Quando falamos da característica do
nosso inimigo como o “grande dragão”, e também quando estudamos a respeito dos
falsos mestres, vimos que uma das formas que Satanás emprega para enganar os
seus seguidores é o uso de sinais miraculosos produzidos por diversas
religiões, incluindo o cristianismo evangélico. Cabem aqui algumas
considerações a respeito dessas operações enganadoras na batalha espiritual,
tendo em vista que muitos crentes têm-se deixado levar por esse tipo de coisa,
abandonando a verdade do Evangelho para viver uma fé supersticiosa, baseada em
sinais e prodígios, desprendida de valores bíblicos e da sã doutrina. Quando se
fala em milagres, a primeira coisa que nos vêm à mente é que nosso Deus é um
Deus de milagres, de maneira que todo milagre está diretamente ligado a Ele.
Entretanto, não é isso que vemos nas Escrituras. Desde o início, Satanás tem
demonstrado capacidade para realizar alguns prodígios sobre a terra, com o
intuito de desviar os homens da verdade ou simplesmente imitar o poder de Deus.
Não é errado afirmar que, assim como era no
passado, aqueles que creem em Deus esperam testemunhar algum milagre. Isso pode
acontecer como uma forma de sustentar a sua fé, que não pode se manter de pé
sem a presença de algum sinal extraordinário. Muitos, quando oram pedindo algo
a Deus, pedem também um sinal de que Ele está escutando e de que responderá a
sua oração. O desejo por milagres não é apenas fruto da necessidade de curas e
libertações, mas consequência de uma desconfiança constante da presença e do
poder de Deus. A presença dos milagres é tão maciça na fé evangélica que
existem cultos dedicados especialmente a eles, onde os crentes são chamados a
receberem o seu milagre, com local e hora marcados. Junto a esses milagres,
profecias e novas revelações aparecem como uma voz especial de Deus dirigida à
Igreja, onde novas doutrinas acabam por nascer através de uma leitura
totalmente deturpada da Bíblia.
Não queremos discutir aqui a veracidade dos
milagres nos dias de hoje, mas as consequências que esta busca por sinais e
maravilhas exerce sobre a fé evangélica e o risco que essas pessoas correm de
serem iludidas por Satanás. Na Bíblia, os milagres eram agentes da revelação,
apontando para a presença de Deus na História humana e para a veracidade do
ministério de Cristo. O próprio João escreveu a respeito do conteúdo do seu
Evangelho: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais
que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida
em seu nome” (Jo 20:30,31). Quando foi convocado para libertar o povo de Deus
da escravidão do Egito, Moisés questionou o Senhor, afirmando que jamais
creriam nele nem dariam ouvidos à sua voz. Deus, então, deu-lhe dois sinais
para serem feitos diante do povo incrédulo, de modo a levá-los a crer que o
Senhor o estava enviando a eles. (Gn 4:1-9). Deus lhe disse: “Se eles não crerem,
nem atenderem à evidência do primeiro sinal, talvez crerão na evidência do
segundo” (v. 8). Hoje acontece da mesma forma: as pessoas precisam presenciar
sinais e milagres para ter certeza de que Deus está falando e agindo.
A questão em foco aqui está na possibilidade
de um falso profeta realizar um sinal ou um milagre, sendo instrumentalizado
por Satanás. Ainda no Êxodo, quando Moisés lançou seu bordão diante de Faraó e
seus oficiais, ele se transformou em uma serpente (7:10). Vindo os sábios e
encantadores do Egito, operaram o mesmo sinal que Moisés, utilizando suas
ciências ocultas (v. 11). Neste episódio, o milagre realizado pelos egípcios
demonstrou-se mais impressionante que o de Moisés, pois não era apenas um
bordão, mas vários (v. 12). Embora o bordão de Moisés tenha devorado os outros,
o que vemos é que o diabo também tem poder, dado por Deus, para realizar
prodígios com o fim de enganar e desviar as pessoas da verdade. A questão
crucial é: a que propósito os milagres servem? Eles revelam a Deus e conduzem a
Cristo ou são um fim em si mesmos, servindo apenas para satisfazer a
necessidade humana de prodígios e bênçãos? Como vimos, existem alguns
princípios que devem nortear a nossa busca pela verdade em todas as coisas para
discernir se elas procedem de Deus ou do diabo. Se um sinal maravilhoso não
glorifica a Deus nem conduz o homem a um estado de dependência total dele e de
santidade, não é de Deus.
Tanto o objetivo quanto o caráter dos sinais
produzidos por Satanás são mentirosos. Isto fica bastante claro em Deuteronômio
13:1,2: “Quando profeta ou sonhador levantar no meio de ti e te anunciar um
sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e
disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás
as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o Senhor, vosso Deus, vos
prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração e de
toda a vossa alma”. Três lições são tiradas desse texto. Primeira: existe a
possibilidade de sinais praticados por indivíduos que se dizem profetas e
sonhadores, o que é muito comum nas igrejas atuais, acima de tudo
neopentecostais, onde cada sonho é com certeza uma revelação. Segunda: o
objetivo da realização do sinal é afastar o crente de Deus e induzi-lo ao erro.
No caso da Igreja, os crentes não são chamados a servir a outros deuses, mas a
si mesmos; eles são induzidos a barganhar bênçãos de Deus e a praticar uma
religiosidade baseada no dizimar pare receber. Terceira: está claro no texto
que os sinais realizados pelos falsos profetas possuem, também, um objetivo
divino: provar seus filhos com o objetivo de ver para que lados eles
caminharão. Geralmente, falando-se da fé atual, as pessoas caminham para si
mesmas, para uma necessidade cada vez mais constante de “tocar o sobrenatural”
de Deus para serem abençoadas.
Os sinais por si sós não comprovam nenhuma
direção ou presença divina (Êx 7:11,12; Mt 7:22,23; 24:24; Ap 13:13,14). Eles
também não comprovam que Deus está agindo ou legitimando esta ou aquela crença
ou prática espiritual. Algo implícito no dia do Grande Julgamento, quando
muitos comparecerão diante do Senhor afirmando-se serem suas ovelhas (Mt
7:22,23), é que eles profetizaram, expeliram demônios e fizeram muitos
milagres. Eles com certeza impressionaram muitas pessoas, tiveram muitos
seguidores, realizaram muitos sinais, mas não poderão entrar no Reino dos céus.
A natureza dos seus sinais não era propriamente divina, mas escondia uma obra
maligna que não visava a glória de Deus, mas a iniquidade. O que vemos em
grandes denominações atualmente são operações de sinais e maravilhas, onde
milagres são forjados e êxtases espirituais são conseguidos por meio da
aplicação da hipnose. Essas denominações arrebanham grande número de seguidores
ávidos por essas coisas, desejosos de receber as bênçãos que eles prometem
trazer, impressionados com as supostas maravilhas que lá são operadas. Se o
milagre pode acontecer por meio de uma atuação demoníaca, o falso milagre
também. Não é fácil criar truques de mágica. Muitos estão disponíveis no
mercado e nos shows de mágica espalhados pelo mundo.
Ao falar das últimas coisas antes do seu
retorno glorioso, o Senhor Jesus traz um alerta a respeito de muitos homens
mentirosos que virão afirmando-se como Cristos: “Porque virão muitos em meu
nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos” (Mt 24:5). Ele previne:
“Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis;
porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (vs. 23,24). Esses
falsos cristos e falsos profetas já estão no nosso meio. Eles pregam ilusões e
fazem sinais para aprisionar os incrédulos à sua doutrina e deles poder fazer
comércio (2 Pe 2:3). Embora haja previsão a respeito da vinda do Anticristo (2
Ts 2:3,4), o seu espírito já opera em muitos anticristos espalhados pelo mundo
desde a era apostólica (1 Jo 2:18-22; 4:3; 2 Jo 1:7). Aqui está uma questão
importante: muitos espíritos enganadores e anticristos estão presentes em
denominações que promovem toda espécie de maravilhas por meio de cultos de cura
e de libertação, uso de objetos ungidos para trazer prosperidade e curar,
campanhas com propósitos envolvendo dízimos e ofertas com a intenção de receber
algo de Deus, além de profecias e novas revelações. Não importa o quão absurdo
seja o objeto ou a campanha, os fiéis desses movimentos se entregam totalmente
e doam suas posses para ver o milagre acontecer. Eles não se importam com a
idoneidade dos pregadores e fazem vistas grossas ao fato de que estes
enriquecem às suas custas. Eles não se preocupam se o que está sendo pregado ou
realizado por meio desses ministérios está totalmente fora da sã doutrina.
Embora os falsos profetas e anticristos já estejam
operando no nosso meio, em breve virá coisas ainda maiores e mais
impressionantes. O apóstolo fala a respeito do ministério da iniquidade que já
opera desde aquela época e do homem da iniquidade (2 Ts 2:1-12). O seu
aparecimento, segundo Paulo, “é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder,
e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que
perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (vs. 9,10). No
final dos tempos, a segunda besta que aparecerá após a primeira que fora curada
de uma ferida mortal, também vai operar grandes sinais, “de maneira que até
fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens” (Ap 13:11-13). Ela “Seduz os
que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante
da besta” (v. 14a), de modo que até à imagem da besta esta irá fazer falar (v.
15). A pergunta crucial deste capítulo do nosso estudo é: quem são esses que se
deixarão facilmente enganar pelos sinais maravilhosos produzidos pela besta? O próprio
Senhor responde: “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que,
com sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e
eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago
que arde com enxofre” (Ap 19:20).
Vimos que os sinais miraculosos produzidos
pelo falsos profetas não podem enganar os eleitos de Deus (Mt 24:23,34). Aqueles
que são de Deus, ouvem a sua voz e procuram identificá-la em tudo o que ouvem e
veem. Eles não aceitam prontamente qualquer sinal maravilhoso ou milagre, por
mais impressionante que lhes pareça, mas questionam o seu caráter, a sua
motivação e a sua veracidade, tendo como base as Escrituras Sagradas. Os eleitos
possuem o Espírito Santo, que os torna sensíveis às coisas espirituais e lhes
dá discernimento para definir o que é divino e o que é diabólico. Eles são chamados
de céticos e de incrédulos pelo grupo que está sempre em busca de sinais e
maravilhas, que dá crédito a qualquer milagre, que não questiona o caráter e a
motivação de nada que veem ou ouvem dizendo ser de Deus. Este grupo será
facilmente enganado pelo falso profeta, pelo anticristo e pela Besta, porque se
impressionarão com seus prodígios, adorando-os e servindo-os. São esses os que não
acolhem nem nunca acolherão o amor da verdade. Por esse motivo “Deus lhes manda
a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados
tantos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário,
deleitaram-se com a injustiça” (2 Ts 2:11,12).
Na nossa batalha espiritual contra os poderes
das trevas, vemos o quanto é importante desenvolvermos uma fé sadia, baseada
totalmente nas Sagradas Escrituras e na sã doutrina ensinada por Jesus e pelos
apóstolos. Esta guerra, como vimos nos versículos acima, será sempre uma luta
constante da mentira contra a verdade. A mentira provém da injustiça e
igualmente a produz. Esta injustiça não diz respeito apenas às práticas enganosas,
mas também porque contrariam a justiça de Deus baseada na fé em Cristo para a
remissão dos pecados. A fé dos eleitos é racional e não se deixa levar por
fatos sem explicação, por palavras e obras de homens que se intitulam servos de
Deus, quando na verdade são falsos profetas e anticristos. O Senhor Jesus disse
que faríamos obras maiores que as que Ele próprio fazia (Jo 14:12), o que não significa
que toda grande obra parte do Pai. Nem todas revelam Deus ou apontam para a
glória do seu Filho. As obras estão condicionadas ao caráter de Deus e a
Revelação. Elas não podem trazer novas revelações nem contrariar o conteúdo
daquela que já temos em mãos. Elas não podem aprisionar o crente num sistema
religioso que o afasta do Evangelho genuíno nem prendê-lo a um esquema de
sacrificar sua vida financeira para barganhar as bênçãos de Deus. As obras que
promovem isso vêm do diabo. Não é pecado, mas um dever de fé e de consciência
questionar todos os sinais, prodígios e milagres realizados na Terra, acima de
tudo por pessoas que de autodeclaram enviadas por Deus.
Mizael Xavier
ATENÇÃO:
Este texto é parte integrante do livro “Batalha
espiritual: uma luta a favor da verdade”, de minha autoria. COMPRE AGORA NA AMAZON. Todos
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