento, rebuscando e comparando tais
figuras ou símiles, tirando conseqüências (sic!)
ilícitas, e mesmo contrárias às Escrituras. O espírito humano parece encontrar
gosto especial em semelhantes fabricações caprichosas e jogos de palavras. E
isso apenas ressalta a necessidade de estudar as figuras com moderação especial
e sempre com toda a seriedade.
O estudioso da Bíblia precisa estar
atendo às suas figuras e símbolos para poder formar uma teologia correta. Mais
adiante voltaremos ao tema. É necessário, ainda, entender que na língua
original da Bíblia – hebraico, aramaico e grego – nem sempre as palavras e
expressões possuem apenas um sentido, mas vários. Com exceção de Lucas, todos
os escritores do Novo Testamento eram judeus que se expressavam através da
língua grega. Acostumados a falar um dialeto hebraico chamado aramaico, eles
tinham de expressar-se numa outra língua de outra cultura. O grego utilizado na
escrita do Novo Testamento foi o koinê, que
significa “comum” e já sofria influência do latim, língua utilizada pelo
Império Romano. Imaginemos judeus com vários graus de instrução expressando-se
numa língua que não era a sua usual, tendo que adequar vocabulários e
expressões. Agora, imaginemos isso transportado para a nossa língua e a nossa
cultura.
Bibliografia
LUND,
E.; NELSON P. C. Hermenêutica: princípios
de interpretação das Sagradas Escrituras. São Paulo: Vida Acadêmica, 2007.
MURAD, Afonso. Maria, toda de Deus e tão humana. São
Paulo: Paulinas, 2009.
Observação:
Adaptado do livro “Desvendando o segredo de Maria:
estudos apologéticos sobre mariologia”, da minha autoria.
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