Existe um movimento que tem surgido no meio cristão denominado “os desigrejados” ou “os sem-igreja”. São pessoas que rejeitam o modelo atual de igreja, com seus templos, líderes, placas, sistemas de governo, convenções, estatutos e regras. Esses indivíduos querem seguir a Cristo, mas sem depender da igreja institucional. Eles geralmente se reúnem nas casas e se posicionam contra as igrejas convencionais. Pressupõe-se que nas reuniões desses grupos não existam líderes nem regras; que não há um espaço físico (troca-se o templo pela casa) nem obrigações a serem cumpridas pelos seus adeptos, o que com certeza não é verdade. O que queremos debater aqui ao falar a respeito dos desigrejados, é algumas das razões que levam muitas pessoas a saírem da Igreja, a abandonarem as suas congregações e enveredarem por esse tipo de caminho. Alguns estão decepcionados com igrejas neopentecostais, que lhes prometeram bênçãos que acabaram não recebendo. Outros saíram de suas igrejas porque, como vimos no ponto “d”, deixaram-se influenciar negativamente pelo mau testemunho dos outros e não foram maduros o suficiente para se manterem firmes na fé. Alguns migram de igreja em igreja na busca por um lugar perfeito, onde não haja pecado de espécie alguma, o que subtende-se que tais indivíduos sejam pessoas incapazes de pecar ou se sintam espirituais e perfeitas demais para conviverem com aqueles que julgam inferiores.
A tarefa do evangelista, neste caso,
é mostrar aos desigrejados e àqueles que vivem a migrar entre igrejas que não
existe uma igreja perfeita aqui na terra, mas que em todas haverá pecadores e
os problemas consequentes desta realidade. Se a igreja primitiva é proposta
como modelo para o cristianismo atual, é preciso estudar a Bíblia e ver que ela
nunca foi uma igreja perfeita, muito pelo contrário. Todos os problemas que
hoje condenamos nas diversas denominações espalhadas pelo mundo, existiam nas
igrejas fundadas pelos próprios apóstolos. Vejamos alguns exemplos:
·
Igreja de Corinto: era uma igreja que,
assim como nos dias de hoje, possuía “grupinhos” (1 Co 1.12), tinha muitos
crentes invejosos e também contendas (1 Co 3.3), além de brigas entre irmãos na
justiça secular (1 Co 6), e fornicação (1 Co 5). A Igreja de Corinto possuía
muitos dons espirituais, mas mesmo assim era reputada por Paulo como uma igreja
carnal (1 Co 3:1), onde parecia não haver a presença do amor.
·
Igreja de Éfeso: apesar de ter sido alicerçada
sobre a Palavra, era uma igreja que demonstrava pouco amor (Ap 2:4). Após a
saída do apóstolo Paulo, aquela igreja experimentaria a presença de lobos
vorazes e falsos mestres (At 20:29,30).
·
Igreja de Tessalônica: alguns crentes
desta igreja andavam desordenadamente e não gostavam de trabalhar (2 Ts 3:11).
·
Igreja de Filipos: na igreja de
Filipos havia desentendimento entre os irmãos. Duas irmãs, inclusive, não tinham
pensamentos tão divergentes que foram citadas na carta escrita por Paulo (Evódia
e Sínteque, Fp 4:2).
·
Igreja de Colossos: esta igreja
enfrentava um terrível problema de heresias. Alguns estavam querendo colocar em
dúvida a divindade de Cristo. Além disso, nela havia até mesmo culto aos anjos
praticado por pessoas de mente carnal (Cl 2:18). Nesta igreja havia, inclusive,
visões trazidas por pessoas que não eram crentes, porque não tinha Cristo como
sua cabeça (v. 19).
·
Igreja da Galácia: além de estarem
decaindo da graça e dando atenção aos hereges judaizantes, naquela igreja havia
crentes que estavam devorando uns aos outros (Gl 5:2-4,15).
·
Igreja de Tiatira: esta igreja
tolerava uma mulher que se dizia profetiza, mas que ensinava os irmãos a se
prostituírem e a comer sacrifícios de idolatria (Ap 2:20).
·
Igreja de Laodicéia: ela era uma igreja
que enfrentava dois problemas espirituais: era uma igreja morna que causava
náuseas em Deus; e também uma igreja que se achava autossuficiente. O Senhor
afirma que ela era infeliz, miserável, pobre, cega e nua (Ap 3:15-17).
·
Igreja de Pérgamo: a igreja de Pérgamo
tinha sérios problemas doutrinários, permitindo que no meio dela se ensinasse a
doutrina da Balaão e dos nicolaítas (Ap 2:14,15).
·
Igreja de Jerusalém: esta igreja sede
deveria ter tudo para ser perfeita, pois contava com a presença dos apóstolos.
Todavia, foi um deles – Pedro – que demonstrou preconceito contra os crentes
gentios e agiu de maneira dissimulada, temendo os crentes judeus (Gl 2:12,13).
Além disso, já havia ocorrido murmuração entre seus membros (At 6:1) e crentes
que mentiam descaradamente (At 5:1-11).
Não vemos os apóstolos abandonando essas
igrejas, mas os encontramos amando os irmãos, orando por eles e com eles,
aconselhando, exortando, admoestando (Tg 1:22; 1 Ts 5:14-22; 1 Jo 1:9; Ef
4:1-3; Cl 3:17; 1 Co 6:18-20; 15:33; 2 Co 13:11; Fp 2:1-4; 1 Tm 5:21; 1 Ts 4:1,2; 2 Ts 3:11-13; Hb
13:22). O que precisa estar claro para o evangelista e ele deve passar para os
crentes adeptos dessa nova teologia, dessa forma equivocada de pensar e viver a
Igreja, é que o corpo de Cristo na terra é composto de pessoas que erram, de
pecadores redimidos, mas que são imperfeitos, sendo santificados e
aperfeiçoados diariamente em Cristo, pelo Espírito Santo. Os crentes amadurecem
todos os dias no convívio com as suas próprias imperfeições e as imperfeições
dos seus irmãos, amando-se uns aos outros, exortando-se e aconselhando-se
mutuamente (1 Ts 5:10,11). Se não suportarmos as debilidades dos fracos, como
poderemos fortalecê-los que a nossa fé que julgamos madura? O conselho do
apóstolo Paulo aos desigrejados é: “Ora, nós que somos fortes devemos suportar
as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos. Portanto, cada um de
nós agrade ao próximo no que é bom para a edificação. Porque também Cristo não
se agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te
ultrajavam caíram sobre mim” (Rm 15:1-3). A Igreja perfeita será aquela que
estará na glória com o Senhor, sem pecado algum (Ef 2:27) e que consta de todos
os que possuem os seus nomes escritos no Livro da Vida e fazem parte da grande
Assembleia universal de Deus nos céus (Hb 12:23).
MIZAEL XAVIER
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