O PODER TRANSFORMADOR
DA PALAVRA DE DEUS
INTRODUÇÃO
Leia: Efésios 1:13
Pense
e responda: Ler a Bíblia já é suficiente para transformar a vida de alguém? Se
sim, por que muitos ateus, cientistas, filósofos e historiadores a leem e
releem, mas mesmo assim morrem na incredulidade? E por que tantas pessoas que
estão dentro das igrejas jamais se deixam transformar pela Palavra, ao ponto de
serem chamadas de joio, falsos irmãos, falsos apóstolos, falsos profetas e
falsos mestres? Terá a Palavra de Deus falhado? Será possível resistir a um
Deus Todo-poderoso e Soberano?
Neste estudo, tentarei elucidar essas e outras questões
referentes ao poder transformador da Palavra de Deus. Podemos começar
questionando nesta introdução que tipo de transformação estamos falando. Não é
preciso nem mesmo crer em Deus para utilizar os ensinamentos bíblicos para
alcançar alguma retidão moral. De fato, estudiosos e fiéis de outras religiões
consideram Jesus um mestre, um grande modelo de bondade e de caráter. Alguns
até procuram seguir seus exemplos. Mas pergunte a qualquer um deles se creem em
Cristo como Deus, Senhor e Salvador que a resposta será negativa. Então já
percebemos que ser transformado pela Palavra de Deus é mais que crer na Bíblia
como um manual de modelos e práticas éticas, morais e espirituais. Ela não é um
livro qualquer.
Por
outro lado, em muitas igrejas cristãs, a Bíblia parece não passar de um mero
manual de autoajuda ou um simples manancial de bênçãos e vitórias. A
superficialidade da fé de alguns irmãos não os permite ir mais além. A sua fé não
ultrapassa as barreiras das suas ambições pessoais nem parece mudar o seu
caráter. Eles não enxergam a pessoalidade de Deus, muito menos a eternidade.
Não sabem sequer explicar as doutrinas mais básicas da fé cristã. Como ter
práticas corretas sem o conhecimento necessário? Que transformação eles têm
experimentado? Ela é bíblica? Se não, que transformação a Palavra de Deus nos
traz e como ela acontece? É o que veremos nas próximas mensagens.
Dever de casa: Estude sobre este
tema e aprofunde o seu conhecimento da Bíblia Sagrada.
A NATUREZA DA BÍBLIA
Leia: 2 Timóteo 3:16
O
Evangelho é poder de Deus (Rm 1:16). Isso pode ser comprovado na história da
Igreja e das Missões. Por exemplo: o que o grande doutor da Igreja, Agostinho,
bispo de Hipona (354-430 d.C), e o reformador Martinho Lutero (1483-1546 d.C)
têm em comum? Ambos experimentaram uma transformação radical em suas vidas ao
lerem as Sagradas Escrituras. Não por coincidência, foram iluminados pelo mesmo
livro: Romanos (13:13,14 e 1:17, respectivamente). Para o cristão reformado ou
evangélico, a Bíblia é a única fonte da revelação escrita de Deus (2 Tm
3:16,17; 2 Pe 1:19-21). Os católicos acrescentam a Tradição e o Magistério da
Igreja (Dei Verbum n. 8, 9 e 10; Lumen Gentium n. 60 e 61). A Bíblia contém
expressamente a natureza de Deus, o seu caráter e a sua vontade para a
humanidade (Hb 1:1-4; 1 Sm 3:4; 1 Rs 9:9,13). Nela estão seus mandamentos,
promessas e profecias. Todo o plano de salvação, incluindo o julgamento final,
a subida dos crentes ao céu, a descida dos ímpios para o inferno e o reinado
eterno de Cristo estão nas suas páginas (Hb 9:27; Ap 21:1-8). A derrota de
Satanás também está clara em suas revelações (Ap 12:10-12; 20:10). Ela é a
nossa única regra de fé e prática. Ela nos revela Jesus como o Deus encarnado e
o Salvador daqueles que nele creem (Jo 1:1-14; 3:16,36). A Bíblia é um misto de
loucura para os que se perdem e de poder de Deus para a redenção dos que creem
(1 Co 1:18).
A
transformação que buscamos é aquela efetuada pela Palavra de Deus. Nenhuma outra pode ser mais legítima e
perene. A Bíblia é a Rocha que mantém segura e firme a vida de quem sobre ela
está edificado (Mt 7:24-27). Mas essa transformação vai muito além do caráter e
do comportamento humanos. Ela não diz respeito a práticas ritualísticas como
frutos da fé. Também está muito acima da espiritualidade religiosa e
tradicionalista (veja Isaías 1:10-17). Uma vida transformada com uma nova
natureza não é o objetivo, mas consequência da transformação que a Palavra de
Deus opera na alma do pecador. Essa Palavra poderosa e irresistível,
divinamente inspirada e cheia da graça de Deus aponta para algo mais além: a
eterna glória vindoura no céu. Infelizes são aqueles que buscam na Bíblia
apenas soluções para seus problemas terrenos e temporais! É como beber apenas
um gole de uma fonte inesgotável de vida e felicidade eternas. Jesus tem vida
em abundância para nos dar (Jo 10:10).
Mas
eis a grande questão. A maioria das pessoas que bebem da Bíblia não experimenta
a sua verdadeira essência. Que essência é essa? Podemos ver na resposta de
Pedro quando o Senhor Jesus questionou seus apóstolos se eles o abandonariam
como fizeram os demais: "Senhor, para quem iremos? Só tu tens as palavras
de vida eterna"(Jo 6:60-71). Esta é a essência da Palavra de Deus, de
Gênesis a Apocalipse: a eternidade em Cristo (Jo 5:24; 17:2,3; 1 Jo 5:13). Todo
o conteúdo da Bíblia, palavras e atos de Deus Pai, Filho e Espírito Santo pode
ser resumido na seguinte declaração do apóstolo João a respeito do ministério
de Jesus: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo
20:31). Então persiste a pergunta inicial: basta ler a Bíblia para ter a vida
transformada? Lendo os evangelhos teremos vida eterna? Prossigamos com nosso
estudo. Ainda temos muito que aprender.
Dever de casa: Pesquise e leia
sobre a vida de Santo Agostinho e Martinho Lutero.
A NATUREZA HUMANA
CAÍDA
Leia: Romanos 3:23-26
Já vimos que a Bíblia é a Palavra poderosa
de Deus que deseja efetuar uma transformação radical na nossa vida, e que essa
transformação diz respeito à vida eterna. Mas por que precisamos desta Palavra
e da vida eterna que ela nos revela? Eis o motivo que leva muitos leitores da
Bíblia ao engano e ao inferno: eles a veem como um livro religioso, histórico e
filosófico, mas não como Palavra de Deus que revela o pecado do homem e a
necessidade de salvação (1 Co 6:9,10; Gl 3:22; Rm 5:8; 1 Tm 1:15). Como
escreveu Paulo aos romanos, todos somos pecadores. Carregamos o pecado original
por causa da Queda do primeiro casal, Adão e Eva. Fomos separados de Deus,
recebemos uma natureza totalmente depravada e condenada à morte e ao inferno.
Nascemos mortos em nossos delitos e pecados, filhos da ira e da desobediência
(Ef 2:1-5). Somos por natureza inimigos de Deus, amigos do mundo, servos das
trevas. Não há bem algum em nós que não provenha da graça de Deus.
Então, a primeira e maior transformação
que precisamos obter é de posição diante de Deus: de condenados a salvos (Jo
5:24; Rm 8:1,2), de pecadores a santos, de filhos do diabo a filhos de Deus (Jo
1:12,13), de amigos do mundo a amigos de Deus (Jo 15:15). Mas como isso é
possível se nossos pecados fazem separação entre nós e Deus? Pela nossa própria
natureza e vontade, somos incapazes de ir até Deus. Na verdade, não queremos.
Foi o que Jesus disse aos judeus: "Não quereis vir a mim para terdes
vida" (Jo 5:40). Foi preciso Deus vir nos buscar, e Ele fez isso por meio
de Cristo, que morreu e ressuscitou para nos dar a vida eterna. O que jamais
poderíamos fazer por nós mesmos, Jesus fez na cruz, dando-nos livre acesso à
presença de Deus e entrada gratuita no céu. Em Cristo, os nossos pecados são
perdoados e apagados. Ficamos livres de condenação (Rm 8:1,2).
Mas aqui voltamos àquela questão: basta
ler a Bíblia e saber dessas coisas para que sejamos salvos? O simples
conhecimento da nossa condição depravada e da necessidade de vida eterna
garante para nós um lugar no céu? Essa pergunta já foi parcialmente respondida
no parágrafo anterior: não queremos ir! Leia Romanos 3:9-20. E mesmo se
quiséssemos, não teríamos tal capacidade. Não basta conhecer o Sagrado: é
preciso penetrar nele. Mas como? Algumas correntes teológicas, como o
"Arminianismo", defendem que o perdido é capaz de, por si só, buscar
e contribuir para a sua própria salvação (sinergismo). Mas a Bíblia é enfática
ao ensinar que a salvação do pecador é um ato exclusivo de Deus (monergismo; Rm
3:20-24; Ef 2:8,9). O que compete a nós fazermos? Este será o tema do próximo
capítulo.
Dever de casa: Pesquise e estude na
Internet ou em um dicionário de teologia os seguintes temas: justificação,
expiação, sacrifício vicário e propiciação.
A OBRA DO ESPÍRITO
SANTO
Leia: João 16:7-11
Precisamos ser transformados por Deus para
termos a vida eterna, mas sozinhos não podemos. Não podemos ir a Ele se Ele não
nos chamar e atrair (Jr 31:3). Não podemos ir até Cristo se pelo Pai não formos
levados (Jo 6:37). É aí que o Espírito Santo opera na vida do pecador,
regenerando-o e dando-lhe a fé necessária para crer (Ef 2:8,9). Poucas palavras
são necessárias para descrever todo o processo de salvação. Basta lermos o
primeiro capítulo da carta de Paulo aos Efésios. Fomos eleitos, predestinados,
feitos herança de Deus e selados com o Espírito Santo. Não pela nossa vontade
ou obras, mas pelo beneplácito da soberana vontade de Deus. Não é todo leitor
da Bíblia que alcança essas bênçãos espirituais, mas aqueles que são chamados
de acordo com os propósitos eternos de Deus. Quem "se converte"
continua perdido. Mas aquele que "é convertido" pelo Espírito Santo
tem a vida eterna.
Assim, a Palavra de Deus opera em conjunto
com o Espírito Santo: lemos ou ouvimos as palavras de vida eterna e o Espírito
nos convence do pecado por meio delas (Jo 16:7-11). Ele retira as escamas que
encobrem os nossos olhos espirituais e nos faz entender que somos pecadores
miseráveis, carentes de salvação. Além disso, produz o arrependimento e nos faz
crer no sacrifício vicário de Cristo para que sejamos salvos. Esses são os
elementos essenciais da conversão genuína (At 3:19; 17:30,31; 26:20; Lc 3:3; 2
Pe 3:9). Nesse exato momento, somos santificados, separados do pecado e do
mundo e consagrados a Deus (Dt 14:2; 2 Ts 2:13,14). É uma santificação
posicional e instantânea. Somos de Deus, selados pelo Espírito Santo, feitos
seus filhos (Jo 1:12,13; Rm 8:14-16; Gl 3:26,27; 4:7; 1 Jo 3:1), tornados novas
criaturas (2 Co 5:17). Não somos mais de nós mesmos. Podemos afirmar como o
apóstolo Paulo: "Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim" (Gl
2:20). O perdão de Deus é transformador!
Então, esta é a maior e a principal
transformação efetuada pela Palavra de Deus: a justificação. Paulo escreveu aos
crentes de Roma que a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus pregada (Rm 10:17).
E o Senhor Jesus disse: "Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a
minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em
condenação, mas passou da morte para a vida" (Jo 5:24). Ouvir e crer não é
para todos. A prova é que muitos que ouvem, não creem. Mas aqueles que o Senhor
chama, ouvirão a sua voz e irão até Ele, porque são suas ovelhas e ouvem a sua
voz (Jo 10:27). E quando seguem o seu Pastor, essas ovelhas já não são mais as
mesmas. Elas são novas criaturas que experimentam uma transformação diária
trazida pela Palavra de Deus. É sobre essa transformação que falaremos na
próxima mensagem.
Dever de casa: Pesquise e estude
sobre a graça e a soberania de Deus.
TRANSFORMAÇÃO
PROGRESSIVA
Leia: Oseias 4:6 e 6:3
Falamos
no capítulo anterior sobre santificação, que nada mais é que uma mudança
instantânea de posicionamento diante de Deus: de perdidos para salvos (1 Co
6:11; Hb 13:12). Não pelas nossas obras desprezíveis de justiça, mas somos
justificados pela graça apenas, por meio da fé em Cristo (Is 64:6; Rm 5:1-12;
Ef 2:1,2,8,9; Tt 3:3). Podemos chamar isso de "novo nascimento" (Jo
3:1-21), quando nos tornamos novas criaturas (2 Co 5:17) e templos do Espírito
Santo (1 Co 6:19,20). Como pecadores regenerados, somos estimulados pela
Palavra e pelo Espírito Santo a viver diariamente num processo de crescimento
espiritual (santificação progressiva), desenvolvendo a nossa salvação com temor
e tremor (Fp 2:12-16). Perceba bem: não é nos desenvolver "para sermos
salvos", mas "porque já somos salvos". Quanto mais conhecemos a
Deus por meio da sua Palavra e nos relacionamos com Ele, mais vamos sendo por
Ele transformados, servindo-o mais e melhor. E isso envolve amar e servir as
pessoas (1 Jo 3:14-18,23; Rm 12:10; Ef 5:2; Gl 6:2,10,13).
Até
aqui já respondemos a questão levantada na introdução deste estudo. O Senhor
Jesus orou a respeito dos seus discípulos: "Santifica-os na verdade; a tua
palavra é verdade" (Jo 17:17; leia o capítulo inteiro). A Palavra de Deus
transforma o perdido em salvo e continua a transformá-lo por toda a sua vida,
até a vinda de Cristo. Esta é uma obra que Deus inicia em nós, conduz a sua
continuidade e é fiel para completá-la (Fp 1:6). Ela se baseia na verdade
revelada. Esse processo de transformação estimulado pelo Espírito Santo é
efetuado por Deus, que opera em nós o querer e o realizar, segundo a sua
vontade (Fp 2:13). Se queremos nos entregar a esse processo, devemos nos
transformar pela renovação da nossa mente, o que envolve a inconformidade com
este mundo (Rm 12:2). Tudo isso está ligado à Palavra de Deus, a qual
precisamos obedecer piamente. O Senhor Jesus declarou: "Aquele que tem os
meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será
amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele" (Jo 14:21).
Percebe
como o conhecimento que transforma não é meramente intelectual? A Palavra de
Deus precisa ser verdade na vida daquele que se aproxima dela, produzindo o
conhecimento de Deus baseado num relacionamento íntimo com Ele, o que só é
possível por meio da obra da regeneração. Espírito, Palavra, conhecimento e
transformação estão intimamente ligados e não podem ser desassociados uns dos
outros. Eles formam as engrenagens de uma única estrutura sólida e santa. Nosso
papel é beber todos os dias dessa fonte de água viva, guardando no coração as
Sagradas Escrituras para não pecar contra Deus (Sl 119:11). A falta de
conhecimento nos faz errar o alvo e nos tira do centro da vontade do nosso Pai
celestial. Como conhecer o que nosso Senhor espera dos seus servos sem ler e
estudar a sua Palavra? Como nos tornaremos crentes maduros e obreiros aprovados
que manejam bem a Palavra da verdade (2 Tm 2:15) se não nos dedicarmos a
meditar nela de dia e de noite (Sl 1:1,2)? Onde está o seu prazer?
Dever de casa: Pesquise na sua
Bíblia e leia os seguintes textos: 1 Ts 4:4-7; 5:23; Hb 2:11; 10:10-14; 12:14;
13:12; 2 Co 7:1; 1 Pe 1:15,16; 2 Tm 1:9; Sl 139:23,24; Fp 2:14-16; Ef 1:4; 5:3;
Rm 12:1; 6:22; Mt 5:48.
O CERNE DA
TRANSFORMAÇÃO
Leia: Romanos 12:1,2
Com
tudo o que já aprendemos aqui, resta-nos uma última questão: O que precisa ser
transformado? Creio que cada pessoa que busca a Deus em oração ou no culto tem
uma visão pessoal do tipo de transformação que deseja para a sua vida. Pode ser
a vitória sobre o sofrimento causado por uma vida atribulada, um relacionamento
em crise, uma grave crise financeira, problemas de ordem familiar, doenças
diversas, traumas e complexos, ansiedade e medo, depressão ou algum outro
igualmente trágico. O mundo também precisa de transformação: aquecimento
global, violência, corrupção, misérias, doenças e guerras. A igreja também urge
mudanças urgentes: apatia, materialismo, depravação, individualismo, teologia
da prosperidade, teologia egocêntrica, suicídio de pastores, alienação
teológica. São muitas questões. Todavia, todas têm um ponto em comum: não são a
doença, mas apenas os sintomas de um único mal chamado "pecado". O
profeta Jeremias bem disse: "De que se queixa, pois, o homem vivente?
Queixe-se cada um dos seus pecados" (Lm 3:39). E se o problema da humanidade
é o pecado, a única solução é a salvação. Para o crente, que já está salvo,
santificação e confiança em Deus.
O
que buscamos em oração ou no culto talvez não seja o tratamento para a doença,
mas apenas um paliativo para o nosso sofrimento. E as igrejas modernas estão peritas
em oferecer tais paliativos, formas de aliviar a dor sem tratar profundamente
aquilo que a está causando. As pregações triunfalistas não somente culpam o
diabo por todas as mazelas humanas, como também oferecem bênçãos e vitórias que
pretendem resolver a questão. Mas não cuidam do principal: o coração, o
caráter. A grande questão é que "atenuando os sintomas, podemos ocultar a
verdadeira enfermidade" (LLOYD-JONES, 2008, p. 33). Deus nos escolheu para
sermos santos e irrepreensíveis (Ef 1:3; cf. Cl
1:21-23 e Rm 8:29). Não adianta uma transformação aparente, tratando dos
sintomas. O problema persistirá e se agravará ainda mais. A quem estaremos
enganando? Não adianta oásis de felicidade se a nossa vida continuar um
deserto. Não adianta nada que nos traga uma sensação falsa de vitória, quando
tal vitória é meramente terrena e não envolve as coisas celestiais nem a
eternidade. São paliativos. São máscaras que ocultam o pecado que traz todas as
crises que enfrentamos ou a maneira equivocada com a qual lidamos com elas.
A
Palavra de Deus é poderosa para nos transformar de dentro para fora. Ela deseja
atingir o nosso ego para submetê-lo a Cristo (Gl 2:20), retirando a máscara da
religiosidade através de uma transformação estrutural, e muitas vezes dolorosa,
do nosso caráter. Ela requer um alto grau de humildade em reconhecer onde e como estamos errando, pois fomos
resgatados para uma vida nova (Rm 6:3-7). É claro que não me preocupo aqui com
a transformação da conta bancária, mas da vida espiritual, da nossa relação com
Deus e com as pessoas. Essa é uma transformação moral. É preciso ir ao cerne da
questão, avaliar nossas motivações, rever nossas atitudes ou a ausência delas.
Daí surgirão respostas para nossas crises interiores, conjugais, familiares,
ministeriais, profissionais, etc. No texto supracitado de Romanos (12:1,2),
Paulo fala de transformação do centro das nossas escolhas e decisões: a mente.
São nossos pensamentos que geram sentimentos, produzindo ações que trarão
consequências. O que é como temos pensado? Como isso tem afetado nosso modo de
viver, de lidar com as tentações e os problemas? Até que ponto nossos
pensamentos glorificam ou não a Deus? É essa a transformação que devemos buscar
todos os dias. Renove-se!
Dever de casa: Faça um autoexame
sincero e meticuloso. Desnude-se diante de Deus e assuma o que precisa ser
transformado dentro de você. Deixe-se moldar por Ele.
CONHECIMENTO
ESPIRITUAL
Leia: 1 Coríntios 2:9-16
Quem
nos transforma é Deus. Precisamos conhecê-lo. Mas não há como conhecermos a
Deus se Ele não se revelar a nós (Êx 3:1-14; Is 46:9,10; Dt 6:4; Jo 14:6; Ap
22:12). Ele fez isso por meio de três revelações: GERAL, que é a natureza ou
tudo que foi criado (Sl 19:1; Rm 1:20); ESPECÍFICA, que é a sua Palavra, a
Bíblia (Hb 4:12; 2 Tm 3:16,17); e ESPECIAL, a sua encarnação como Filho, Jesus
Cristo (Jo 1:1-14; Fp 2:6-8; Hb 1:1-4). Mesmo Deus se revelando dessa maneira,
nem todos são capazes de enxergá-lo. Alguns olham para a natureza e a veem como
um deus ou os seus elementos como deuses (os astros, os animais, etc.). Outros
não veem a Bíblia como revelação divina inspirada, mas como um livro humano que
serve aos propósitos de um seguimento religioso judaico-cristão. Quem olha para
Jesus, nem sempre o vê como Deus, mas como um demiurgo, mestre, filósofo ou
psicólogo (veja no discurso de Pedro, em Atos 2:14-36, a incredulidade dos
judeus). Os incrédulos jamais veem Jesus como Criador e Senhor de tudo e de
todos. Então, não basta apenas Deus se revelar, é necessário uma visão
espiritual e correta do Deus que se revela. E isso não é algo que todos
possuem. Muitos jamais irão possuir (2 Co 4:4). A Palavra de Deus só atua com eficácia na vida daqueles que creem em Cristo para a salvação (1 Ts 1:9,10; 2:13; 1 Pe 1:23-25).
O
nosso conhecimento de Deus é parcial (1 Co 13:9-12) e envolve somente o que Ele
quis relevar, e já é suficiente para nós (Rm 11:33-36). Além disso, ideias distorcidas
moldam e maculam nossa visão. Para conhecermos Deus e entendermos a sua
vontade, precisamos da mente de Cristo, como lemos em 1 Coríntios 2:9-16. Para
entender a Bíblia e experimentar a transformação que ela opera, é necessário
que o Espírito Santo abra os nossos olhos espirituais (At 26:28). Leia em sua
Bíblia estes dois exemplos: Lucas 24:44-46 e Atos 16:14. Até os dias de hoje,
os judeus possuem seu entendimento cego e são incapazes de reconhecer em Jesus
Cristo o Messias prometido em todo o Antigo Testamento (2 Co 3:14-18; 4:4-6).
Aqueles que estão em Cristo possuem o conhecimento dado por Ele para o
reconhecimento da verdade revelada (1 Jo 5:20). Embora uma das características
da Bíblia seja a perspicuidade, é a sabedoria do Alto que fará a diferença para
conhecermos o que Deus nos revela (Tg 3:17; Ef 1:17; Cl 2:2).
Tudo
isso já nos ajuda a entender algumas questões. Por que muitos leem a Bíblia e
não a entendem nem apreendem seu conteúdo espiritual? Por que tantos acham
difícil ou mesmo impossível cumprir o que ela ordena? Por que inúmeros cristãos
têm sua Bíblia aberta em casa no Salmo 91, bem ao lado de um bar ou de imagens
de escultura? Por que, mesmo dizendo acreditar na Bíblia, tantos crentes se
deixam levar pelo ensino mentiroso dos falsos profetas? Por que muitos que leem
a Bíblia vivem no pecado? Se o Espírito Santo não nos guiar, a Palavra não nos
transformará. Sem uma visão espiritual, o sobrenatural de Deus não se revela
(veja 2 Reis 6:15-17). Sem a regeneração efetuada pela graça de Deus, nossos
esforços serão inúteis. Quem não é morada do Espírito, está ainda perdido. Mas
aquele que é templo do Espírito Santo, deve viver sob sua dependência, pedindo
sabedoria e iluminação espiritual para entender a vontade de Deus e praticá-la.
É Isto que demonstra que verdadeiramente somos transformados por Cristo: se
guardamos os seus mandamentos (1 Jo 2:3-6). Afinal, este é o objetivo de ler e
entender a Bíblia: encarnar suas verdades e vivê-las. A fé sem obras é morta
(Tg 2:18-26).
Dever de casa: Pesquise na Internet
ou em um livro de teologia sobre a revelação de Deus. O que é a Bíblia? Como
ela chegou até nós? Quem a escreveu? Como? Qual a sua importância?
CONHECIMENTO E
PRÁTICA
Leia: Jó 42:1-6
Embora
este estudo seja apenas a ponta do iceberg de tudo que há para aprender sobre o
tema proposto, podemos concluí-lo afirmando que sem a intervenção poderosa do
Espírito Santo é impossível haver conhecimento de Deus e da sua Palavra, muito
menos salvação e transformação integral de vida. Tudo é um processo que se
iniciou ainda no Paraíso, e teve seu ápice na cruz e na subida aos céus do
Cristo ressurreto. Como participantes dessa gloriosa benção, crescemos na
medida em que avançamos, prosseguindo rumo à perfeição, como o apóstolo Paulo
(Fp 3:12). Deus trata nossos pecados e limitações. Ele nos aperfeiçoa
diariamente, provando-nos e provando-nos (Tg 1:2-4,12; 1 Pe 1:6,7; 4:12-14).
Eis a diferença que a Palavra opera na vida do crente: ela o santifica. E o
fato se sermos santos revela a nossa natureza regenerada. Conforme escreveu J.
C. Ryle, em seu livro "Santidade" (ed. Fiel, 2002): "Devemos ser
santos, porque essa é a única evidência segura que possuímos fé salvadora em
nosso Senhor Jesus Cristo" (p. 67).
Lembre-se:
embora a fé deva ser exercida com o uso da razão, o conhecimento de Deus e a fé
em Cristo não partem de um assentimento meramente intelectual, mas são uma obra
produzida pelo Espírito Santo. Podemos chamar Jesus de Senhor sem jamais tê-lo
conhecido (Mt 7:21). A verdadeira transformação operada pela Palavra de Deus só
é possível e conduz à vida eterna quando é o Espírito que atua na vida do
perdido. Não somos nós que deliberadamente o escolhemos, mas é Deus quem nos
escolhe (Jo 15:16). Sendo escolhidos e regenerados pela Palavra da verdade (Ef
1:13; Cl 1:5; Tg 1:18), podemos experimentar sensíveis transformações diárias
do nosso caráter, temperamento, ideologias, relacionamentos e vocações. Além
disso, somos transformados com propósitos bem específicos: praticar as boas
obras (Ef 2:8-10), salgar e iluminar o mundo (Mt 5:13-16), dar frutos (Jo
15:15,16), testemunhar de Cristo (At 1:8), amar com o amor com que fomos amados
(Gl 6:2; Tg 2:8; Jo 15:12), ensinar e discipular outros (Mt 28:19,20).
Deus
se revela para que o obedeçamos (Dt 29:29). O conhecimento de Deus através da
sua Palavra nos torna pessoas melhores: pais, filhos, patrões, empregados,
crentes, etc. Esse conhecimento deve ser correto: a sã doutrina (1 Tm 4:6,7; 2
Tm 4:2-4; 6:3; Tt 1:9). Mas não deve ficar só no conhecer. É preciso praticar.
E a prática da Palavra se resume em um único verbo: amar. Não existe
espiritualidade cristã e vida íntegra sem coerência entre aquilo que cremos
(ortodoxia) e aquilo que praticamos como fruto dessa crença (ortopraxia). O Senhor Jesus nos ensinou: “Nisto conhecerão
todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:35).
Ser discípulo de Cristo envolve crer nele; ser conhecido como seu discípulo
envolve a prática do amor. A mensagem do Evangelho é uma mensagem de amor, de
fé, de perdão, de restauração, de reconciliação, de esperança, de abandono do
pecado, de obediência, de adoração e de serviço a Deus. A transformação se dá
por meio do amor e gera amor. Se amamos com o amor de Deus, a transformação já
aconteceu e continuará a acontecer.
Dever de casa: Ore. Frequente os
cultos de ensino da sua igreja e a escola bíblica dominical. Leia a Bíblia
diariamente. Leia livros de teologia. Participe de seminário teológico ou
grupos de estudo da Palavra de Deus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos
ao fim do nosso estudo. Espero que você tenha aprendido bastante sobre o poder
transformador da Palavra de Deus. Esta Palavra não é somente inspirada, mas
também é útil (2 Tm 3:16,17). Ela existe para cumprir seu propósito no mundo,
na Igreja e na vida de cada crente individualmente. Mas não basta saber, é
preciso aplicar a verdade bíblica de maneira contextualizada à nossa realidade
atual. Não basta ter fé, é preciso ter a fé salvífica despertada pelo Espírito
Santo. Desejo finalizar com alguns pontos que mostram a importância da Bíblia
para nós e o poder que ela exerce sobre a vida daquele que, pela graça de Deus,
tem fé em Jesus Cristo.
✔ Ela é divinamente
inspirada, não contém erros nem mentiras. Podemos confiar plenamente no seu
conteúdo (2 Tm 3:16,17; 2 Pe 1:19-21).
✔ Ela é a Revelação
específica de Deus para nós. Ela mostra quem Deus é (sua natureza e seu
caráter) e qual a sua vontade para a humanidade e para a Igreja (Hb 1:1-4; 1 Sm
3:4; 1 Rs 9:9,13).
✔ Ela nos mostra
Cristo e nos torna sábios para a salvação (Jo 14:6; 20:30,31; At 4:12; 2 Tm
3:15).
✔ Ela nos mostra o
nosso pecado e se mostra como poder de Deus para a salvação daquele que crê em
Jesus. Fora das Escrituras Sagradas não existe possibilidade de salvação (Gl
3:22; Rm 1:16).
✔ Ela é a única fonte
divina de fundamento da nossa fé e nos protege das heresias. Tudo o que
precisamos saber a respeito daquilo que cremos está na Bíblia (Gl 1:6-10). Ela
é a nossa fonte da verdade (Jo 17:17).
✔ A Bíblia nos fornece
todos os elementos essenciais para uma vida espiritual sadia e prática,
transformando o nosso caráter e nos capacitando para a obra do Senhor,
mostrando-nos os princípios de Deus (Gl 5:22,23; Hb 4:12; 2 Tm 3:16).
✔ Através da Bíblia
somos ensinados, corrigidos, repreendidos e educados por Deus (2 Tm 3:16).
Somos também advertidos por Ele (1 Co 10:10-12; Sl 19:11).
✔ Conhecer a Palavra
de Deus nos traz alegria, esperança, gozo, sabedoria e entendimento (Jr 15:16;
Sl 19:7-10; 2 Pe 3:18; Rm 15:4). Ela é uma fonte de ricas bênçãos para quem a
obedece (Lc 11:28). Não basta ler a Bíblia e as bênçãos nos perseguirão: é
preciso nos comprometer com seu conteúdo.
✔ Ele nos dá direção.
Por ela somos preservados do erro (Sl 119:11,105).
✔ Temos a nossa vida
purificada e somos levados à maturidade e equipados para a vida (Jo 15:3; 2 Tm
3:17). Ela é fonte de crescimento (Jo 15:3; 1 Pe 2:2).
✔ A Palavra de Deus
nos sustenta nas dificuldades (Sl 119:92).
✔ A Palavra de Deus é
a nossa fonte segura de poder (Rm 1:16).
Dever de casa: Pesquise e estude
HERMENÊUTICA. Ela o ajudará a compreender melhor o texto bíblico, sob a direção
do Espírito Santo.
AUTOR: Mizael de Souza
Xavier
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