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Santidade na Igreja Católica Romana
O
que lhe vem à mente quando você ouve a palavra “santo” ou quando alguém lhe diz
que fulano de tal é “santo”? Com base na cultura católica vigente no nosso
país, falar em santo significa falar de alguém que já morreu, acima de tudo uma
personagem católica que viveu uma “vida santa” e piedosa, praticou boas obras,
viveu em estado de pobreza, foi humilde, foi serva de Deus e da igreja católica
ou foi martirizada, como os mártires de Cunhaú e Uruaçú, no Rio Grande do
Norte. Além disso, além de terem vivido essa vida santa, após a sua morte, para
que sejam chamados de “santos” e mereçam a veneração dos seus fiéis, essas
personagens precisam ter alguma graça alcançada em seu nome, comprovada pelo
Vaticano. Alguém precisa ter sido curado ou alcançado outro tipo de milagre
comprovadamente após ter invocado a sua intercessão.
Devido
a essa crença, ninguém pode ousar se autodenominar “santo”, sob o risco de
parecer arrogante ou blasfemo. Você pode ser uma pessoa de grandes qualidades
espirituais, mas ser “santo” não é para muitos. É preciso muito esforço,
abnegação, altruísmo, sacrifícios. A igreja católica não nega a santificação do
crente pela graça de Deus em Cristo, como também não nega a necessidade que
todos temos de nos santificarmos diante de Deus. Mas os santos propriamente
ditos, aqueles que poderiam dizer de si mesmos “Eu sou santo”, são aqueles que
a igreja declara a sua canonização. Esses santos, por sua vida de santidade,
merecem regalias que os santos vivos não têm acesso. Assim ensina o Catecismo
da Igreja Católica (n. 828):
Ao
canonizar certos fiéis, isto é, ao
proclamar solenemente que esses fiéis praticaram heroicamente as virtudes e
viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder do Espírito
de santidade que está em si e sustenta a esperança dos fiéis, propondo-os como
modelos e intercessores.
Após
devidamente canonizado pela igreja, este santo ou santa poderão não somente ser
invocado pelos fiéis, como também venerados, cultuados, festejados, inclusive
as suas imagens e relíquias, podendo essas imagens serem expostas à veneração
popular. Assim ordena o Vaticano II (n. 706):
Os
Santos sejam cultuados na Igreja segundo a tradição. Suas relíquias autênticas
e imagens sejam tidas em veneração. Pois as festas dos santos proclamam as
maravilhas de Cristo operadas em Seus servos e mostram aos fiéis os exemplos
oportunos a serem imitados.
Além
do inconveniente de expor imagens de pessoas à adoração pública, que, muito
embora a igreja católica previna esse comportamento e o condene, mas que acabam
virando objetos de idolatria, existe outro inconveniente por trás da
canonização dos mortos. Isto cria uma casta de seres humanos especiais que
parecem estar acima dos simples mortais. Apesar de afirmar que a vida santa dos
homens e mulheres canonizados possui relação com a atuação de Deus, não é isso
que fica patente. Praticar algo heroicamente demonstra claro mérito nas obras
que eles praticaram. Isto é, seus esforços heroicos permitiram que esses santos
vivessem fielmente. Em suma, o seu processo de santidade foi algo que contou
com sua participação ativa, com seus méritos, seus esforços, seus atos, suas
ações.
Muito pior é o fato
de eles, por terem vivido uma vida santa, merecerem cultos e festas, merecerem
a confecção de imagens de escultura de sua pessoa e a adoração aos seus objetos
pessoais ou aos seus restos mortais. Ainda mais terrível: eles são chamados de
santos porque, por sua intercessão, algum milagre foi realizado entre os vivos.
Além de apoiar a crença na comunhão dos santos – que envolve também as
indulgências, o purgatório, as missas – o conceito de santidade da igreja
católica romana aproxima os fiéis das práticas espíritas de consulta aos mortos
e das práticas pagãs de adoração e deuses e entidades espirituais, guias ou
animais, como os atos e a vaca. Em meio a tudo isso, a ideia bíblica de
santidade fica completamente distorcida e perdida em meio a tantos equívocos.
Existem
muitos motivos para essa doutrina católica de santidade e canonização. Em
primeiro lugar há o conveniente de manter o controle sobre o Espírito Santo e
sobre os fiéis. Como vimos na citação do Catecismo, o poder do Espírito de
santidade está na igreja católica. Da mesma forma como não há salvação fora da
igreja católica, longe dela também não pode haver santos ou santidade. Em
segundo lugar está o equívoco teológico, hermenêutico, e este proposital. Vê-se
um pequeníssimo exemplo desse equívoco no próprio Catecismo, que absurdamente
prevê “A purificação final ou purgatório” (1030), com as seguintes palavras:
Os
que morreram na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente
purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua
morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar
na alegria do Céu.
A
ideia absurda da existência do purgatório parte primeiramente de uma
interpretação equivocada de Mateus 12:32, que afirma: “Se alguém proferir
alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém
falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem
no porvir”. Ao que o Catecismo declara (n. 1031): “Desta afirmação podemos
deduzir que certas faltas podem ser perdoadas no século presente, ao passo que
outras, no século futuro”. Certamente não foi isso que Jesus falou e em
qualquer parte da Bíblia vemos esse ensino equivocado dos papas. Essa “dedução”
é uma interpretação forçada. O que o texto bíblico diz claramente é que não
existe perdão pela blasfêmia contra o Espírito, mas não deixa margem para
afirmar-se que outros pecados podem ser perdoados no porvir, acima de tudo após
a morte do pecador.
Em
primeiro lugar, com relação aos crentes, isto é, os que sinceramente se
converteram a Jesus Cristo pela graça de Deus, por meio da fé, já têm todos os
seus pecados perdoados e não sofrerão condenação alguma (cf. Romanos 8:1). Em
vida já aceitaram a Jesus e podem descansar em paz na esperança da glória
futura. Em segundo lugar, a existência do purgatório e a sua relação com a
santidade dos fiéis suscitam algumas questões: Então o sangue de Cristo não nos
purifica de todo pecado? Ser lavado e remido no sangue do Cordeiro não é
suficiente para nos levar seguros até a morada celestial por Ele preparada para
seus fiéis? Então a santidade e a purificação, além de serem meritórios, podem
ser transferidas mediante as boas obras de terceiros? É preciso buscar
respostas na Bíblia.
2
A verdadeira santidade
Para o protestantismo, vale aquilo que a
Bíblia apresenta em seu conteúdo inefável sobre o tema, independente do que reza
a Tradição católica romana. A princípio é preciso saber que somente é possível
alcançar a santidade enquanto vivos, pois após a morte segue-se o juízo
(Hebreus 9:27). Esta santidade não exclui o pecado da vida do cristão, pois ele
continuará habitando em um corpo sujeito ao erro, com um coração sujeito às
mais diversas tentações. Mas a sua santidade, o seu compromisso com Deus é que
dirá que tipo de caráter ele possui: carnal ou espiritual. Se carnal, certamente
necessitará ainda de crescimento espiritual, o que lhe é dado através do Santo
Espírito, o mesmo que santifica.
2.1 Natureza da
Santificação
“Santificação”, “santidade” e
“consagração” são sinônimos, bem como “santificar” e “santos”. Mas o que
significa “santo”? Significa que a pessoa tem uma vida espiritual acima da
média geral? Significa que a pessoa não mais comete pecados? Conforme podemos
ver através de toda a Escritura, a palavra “santo” tem cinco sentidos:
1.
Separação: “Ser santo” significa
“ser separado”. Quando nos tornamos filhos de Deus através da fé em Cristo
Jesus, somos separados do mundo por Deus para servir a Ele. Esta santidade
reflete a Santidade de Deus, que está separado de tudo aquilo que diz respeito
ao mundo. É isto que simboliza o batismo: separação do mundo, um novo
nascimento. A santidade de Deus demonstra ainda a sua perfeição moral, e o
santo, ainda que pecador, busca viver esta perfeição através da prática dos
mandamentos de Cristo, movido pelo Espírito Santo.
2.
Dedicação: Aquele que é separado
é separado para alguma coisa, algum fim. O santo é separado do mundo para
dedicar-se a Deus, à prática da sua Palavra. Lemos em Efésios 2:8-10 que somos
salvos com um propósito: dedicar-nos à obra de Deus, por meio de Cristo. Como
dedicar-nos ao serviço de Deus estando mortos? Para o catolicismo romano os
santos continuam sua “caridade” no céu intercedendo pelos que ainda peregrinam
na Terra, olhando por eles e auxiliando-os em suas fraquezas e problemas. Mas
essa é uma doutrina que não existe na Bíblia.
3.
Purificação: Aquele que se dedica
a Deus deve estar limpo, da mesma forma que era limpo tudo aquilo que, na
Antiga Aliança, seria usado para o serviço divino. Somos santificados na medida
em que o caráter de Deus age sobre o nosso, tornando-nos participantes da sua
natureza. Limpeza não significa santidade, mas é uma condição para ela. Não
podemos nos aproximar de Deus sem estarmos purificados. E quem nos purificará?
No Antigo Testamento os objetos para uso no altar eram purificados através de
azeite (Êxodo 40:9-11). A nação de Israel necessitava de sacrifícios para ser
purificada de seus pecados (Êxodo 24:8; Hebreus 10:29). Mas estes sacrifícios
da Antiga Aliança foram aperfeiçoados em Jesus Cristo, através do seu sangue
derramado para nos santificar (Hebreus 13:12). Deus Pai nos santifica em tudo
(1 Tessalonicenses 5:23) para um sacerdócio espiritual (1 Pedro 2:5) pela
mediação de seu Filho, Jesus (1 Coríntios 1:2,30; Efésios 5:26; Hebreus 2:11),
por meio da Palavra (João 17:17; 15:3), do sangue (Hebreus 10:29; 13:12) e do
Espírito Santo (Romanos 15:16; 1 Coríntios 6:11; 1 Pedro 1:2). Esta purificação
é interna e não se dá através de rituais com água benta, incenso ou
mortificações. É operada pelo Espírito Santo e não pelas mãos do sacerdote.
Isto significa que o Espírito da Nova Aliança substitui de maneira perfeita e
definitiva o ofício do sacerdócio da Antiga Aliança.
4.
Consagração: Aquele que se
santifica é consagrado a Deus, isto é, vive uma vida santa e justa. Enquanto a
justiça representa uma vida regenerada em conformidade com a lei divina, a santidade aponta para uma
regeneração em conformidade com a natureza
divina (1 Pedro 1:15). Aqueles que são declarados santos (Hebreus 10:10) são
exortados a seguir a santidade (Hebreus 12:24); aqueles que foram
purificados (1 Coríntios 6:11) são
exortados a purificar-se a si mesmos (2 Coríntios 7:11). Isto quer dizer que
consagração é uma busca constante pela perfeição; é um viver sempre em acordo
com a Palavra de Deus. Quer dizer também que um indivíduo não pode pretender
esta purificação após a sua morte, através do purgatório, como se este lugar
substituísse o mover do Espírito Santo no coração do homem.
5.
Serviço: Através da
santificação da Nova Aliança, nos tornamos sacerdócio
real, nação santa e por isso
devemos oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus (1 Pedro
2:9,5); sacrifício de louvor (Hebreus 13:15) e sacrifícios vivos sobre o altar
de Deus (Romanos 12:1). Se somos servos de Deus não devemos permanecer apenas
como crentes nominais, como milhões de católicos e evangélicos, mas nos colocar
a disposição do seu serviço (Atos 27:23). Este sacrifício não é o “sacrifício
eucarístico”. Neste último oferece-se a Deus o sacrifício de seu Filho
perpetuamente, outro equívoco católico.
2.2 O tempo da
santificação
Uma das maiores críticas aos
protestantes é que, assim que se convertem, “acham que já são santos”. Antes
viviam uma vida dissoluta, em bebedeiras e orgias sexuais, agora “só querem ser
santos”. As pessoas que assim acusam os crentes protestantes, dizem que todos
são pecadores e que não existe nenhum santo. Realmente, nenhum crente com o
mínimo de conhecimento bíblico negará o fato de que todos somos pecadores
(Romanos 3:23). Mas nenhum também se negará em dizer Sou santo em Cristo Jesus. E esta santificação não ocorre num tempo
que se chama pós-morte, mas num tempo que se chama agora! É o que podemos ver a
seguir.
1.
Santificação
posicional e instantânea: O apóstolo Paulo descreve a todos os crentes como a “santos” e como já santificados (1
Coríntios 1:2; 6:11), embora muitos deles insistissem em viver ainda uma vida
carnal (1 Coríntios 3:1; 5:1,2,7,8), distante do ideal de Deus e da vocação
santa à qual foram chamados. Esta santificação é outorgada ao cristão no
momento da sua conversão, assim como a salvação. Não é algo a ser conquistado
através de caridade e operações de milagres, mas provém do sacrifício de Cristo
na cruz. Caridade qualquer pessoa pode fazer, mesmo sem crer em Deus e por
motivos mesquinhos; milagres também.
2.
Santificação prática
e progressiva:
A separação inicial é apenas o primeiro passo de uma vida de santidade dedicada
a Deus e a sua obra. Desta separação para Deus em Cristo Jesus surge a
responsabilidade de um viver condizente com a fé que é professada. Mas não
progredimos até alcançar a
santificação; progredimos na
santificação da qual nos tornamos participantes em nossa conversão. Esta
santificação é posicional, pois
envolve mudança de posição (de pecador a adorador) e prática porque ela exige uma maneira santa de viver. O crente
carnal (1 Coríntios 3:3) é convocado à purificação até alcançar a perfeição.
Aqueles que foram tratados como santificados e santos (1 Pedro 1:2; 2:5) são
exortados a serem santos (1 Pedro 1:15). Quando nos convertemos, morremos para
o pecado (Colossenses 3:3) e portanto devemos mortificar nossos membros
pecaminosos (Colossenses 3:5). Se nos despimos de velho homem (Colossenses 3:9)
devemos nos revestir do novo (Efésios 4:22; Colossenses 3:8).
2.3 Meios divinos da
santificação
Como vimos no início, a igreja
católica romana impõe algumas condições para que a pessoa possa ser chamada de
santa. Normalmente são considerados santos, por esta doutrina infundada,
somente aqueles que já morreram e foram canonizados. Em vida certamente foram
pessoas piedosas, viveram uma vida casta, dedicada ao próximo e desapegada das
coisas mundanas. Mas até mesmo os muçulmanos, que não professam a mesma fé que
nós, podem viver assim, ou os espíritas, os ateus. A santidade não é algo que
façamos por merecer, não é uma condição que depende de nossos esforços e obras
de caridade. Também não é santo aquele que é piedoso. Muitos piedosos são
ateus. Santidade é algo que parte de Deus e tem a ver com o mover do Espírito
Santo em nosso ser, nos moldando conforme a vontade de Deus.
Portanto, os meios de santificação
não fazem parte de um conjunto de condições humanas, mas divinas. O papel do
homem é se entregar à vontade de Deus e permitir que Ele trabalhe em sua vida e
seu caráter. E quando o homem permite que isso aconteça, é porque o Espírito
Santo já está trabalhando em seu interior. Os meios divinamente estabelecidos
para a santificação são três:
1.
O sangue de Cristo: Este é um meio
eterno, absoluto e posicional que proporciona uma santificação absoluta diante
de Deus (Hebreus 13:12; 10:10,14; 1 João 1:7). A santificação é resultado da
obra de Cristo, isto é, a redenção efetivada na cruz do Calvário, através do
seu sacrifício vicário. Através da redenção, somos santificados e purificados,
livres da condenação eterna e chamados à presença de Deus, unidos a Ele pelo
seu Filho e o Espírito Santo da promessa (Hebreus 2:11). Embora santificados e
em comunhão com Deus, podemos cair em tentação, mas a santificação é contínua e
o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado (1 João 1:7). A confissão de
fé e o eterno sacrifício de Cristo removem a barreira da impureza que nos
impede de chegar até Deus (1 João 1:9). A renovação do sacrifício de Cristo
através da Eucaristia demonstra um sacrifício imperfeito de Jesus e, por
conseguinte, uma santificação imperfeita da parte de Deus, pois há uma
necessidade de constante e diária renovação.
2.
O Espírito Santo: O Espírito Santo
produz uma mudança interna na natureza do homem (1 Coríntios 6:11; 2
Tessalonicenses 2:12; 1 Pedro 1:1,2; Romanos 15:16). É o Espírito Santo que nos
identifica como separados para Deus. Ele é o selo que nos autentica. Não nossos
esforços, nossas rezas, Maria, os santos, o rosário, mas o habitar da terceira
Pessoa da Trindade em nosso coração. Os povos gentios eram desprezados por não
andarem de conformidade com a lei mosaica, mas o Espírito de Deus desceu sobre
eles na casa de Cornélio, não restando mais dúvidas que eles eram santificados
pelo Espírito Santo, independente da lei (Romanos 15:16). Se fôssemos
santificados por nós mesmos, de que adiantaria o Espírito Santo? De que nos
valeria o sacrifício de Cristo?
3.
A Palavra de Deus: A santificação
através da Palavra de Deus é um meio externo e prático, que diz respeito a vida
prática do cristão (João 15:3; 17:17; Efésios 5:26; Tiago 1:23-25; Salmo
119:9). A Palavra de Deus confronta-nos com nossos pecados, nos mostra o quanto
somos impuros e nos dá um caminho certo a ser seguido. É nela que encontramos
as doutrinas sobre Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo e sobre a salvação. Ela
aponta para uma vida renovada e um proceder reto diante de Deus; ensina-nos
sobre amor e perdão e sobre todas as coisas que devemos saber para viver de
forma santa nesta vida. Ela, também, aponta para outra vida, a vida eterna. A
Palavra de Deus serve como espelho para nossa alma, uma vez que fomos
regenerados e lavados (Tito 3:5; Tiago 1:22-25). É impossível haver santidade
sem a Palavra Santa do Deus vivo.
2.4 O verdadeiro
método de santificação
Além daquelas ideias totalmente
errôneas do catolicismo romano sobre santificação, ainda encontramos mais três:
a) erradicação do pecado, o que é
impossível do ponto de vista humano e improvável do ponto de vista divino. Só
estaremos livres do pecado quando estivermos na glória com Deus; b) legalismo, isto é, observância de regras
e regulamentos, como os monges. Paulo nos ensina que nada disso serve para a
nossa santidade (Romanos cap. 6), assim como também não pode nos justificar
(Romanos cap. 3); c) ascetismo, que é
tentar subjugar a carne e alcançar a santidade através de privações e
sofrimentos, método que a maioria dos católicos romanos aprecia, também os
hindus ascéticos. Mas é a alma e não o corpo que peca. Este é um trabalho do
Espírito Santo.
O método verdadeiro e bíblico
baseia-se na obra redentora de Cristo e na atuação do Espírito Santo na vida do
crente salvo. A libertação que ele tanto necessita das obras da carne só pode
ser alcançada através de uma negação de si mesmo e uma total entrega às mãos do
oleiro, que é Deus. Para negar estas verdades e impor seu sistema de
indulgências, cuja finalidade sempre foi arrecadar fundos para as dioceses, o
catolicismo romano jamais poderia fazer uso somente da Bíblia somente, por isso
inventou a Tradição. Biblicamente, o verdadeiro método de santificação é:
1.
Fé na expiação: A obra de
santificação acontece da mesma maneira que ocorre a salvação: pela fé. Os
judeus, para justificarem-se diante de Deus dos seus pecados e para expiá-los,
faziam constantes sacrifícios. Mas eram sacrifícios externos que não podiam
mudá-los internamente. Com a Nova Aliança, a graça de Deus tomou o lugar da
lei, de modo que pela lei ninguém pode ser justificado, mas pela graça que atua
através da fé (Efésios 2:8,9). Esta fé, sem obras, poderia, segundo acusavam
alguns, levar a pessoa a continuar na prática do pecado (Romanos 3:8; 6:1), mas
Paulo afirma que os que morreram para o pecado devem viver segundo a graça,
procurando não pecar mais (Romanos 6:2). A nova vida em Cristo Jesus (Mateus
6:24) exclui a possibilidade de uma vida de pecado, mas cobra uma vida nova, um
novo proceder (Romanos 6:4). Ora, aquele que está morto[1] está justificado do
pecado (Romanos 6:7). Aquele que está morto para o pecado, deve viver para
Cristo (Romanos 6:9-11). Esta é uma obra que não parte de nós, mas da expiação
de Cristo na cruz. Pelas suas feridas fomos sarados (1 Pedro 2:24), de modo que
não há nada que façamos que nos justifique a nós mesmos, já que já fomos
justificados. Ele morreu por nós sendo nós ainda pecadores (Romanos 5:8).
2.
Cooperação com o
Espírito:
Como já temos visto, é impossível que pela lei mosaica o homem seja
justificado. Os católicos não seguem esta lei, mas criaram um conjunto de
outras regras e dogmas para a justificação e a santificação, começando pelo
batismo e pela caridade e culminando com a criação do Purgatório. O livro de
Romanos trata sobre este assunto e assegura que pela lei nenhum homem será
justificado. Não que a lei de Deus seja má, mas ela pode causar a inclinação
pecaminosa da natureza humana. Paulo indica, na epístola aos Romanos, capítulo
7, que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v. 8), o poder (v. 9), a
falsidade (v. 11), o efeito (v. 10,11) e a vileza do pecado (vs. 12,13). O
próprio Paulo, antigo observador cativo da lei, reconhece-se como miserável (v.
24, vide 6:6) e agradece por agora estar debaixo da lei de Cristo, que é a lei
da graça (v. 25). Nós estamos mortos no pecado,
isto é, condenados (Efésios 2:1; Colossenses 2:13), separados de Deus, e
necessitamos morrer para o pecado,
isto é, a santificação (Romanos 6:11), através de Cristo que morreu pelos nossos pecados (2 Coríntios 5:14;
Gálatas 2:20). Morrer para o pecado não é uma obra que possamos realizar
através de rezas, sacrifícios e mortificação ou indulgências, mas é uma obra
realizada pelo Espírito Santo de Deus (Romanos 8:13). Esta obra conta com a
nossa cooperação: viver e andar no Espírito, permitir que Ele atue, sem
apagá-lo ou relegá-lo ao segundo plano em nossas vidas, dando mais ênfase ao
ego e ao mundo. Cooperar com o Espírito Santo significa permitir que Deus opere
sua vontade sobre a nossa vontade, suas decisões sobre as nossas decisões.
Todavia, não é uma sinergia entre nós e Deus, mas só nos entregamos ao Espírito
movidos pelo próprio Espírito.
2.5 Santificação
completa
Será que é possível para o homem
alcançar a perfeição aqui na Terra? A resposta dependerá do que entendemos por
perfeição. Os protestantes são acusados de quererem ser perfeitos, “santinhos”,
julgando a todos os que não procedem da mesma forma. Para o catolicismo, ser
santo pode significar uma perfeição tal como Maria alcançou, mesmo antes de
nascer, por ser predestinada a ser mãe do Salvador. Mas se formos estudar
profundamente o sentido de perfeição que a Bíblia ensina, veremos que em muito
se distancia dos nossos padrões. Existe, segundo a Palavra de Deus, a
possibilidade de sermos perfeitos, ainda que vivamos em um mundo de pecado.
1.
O significado de
perfeição: A
perfeição pode ser absoluta e relativa. Deus é absolutamente perfeito,
pois não necessita ser melhorado em nada. Seus pensamentos e suas ações são sem
erro. Ele é completo em todos os sentidos, por isso pode chamar-se de o Eu Sou. Deus é, não está sendo, se
transformando para chegar a algum ponto de perfeição. Ao homem pertence a
perfeição relativa. No Antigo
Testamento, a palavra “perfeição” significa ser “sincero e reto” (Gênesis 6:9;
Jó 1:1) e estava ligada ao desejo e determinação em fazer a vontade de Deus,
apesar do pecado. Davi, mesmo com todos os seus erros, era um homem “segundo o
coração de Deus”. No Novo Testamento, várias palavras são usadas para dar o
sentido de perfeição: ser apto ou capaz para uma certa tarefa ou fim (2 Timóteo
3:17); algum fim alcançado por meio de crescimento mental ou moral (Mateus
5:48; 19:21; Colossenses 1:28; 4:12; Hebreus 11:40); um equipamento cabal (2
Coríntios 13:9; Efésios 4:12; Hebreus 13:21); terminar ou trazer a uma
terminação (2 Coríntios 7:1); fazer repleto, cumprir, encher, nivelar
(Apocalipse 3:2). Cada uma destas palavras deve ser usada dentro do seu
contexto, mas todas elas indicam que há possibilidade de perfeição para o
gênero humano. Esta perfeição – conforme o significado da palavra no Novo
Testamento – é resultado da obra de Cristo por nós (Hebreus 10:14) e diz
respeito a uma madureza espiritual em oposição às inclinações carnais (nossa
infância espiritual: 1 Coríntios 2:6; 14:20; 2 Coríntios 13:11; Filipenses
3:15; 2 Timóteo 3:17). Ela é progressiva (Gálatas 3:3) e está presente na
vontade de Deus, no amor ao homem e no serviço (Colossenses 4:12; Mateus 5:48;
Hebreus 13:21). Mas a perfeição final do crente não é terrena; ela será
alcançada somente no céu, onde não haverá mais necessidade de buscá-la, pois
tudo será perfeito (Colossenses 1:28,22; Filipenses 3:12; 1 Pedro 5:10).
2.
Possibilidades de
perfeição:
A perfeição é efetivada em nós através do perfeito sacrifício de Cristo e da
sua perfeita graça e justiça. Os sacrifícios da lei mosaica eram imperfeitos,
incapazes de purificar o homem de seus pecados. Mas Deus, que é perfeito,
morreu para nos salvar e nos conduzir a uma vida em santidade, conforme a sua
imagem e semelhança. Mas não são todos os teólogos e pregadores que sustentam
esta verdade. Alguns acham ser impossível alcançar tal perfeição. Por outro
lado, alguns ficam num lado extremo, achando que o crente não peca mais. A
posição mais correta seria a de que a salvação é perfeita e definitiva, bem
como a santidade, mas que o cristão deve desenvolvê-las no decorrer da sua
vida, o que podemos chamar de “crescimento espiritual”. O Novo Testamento
sustenta um nível moral elevado, sendo dever do crente – movido pelo Espírito
Santo – buscar esta perfeição (Filipenses 3:12; Hebreus 6:1). Esta santidade
entra em confronto com a nossa natureza pecaminosa, uma vez que agora temos,
também, uma natureza espiritual (Gálatas 5:17). Em contradição a isto temos a
doutrina romanista da canonização pós-morte. Depois que a alma deixa o corpo,
como poderá pecar? Como poderá buscar equilíbrio entre a natureza humana e a
divina? Como o defunto buscará um nível moral elevado num contexto onde já não
existem níveis de relacionamentos humanos capazes de proporcionar crescimento
moral e espiritual?
2.6 Santos pecadores
Mesmo justificados e santificados, ainda
existe a possibilidade do pecado, por isso a necessidade de vigilância (Gálatas
6:1; 1 Coríntios 10:12). Quando nos convertemos não nos tornamos super-humanos,
com superpoderes, mas humanos com poderes sobrenaturais que fazem guerra dentro
de nós para que não façamos apenas o que for da nossa vontade. É isto que nos
difere dos demais: o ser humano comum, descrente, tem em si somente a natureza
pecaminosa, carnal, terrena. Quando convertidos, passamos a possuir, também,
uma natureza espiritual, celestial, divina. É este fator que nos torna santos,
independente de nossa potencialidade humana. Não nós, “os protestantes”, mas
todo aquele que crê (João 3:16).
Por termos nascido em pecado (Salmo 51:5) não
temos como nos livrar de nossa carne, que está sendo constantemente provada
(Gálatas 5:17; Romanos 7:18; Filipenses 3:8). Nosso conhecimento não é
completo, mas repleto de lacunas que bem podem ser preenchidas por pecado,
mesmo fruto de ignorância. Ainda assim, podemos manter-nos firmes no propósito
de não pecar, resistindo à vontade da carne e às investidas do inimigo (Tiago
4:7; 1 Coríntios 10:13; Romanos 6:14; Efésios 6:13,14), permitindo que
frutifiquem em nós os frutos da justiça (1 Coríntios 10:31; Colossenses 1:10)
para que possuamos a graça, o poder do Espírito Santo e a perfeita comunhão com
Deus (Gálatas 5:22,23; Efésios 5:18; Colossenses 1:10,11; 1 João 1:7).
Deus sabe da nossa natureza, sabe que somos
seres falhos, nascidos em pecado e, por isso, estamos constantemente errando,
mesmo que nossas inclinações sejam santas (Salmo 103). Por isso Ele nos proveu
de algo que superasse nossos erros, que estivesse acima da nossa capacidade de
autojustificação, que não partisse de nós, mas dele: o sangue de Cristo, que
nos purifica de todo pecado e nos leva limpos para entrarmos na Sua presença (1
João 1:7; Filipenses 2:15; 1 Tessalonicenses 5:23).
Se santidade significa ser separado para o
serviço de Deus e cumprir os seus mandamentos, como poderíamos fazer estas
coisas estando já mortos? Como servir a Deus dentro de nossas covas? Estando no
céu, já não temos mais o que fazer, a não ser adorá-lo pelos séculos. Lá Ele
não necessita da nossa ajuda para nada. Ele tem os anjos, que são seus
mensageiros ocasionais, tem a sua Palavra entregue aos homens, tem o Espírito
Santo e tem seu Filho, o Verbo que se fez carne, além de nós, vivos, seus
ministros.
3
Conclusão
Como
pudemos ver, é impossível equilibrar o ideal bíblico de santidade com as
doutrinas da igreja católica. Crer na tradição católica romana é rasgar a
Bíblia para se entregar às teorias doutrinárias dos papas e seus doutores. Como
já dissemos, existem razões para a igreja romana manter a sua crença na canonização
dos santos, na santificação após a morte e na purificação efetuada pelo e no
purgatório. Se o fiel parar para pensar, verá que a doutrina da comunhão dos
santos envolve o ser humano em todas as fases da sua vida religiosa: batismo,
primeira comunhão, crisma, casamento, ordem, unção dos enfermos e penitência.
Isto é: os sacramentos. São os sacramentos católicos os sinais praticados pelas
autoridades eclesiásticas que prendem os fiéis a uma dependência total da
igreja, envolvendo a pessoa até mesmo após a sua morte, pois ela continuará
dependendo da igreja, das missas, das rezas, para aliviar suas dores no
purgatório. Nem no silêncio do seu túmulo o fiel católico estará livre da
sombra dos papas.
Que
Deus, pela operação do Espírito Santo, conduza os fiéis católicos à luz da
verdade de Cristo, à salvação oferecida pelo seu sangue, à santidade de vida,
não de morte. Que este texto alcance aqueles que estão cegos pelo pecado e pela
Tradição católica. Que ele alcance, também, os crentes protestantes que acham
que não precisam buscar a santidade diária em Cristo.
Bibliografia:
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 1997.
[1]
Morto
aqui não é no sentido de “falecido”, mas morto espiritualmente para o pecado:
nascer de novo.
MIZAEL XAVIER
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A paz de Deus,Mizael Souza,excelente trabalho e exposição,verdadeiramente santo são todos os que são separados de todas as perversidades malignas e de todo o mal,agora será que existe algum vigário,que explique quem mandou canonizar,quem quer que seja ? um abraço, Deus nos abençõe
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