sexta-feira, 30 de junho de 2017

A ARMADURA DE DEUS



Como vimos, temos um inimigo feroz que deseja nos tragar. Embora não seja possível ao diabo fazer a nossa alma se perder, uma vez que já estamos selados por Cristo para a salvação, ele pode nos levar a desanimar e pecar quando nos tenta em nossas fraquezas e nos afasta da intimidade com Deus. O que fortalece o caráter do crente e o mantém de pé e longe do pecado é o seu compromisso com Cristo, o seu cuidado na oração, bem como na leitura e na prática da Palavra. Essa, porém, não é uma batalha na qual o crente luta só, onde emprega seus esforços pessoais. Se a nossa luta é espiritual, as nossas armas também são espirituais. O apóstolo Paulo registrou: “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (1 Co 10:3-5). Seja na nossa luta interna contra o pecado ou no confronto direto com as hostes malignas, o poder que nos move e nos faz vencer não é nosso, mas vem de Deus e tem como objetivo levar todo pensamento à obediência de Cristo.

a) Enfrentando o dia mau. O evangelista deve esperar esse constante confronto, seja interno ou externo, devendo estar preparado com toda a armadura de Deus para que possa resistir no dia mau (Ef 6:13). Todos os dias nós enfrentamos esse “dia mau”. O próprio apóstolo Paulo enfrentava dias como esse; “Porque chegando nós à Macedônia, nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro” (2 Co 7:5). Em Hebreus 11, vemos que os dias maus fazem parte do cotidiano de todos os servos de Deus: lutas, tribulações, perseguições, tentações, desemprego, separações e tudo aquilo que pode nos fazer fraquejar da fé. Todavia, o mesmo Paulo era consolado pelo “Deus que conforta os abatidos” (2 Co 7:6). Em tudo era atribulado (2 Co 4:8-11), mas não desanimava, pois sabia o propósito de todo o seu sofrimento e entendia que era passageiro (vs. 12-18). Ele, então, apresenta aos efésios as armas espirituais da nossa milícia, capazes de nos dar a vitória e nos manter inabaláveis (Ef 4:14-18), como veremos a seguir.

b) O cinturão da verdade (v. 14). O apóstolo Paulo toma como figura da armadura espiritual do cristão a armadura utilizada pelos soldados romanos na sua época.  O cinturão era uma peça de couro que prendia as extremidades da túnica do soldado para não atrapalhar a agilidade dos seus movimentos. A falta da verdade é algo que pode atrapalhar bastante a nossa vida espiritual. Em primeiro lugar, é preciso que estejamos cingidos com a verdade do Evangelho de Cristo, não pregando nem vivendo outra mensagem que não seja a da cruz. A verdade é a essência da Palavra de Deus (Sl 119:160), e é ela que deve guiar o evangelista (Sl 25:5). Em segundo lugar, devemos viver essa verdade, não tendo do que nos envergonhar diante de Deus nem dando lugar ao maligno. Quem não anda na verdade, pratica a mentira, comete pecados e dá lugar ao inimigo. Fomos gerados pela palavra da verdade (Tg 1:18), logo, devemos seguir a verdade em amor para que cresçamos em Cristo (Ef 4:15). O crente precisa ser honesto, íntegro, sincero, verdadeiro. A mentira é filha do diabo (Jo 8:44).

c) A couraça da justiça (v. 14). A couraça do soldado romano era uma peça de metal que protegia o seu peito e as suas costas, assumindo, aqui, dois significados. O primeiro diz respeito à certeza da justificação em Cristo por meio da fé (Rm 5:1), que lhe traz paz com Deus e lhe garante a salvação eterna (Rm 8:1; Jo 3:36). O crente era um pecador faminto e sedento por justiça e foi saciado por Deus (Mt 5:6). Muitas vezes, quando pecamos, somos levados a pensar que não fomos perdoados por Deus, que ainda estamos mortos em nossos pecados e, por isso, não somos seus filhos. Entretanto, o apóstolo João escreveu: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo 2:1). O nosso Advogado já defendeu a nossa causa com seu sangue e o Juiz já nos absolveu dos nossos pecados (1 Pe 2:24). Não temos que ter dúvidas quanto a nossa justificação. O segundo significado diz respeito à prática da justiça como resultado do perdão de Deus que nos alcançou, buscando viver em santidade e praticar a sua Palavra, obedecendo-o (Is 11:5). Essa questão também envolve a prática e a busca por justiça. Da mesma forma como a busca por justiça era o centro da adoração e da vida do povo de Israel (Dt 27:29; Jr 22:3), o chamado da Igreja de Cristo é para uma vida renovada pela justiça de Deus, que implica numa fé prática, desprendida do egoísmo e da hipocrisia e com consequências positivas na vida daqueles que sofrem. O que Deus pede do seu povo é a prática da justiça e submissão à sua vontade (Rm 12:2; Cl 1:9,10).

d) O calçado do Evangelho da paz (v. 15). A “preparação do evangelho da paz” conota um equipamento (como um arco) que o cristão deve possuir na sua batalha contra as forças hostis das trevas. Isso nos faz lembrar que a nossa luta não é contra sangue ou carne (v. 12); isto é; não lutamos contra as pessoas, contra as suas crenças, sua maneira de ser, sua cultura. Mesmo quando está claro que algumas pessoas estão sendo instrumentos nas mãos do diabo, o evangelista deve lembrar que essa batalha não é algo pessoal que alguém tem contra ele, e por isso não pode revidar, brigar, criar problemas e desavenças, mas vencer por meio da paz. O ódio que o mundo tem por nós, discípulos de Jesus, não é novidade (Jo 15:18,19; Mt 10:22), mas somos exortados a buscar a paz com todos os homens sempre que possível (Rm 12:18,19). O evangelista é um pacificador (Mt 5:9), aquele que leva as boas-novas que fazem a paz entre o pecador e Deus (Ef 2:14; Cl 1:20; Rm 5:1; Hb 7:2). Não podemos deixar de levar em conta o termo “evangelho” neste versículo. A nossa arma contra Satanás não é a nossa ideologia nem a nossa denominação; também não é qualquer mensagem, mas é o Evangelho da paz. Se a mensagem não promoveu a paz entre o pecador e Deus perdida na Queda, então não era o Evangelho.

e) O escudo da fé (v. 16). O escudo, para o soldado romano, era uma peça feita de madeira e revestida de couro e metal que o protegia do ataque de espadas, lanças, flechas e outras armas de guerra do inimigo. Lembrando do que foi aprendido anteriormente, vemos o inimigo como adversário que ataca a fé do cristão para destruí-la e desviá-lo dos caminhos do Senhor. Quem já viu filmes de guerras do tempo do império romano ou medievais, assistiu aquela cena em que os soldados estão no campo de batalha, enquanto do outro lado, os soldados do campo inimigo lançam sobre eles uma chuva de flechas, algumas flamejantes. A sua única proteção contra a morte certeira é o escudo. O diabo pode lançar dúvidas quanto à nossa fé, a integridade do nosso caráter, a nossa confiança e esperança em Deus. Ele pode, inclusive, tentar fazer com que percamos essa confiança e esperança. Outro atentado de Satanás contra a fé do crente é desviar-lhe da sã doutrina para seguir falsos ensinos, como ocorreu com os gálatas (Gl 1:6-9). O apóstolo Pedro apresenta a firmeza na fé como uma forma de resistir às investidas de Satanás: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1 Pe 5:8,9). Até mesmo as tribulações podem ser estratégias do diabo para nos desviar do nosso foco. A fé que pregamos e vivemos é totalmente baseada nas Sagradas Escrituras; ela gera obediência a Deus, frutos e obras. Crer, até os demônios creem, e tremem (Tg 2:19).

f) O capacete da salvação (v. 17). O capacete era uma peça de metal ou couro que protegia a cabeça do soldado contra objetos lançados contra ele. É interessante como o apóstolo Paulo escolhe esta parte da armadura para falar sobre a salvação. A cabeça envolve mente, intelecto, a direção de todo o corpo. É a cabeça – o cérebro – que transmite ordens para o corpo agir. Quando ela tem dúvidas sobre o que fazer, não emite comando algum e o corpo não age nem reage. Em 1 Tessalonicenses 1:4-9, Paulo fala a respeito da necessidade de vigilância com relação à vinda do Senhor. Os filhos das trevas não vigiam (v. 5), mas aqueles que são de Cristo se mantêm sóbrios, revestindo-se da couraça da fé e do amor e “tomando como capacete, a esperança da salvação” (v. 8). O v. 9 revela que esse capacete é a certeza de que somos salvos, que não podemos nos perder, por mais que o diabo nos tente e por mais que ele queira nos tragar, “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo”. Jesus já nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do seu Santo Espírito, de modo que nos tornamos herdeiros segundo a esperança da vida eterna, por meio da justificação pela graça (Tt 3:5-7). Muitas formas de crer e pregar a Bíblia estão tirando essa certeza da salvação da mente dos crentes. Em primeiro lugar, através de doutrinas como o arminianismo, que prega a perseverança dos santos em detrimento da graça eficaz de Deus. Em segundo lugar, retirando da pregação esta salvação, oferecendo outros elementos mais interessantes aos padrões do cristão moderno, como bênçãos e milagres. Sem o conhecimento da salvação, não vem a sua certeza, mas uma fé ilusória que não tem sustentabilidade, não leva para o céu e não protege ninguém contra as investidas de Satanás.

g) A espada do Espírito (v. 17). O conhecimento correto da Palavra de Deus é que decidirá a nossa vitória no campo de batalha. Qualquer dúvida com relação a tudo o que foi dito anteriormente demonstrará falta de fé e confiança em Deus. Partir para a guerra sem a nossa arma principal, a Bíblia, significa entregar-se ao inimigo. Para o evangelista, a espada do Espírito é crucial; ela é sua arma e seu instrumento de trabalho. Sem ela não existe evangelismo. Não é o nosso testemunho nem as nossas experiências que nos levarão a vencer o inimigo, mas a Palavra de Deus. Ela é a espada que usamos na luta corpo a corpo com as trevas. Se o evangelista não dominar essa Palavra com destreza, ela pode ser usada contra ele pelo próprio Satanás, como aconteceu com Jesus na tentação no deserto. Jesus repeliu as ações do inimigo com a Palavra de Deus. Satanás vinha com uma verdade distorcida, e Jesus rebatia com a verdade genuína (Mt 4:1-11). Muitos crentes, incluindo evangelistas, não querem ler nem estudar a Bíblia, por isso a sua fé vacila e o diabo os conduz à queda. O evangelista deve ser um obreiro aprovado que maneja bem a Palavra da verdade (2 Tm 2:15). Mas não basta apenas dominar o conteúdo da Bíblia, é preciso colocá-lo em prática (Tg 1:22). Este estudo está repleto de indicações a respeito do valor da Bíblia e da importância do seu estudo para o evangelista.


h) A oração e a súplica (v. 18). Paulo finaliza a descrição da armadura espiritual do Cristão afirmando que ela deve ser tomada e utilizada com “toda oração e súplica, orando o tempo todo no Espírito, e para isso vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”, e também por ele (v. 19). A oração demonstra dependência, submissão e confiança em Deus. Na luta contra o inimigo, esses três fatores devem ser observados, pois a nossa luta não é contra o sangue nem contra a carne, mas também não pode ser nem por meio do sangue nem por meio da carne. As armas da nossa milícia são espirituais, não seguem o padrão do mundo, mas são poderosas em Cristo (2 Co 10:3-5). Essa oração não é apenas individual, mas comunitária, envolve a preocupação com os outros que também enfrentam lutas. Muitos estão presos pelas cadeias do inimigo e ainda não aceitaram a Jesus. É preciso orar por eles e com eles, sentir a sua dor e oferecer-lhes auxílio espiritual. No campo de batalha do mundo, o único inimigo verdadeiro é o diabo. 

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quinta-feira, 22 de junho de 2017

A FÉ QUE SALVA E A FÉ QUE NÃO SALVA



A declaração de Paulo ao seu carcereiro em Atos 16:31, onde ele afirmou: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”, deixa bastante claro que a salvação vem por meio da fé em Jesus Cristo. Então isto significa que basta crer em Jesus para ser salvo? Para responder esta pergunta é necessário compreendermos a natureza desta fé. Em primeiro lugar, a fé que salva não é a mera crença na existência de Deus e no sacrifício de Cristo na cruz. Ela não é produto da racionalização humana, mas da ação sobrenatural de Deus, que por sua vez envolve a compreensão racional da verdade de Cristo através do Espírito Santo. Muitas pessoas comemoram o nascimento e a ressurreição de Cristo sem se darem conta daquilo que essas datas realmente significam. Essa crença pode ser racional ao ponto de levar o homem a abraçar o cristianismo por acreditar em suas verdades, por compreender que de fato Cristo deu a sua vida para nos salvar ou simplesmente por entender que é um bom caminho a seguir quando se deseja uma vida de bênçãos. A grande maioria das pessoas que professam a fé cristã crê dessa forma. Os próprios demônios creem, como lemos em Tiago 2:19.
Essa crença, todavia, não produz salvação, porque somente a razão não promove a regeneração necessária à conversão e à fé salvífica. É possível, então, que muitos "crentes" não irão para o céu, por maiores que tenham sido os seus feitos aqui na terra em nome de Jesus. Naquele dia muitos dirão: Senhor! Senhor! Entretanto, o Senhor lhes afirmará: “Nunca vos conheci”. Qual é, então, a fé que pode salvar o pecador? É aquela que, além da aceitação intelectual do Evangelho, gera rendimento incondicional à pessoa de Jesus e à sua autoridade, como escreveu John MacArthur (2008). A fé que salva não fica apenas na mente, nas declarações de fé, nos debates teológicos, nas práticas religiosas e litúrgicas. Ela desce para o coração, convence o homem do seu pecado, regenera-o e reconcilia-o com Deus. O apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Roma: “Se, com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Rm 10:9,10). Muitos creem, mas nem todos obedecem ao Evangelho, como afirmou o profeta Isaías: “Senhor, quem acreditou na nossa pregação?” (Is 53:10).
A fé que salva parte de uma regeneração efetuada no coração do pecador pelo Espírito Santo, que o capacita a ter a fé necessária para se salvar. Esta fé gera novo nascimento e uma nova vida totalmente dedicada a Deus. Na fé que não salva, o homem permanece dono do seu próprio caminho; na fé que salva ele não vive mais para si, mas Cristo vive nele e ele vive para Cristo. Na fé que não salva não existe compromisso com os valores do Reino dos céus, mas a fé que salva busca em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça. A fé que não salva é antropocêntrica, a fé que salva é cristocêntrica. A primeira produz religião, a segunda produz frutos de justiça. Na primeira morrerá incontável número de pessoas, e pela segunda viverão os eleitos. A fé que não salva pode até produzir obras, mas a sua motivação é errada, pois pretende ganhar com isso o favor de Deus. A fé que salva não vem de obras, mas é dom de Deus e promove obras. Saber que Deus existe todos parecem saber, segui-lo e servi-lo poucos querem fazer. Clamar a Jesus que acorde do seu sono no barco em meio à tempestade, muitos fazem; mas a amá-lo e a obedecer aos seus mandamentos poucos se propõem.  A fé que salva nos faz diminuir para que Cristo apareça. Ela cria compromisso com o Evangelho, com as almas perdidas, com os pobres do mundo, com a obra do Senhor, com o amor e a justiça. A fé que não salva não está interessada no céu, mas mantém seu coração fixo nas coisas deste mundo. A fé que salva envolve o coração do crente num anseio santo que clama: “Maranata! Vem, Senhor Jesus.”


Mizael  Xavier

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sábado, 17 de junho de 2017

EVANGELIZAÇÃO E SOFRIMENTO




            Este é um capítulo que provavelmente ninguém gostaria de estudar, mas que faz parte da natureza do cristão e da sua missão evangelizadora (At 5:41). Embora as seitas neopentecostais insistam numa pregação triunfalista que coloca o crente numa posição privilegiada diante de Deus e do mundo, isentando-o de sofrimentos e angústias nesta vida, ao passo que lhe prometem felicidade total e prosperidade como consequências da sua fé e dos seus dízimos e ofertas, ser discípulo de Jesus e comprometer-se com os valores e as obras do seu Reino traz sofrimento. Desde o início da Igreja, as perseguições por causa da pregação do Evangelho sempre estiveram presentes, basta lermos o livro dos Atos dos apóstolos para constatarmos isso. Ao contrário do que se pode pensar, tal perseguição jamais freou o avanço da Igreja, muito pelo contrário: contribuiu para a sua expansão e fortalecimento. O apóstolo Paulo é um exemplo disso. Ele escreve aos Filipenses: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm, antes, contribuído para o progresso do Evangelho” (Fp 1:12). Conhecendo as cadeias de Paulo e todas as provas sofridas por ele na pregação da Palavra, a Igreja não desanimava, muito pelo contrário, como afirma Paulo: “a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (v. 14).
            Como servos de Deus, nós sofremos “com” Cristo (Rm 8;17) e “por” Cristo (Fp 1:29). Paulo era um missionário disposto não somente a sofrer, como também a morrer pelo Nome do Senhor Jesus (At 21:13). Será que todos aqueles que pregam o Evangelho possuem essa mesma disposição? Vejamos mais alguns detalhes a respeito do sofrimento associado ao nosso compromisso com Cristo e o seu Evangelho.

a) A perseguição é um fato. A Palavra de Deus deixa bastante claro que “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo serão perseguidos” (2 Tm 3:12). O apóstolo Paulo afirma isto após falar das suas próprias perseguições e sofrimentos por causa do Evangelho (vs. 11,12). Escrevendo aos tessalonicenses, que estavam sofrendo tribulações, ele lembra aos irmãos das suas próprias tribulações, afirmando: “vós mesmos sabeis que estamos designados para isto” (1 Ts 3:1-4). Mesmo sem conhecer o que o aguardava pela frente, a certeza que Paulo tinha no exercício do seu ministério, dada pelo próprio Espírito Santo, é de que lhe esperavam cadeias e tribulações (At 20:23). A perseguição e o sofrimento são consequências de um crente comprometido com os valores a as obras do Reino de Deus. Aqueles que vivem um cristianismo light, amigo do mundo, certamente não sofrem com essas coisas, e muito provavelmente não vivem uma vida piedosa. Estes podem estar entre os crentes nominais, que não fazem diferença no mundo nem produzem frutos para o Reino de Deus. As credenciais de muitos pregadores, evangelistas e missionários da atualidade são bastante diferentes daquelas apresentadas pelo apóstolo Paulo em 2 Coríntios 6:4-10. Para ele, a sua riqueza e a sua glória não estavam em conquistas terrenas, no status de grande evangelista, no louvor dos homens, mas no cumprimento da sua carreira (At 20:24). O sofrimento de Paulo redundava na salvação de muitas almas e na edificação das igrejas, como ele escreve a respeito da sua abnegação: “entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 6:10). O evangelista deve contar com momentos de angústia e sofrimento quando fizer a coisa certa, entendendo que isso possui um peso muito grande no Reino de Deus e contribuirá para o alcance de muitas almas.

c) Prova da nossa identificação com Cristo. Se o evangelista é perseguido ao viver e pregar o Evangelho, isto demonstra a sua identificação com aquele que é a encarnação do próprio Evangelho: o Senhor Jesus. Ele próprio declarou: “Sereis odiados de todos por causa do meu nome” (Mt 10:22a; cf. 24:9; Mc 13:13; Jo 15:18,19; 1 Jo 3:13). Ao escrever a Timóteo acerca do seu tríplice ministério de pregador, apóstolo e mestre (2 Tm 1:11,12), Paulo demonstra que a consequência inevitável desse ministério é o sofrimento. A sua atitude diante disso mostra claramente a sua identificação com Cristo: ele chama Timóteo a participar dos seus sofrimentos (v. 8), a não se envergonhar, mas crer em Deus e nele confiar (v. 12). Assim como Cristo suportou a cruz por nós, para nos livrar dos nossos pecados, o apóstolo Paulo declara suportar todas as coisas por amor aos eleitos, “para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória” (2:10). Muitos evangelistas são hábeis em contabilizar o número de almas que eles “ganham” para Jesus, mas não possuem a mesma destreza em sofrer por amor a essas almas, como Cristo sofreu. Paulo escreveu aos filipenses: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele, pois tendes o mesmo combate que vistes em mim, e, ainda agora, ouvis que é o meu” (Fp 1:19,30). O sofrimento enfrentado pelo cristão é uma prova de que sobre ele repousa o Espírito Santo (1 Pe 4:14). Se já nos últimos dias estamos vivendo momentos de paz e somos aplaudidos pelo mundo que deveria nos odiar, é tempo de repensarmos a nossa identificação com o Senhor. Não podemos ligar essa identificação apenas à filiação divina, à nossa herança nos céus e às bênçãos que a nova vida em Cristo nos proporciona, mas igualmente ao sofrer como Ele sofreu.

c) A Igreja cresceu e se expandiu em meio às perseguições. O livro dos Atos dos apóstolos relata como a Igreja cresceu e se desenvolveu num ambiente de grandes perseguições. A primeira delas surgiu logo após a morte de Estêvão, de modo que houve ali uma grande dispersão da Igreja (At 8:1-3). O próprio apóstolo Paulo foi um grande perseguidor da Igreja antes da sua conversão. Aqueles que migravam para outras regiões por conta das perseguições, iam levando a mensagem do Evangelho, de modo que o número de convertidos aumentava e a Igreja se fortalecia (At 11:19-21). No ano 64 d.C., ocorreu a primeira grande onda de perseguição geral contra a Igreja, durante o reinado do imperador Nero. A História da Igreja relata a forma cruel como os cristãos eram tratados, torturados e assassinados. Segundo relatos da tradição, Tiago morreu apedrejado e Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Em 97, Timóteo foi morto por uma população idólatra. Paulo morreu decapitado em Roma, João foi exilado na ilha de Patmos. Muitos cristãos foram devorados pelas feras nas arenas romanas. Nada disso, porém, impediu que a Igreja avançasse até chegar ao que conhecemos hoje como religião cristã. O Senhor prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (Mt 16:18), e assim tem sido. O cristianismo no Brasil goza de paz e não enfrenta a mesma perseguição sofrida pelos cristãos que residem em países comunistas ou muçulmanos. Ainda assim ela precisa enfrentar outro tipo de perseguição: dela contra ela mesma, na pessoa dos falsos profetas que deturpam o Evangelho de Cristo, denigrem a imagem do povo de Deus e deturpam a visão bíblica de fé e de Igreja.

d) Paulo sofreu na sua missão. O ministério do apóstolo Paulo já nasceu com uma promessa de sofrimento proferida pelo próprio Senhor: “pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9:16). Esse sofrimento não lhe seria um castigo, mas uma consequência da sua nova identidade: de fariseu perseguidor a cristão perseguido, além de essencial ao seu ministério e ao avanço da Igreja (Cl 1:24; 2 Co 11:23ss). O sofrimento, então, não era algo a ser evitado, mas uma realidade necessária ao seu ministério e que possuía uma razão de ser: Cristo ressuscitou! O Cristo ressurreto era a motivação da fé de Paulo e o estímulo da sua pregação. Ele afirmou: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a nossa fé” (1 Co 15:14). Assim, valia a pena expor-se dia após dia ao perigo e à morte (v. 30,36). As credenciais de muitos evangelistas e “apóstolos” atuais são uma lista de grandes conquistas, milagres, conversões e bens, que demonstram seu poder e sucesso. O apóstolo Paulo, todavia, apresenta uma lista e sofrimentos por amor ao Evangelho como as suas credenciais apostólicas (2 Co 11:16-33). Para ele, o sofrimento não era um pesar, mas fruto do seu amor a Cristo e aos irmãos (2 Co 2:4,13). Assim, ele podia animar outros crentes que também enfrentavam problemas em sua vida cristã e ministerial, escrevendo: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Fp 1:29). O próprio apóstolo enxergava o seu sofrimento como uma sentença para a morte, como cristãos na arena esperando serem devorados pelos leões (1 Co 4:8-13). Todavia, isso não lhe importava, porque o seu viver era Cristo, e morrer seria lucro (Fp 1:21). Paulo podia abandonar a fé, mas se manteve firme. Embora ansiasse pelo céu, ele compreendia o seu chamado, e o amor por Cristo, pelos irmãos e pelos perdidos fazia com que ele permanecesse vivo e atuante, a despeito de tudo o que sofria (Cl 1:24).

e) O sofrimento cristão é escatológico. O objetivo do sofrimento na vida do cristão jamais será prejudicá-lo, ou aniquilá-lo, mas aperfeiçoá-lo e trazer testemunho do Evangelho da graça e do poder de Deus que opera na sua Igreja. Os apóstolos jamais negaram a presença do sofrimento na sua vida ministerial, muito pelo contrário. Em 2 Coríntios 4:7-18, Paulo demonstra essa verdade. Ele se vê diante da tribulação, da perplexidade, da perseguição, do abatimento sabendo que seu corpo carrega o morrer de Cristo. Somente o morrer de Cristo é capaz de trazê-lo à vida. Ninguém pode viver sem antes morrer para Jesus. Além de não considerar o sofrimento desnecessário ou sinônimo de falta de fé, o apóstolo entendia que tudo o que sofria o identificava com Cristo (v. 10). Ele enfrentava o seu sofrimento com esperança na ressurreição (v. 14). E declara: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (v. 17). O interesse de Paulo não estava naquilo que ele podia ver, mas nas coisas invisíveis e eternas (v. 18). Ele não aspirava recompensas eternas, mas a sua habitação celestial (5:1-4). Como filhos de Deus, somos seus herdeiros e co-herdeiros com Cristo. Se com Ele sofremos, também com ele seremos glorificados (Rm 8:17). Temos uma glória reservada para nós no céu! O inevitável sofrimento do cristão revela Cristo nele e lhe dá uma esperança escatológica. Paulo escreve: “Porque por mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8:18). E acrescenta: “Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos” (vs. 24,25).
Essa verdade também é repetida pelo apóstolo Pedro em sua primeira epístola aos cristãos da Dispersão que estavam sofrendo tribulações. Pedro escreve para fortalecê-los e identificá-los com Cristo (1:1,2). Eles, assim como nós hoje, eram os eleitos de Deus, santificados pelo Espírito Santo, separados para a obediência e a purificação. A perseguição sofrida por aqueles irmãos tinha uma causa (seu compromisso com Cristo) e uma consequência: “uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros” (v. 4). Eles eram guardados pelo poder de Deus “mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (v. 5). Então eles podiam exultar com alegria indizível (v. 6) na viva esperança conquistada por Cristo na cruz. Essa é a esperança do evangelista: a sua salvação está garantida no céu. Pedro escreveu: “alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1 Pe 4:13).

f) O sofrimento pelo Evangelho deve gerar alegria. A perseguição por causa do Evangelho deve ser sinônimo de alegria e júbilo para o evangelista (Mt 5:10-12; Tg 1:2-4). Assim como os apóstolos, ele deve regozijar-se por ser digno de sofrer pelo Senhor (At 5:41). Como já dissemos, muitos evangelistas contabilizam o número de almas que “ganham” para Jesus, expondo ao mundo o sucesso do seu ministério. Paulo, todavia expunha o êxito da sua missão através das perseguições e tribulações que sofria por amor ao Evangelho e aos perdidos. Aquilo que hoje é considerado motivo de tristeza e prova da falta de fé do crente em Deus, para Paulo era motivo de grande alegria. Na sua vida, a fraqueza era uma oportunidade para Deus manifestar o seu poder. Quando o evangelista se acha forte por causa do seu preparo e sabedoria, por causa do seu tempo de conversão e das almas que “ganhou” para Jesus, é que ele se mostra fraco, pequeno, impotente. Mas ao contrário, quando se reconhece limitado e se reduz a nada, ele se torna forte, porque o que opera nele é o poder de Deus (2 Co 12:10). Tendo isso em mente, Paulo podia se gloriar nas suas fraquezas, não somente naquelas internas, mas, também, nas externas, nas influências dolorosas sofridas durante o seu ministério. Ele escreve; “Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza” (2 Co 11:30). Aos crentes de Tessalônica, Paulo também expôs o sofrimento como motivo de alegria para o crente: “Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria no Espírito Santo, de sorte que vos tornastes modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia” (1 Ts 1:6,7). A alegria do evangelista diante das tribulações é tripla: sua identificação com o Senhor, o galardão no Reino dos Céus e os frutos de maturidade que elas produzem.

g) O sofrimento tem uma aplicação solidária. O apóstolo Paulo apresenta aos coríntios um Deus que é o Pai de misericórdia e Deus de toda consolação, que nos conforta em toda a nossa tribulação (2 Co 1:3,4). Ao falar do sofrimento cristão, ele deixa bastante claro o caráter desse Deus, mostrando que o sofrimento não é a negação do seu favor, como pregam os teólogos da prosperidade, mas a confirmação do seu mover sobre a vida dos seus filhos. Além de não negar a realidade do sofrimento, Paulo demonstra a sua grande importância no relacionamento entre os crentes. O objetivo do conforto de Deus é para que aquele que é por Ele consolado, console os outros com essa mesma consolação (v. 4). Aquele que deseja se identificar com Cristo, também se identifica com o seu sofrimento, para que por meio dele também venha a consolação (v. 5). As angústias e tribulações sofridas pelos apóstolos redundavam em benefício para os irmãos (v. 6), de modo que ele exorta aos crentes de Corinto para que se tornem participantes do seu sofrimento (v. 7). Em Gálatas 4:12-15, vemos que Paulo vinha sofrendo de uma enfermidade e que esta se tornou motivo de bênção para os gálatas, pois diante de tal situação enfrentada pelo apóstolo, tiveram a chance de colocar em prática o amor fraternal.
É nos momentos de dor e angústia que o verdadeiro caráter do crente é demonstrado. O cuidado com aqueles que sofrem demonstra o amor de Deus operando na Igreja. Os gálatas não somente conheciam o problema de Paulo, como também o receberam como ao próprio Senhor. Cooperar com quem ministra a Palavra é cooperar com o próprio Evangelho. Um dos textos áureos utilizados pela Teologia da Prosperidade para falar sobre a vitória do crente é o de Filipenses 4:13, que diz: “Tudo posso naquele que me fortalece”. O que não se leva em conta é que Paulo vem falando das dificuldades sofridas no seu ministério (vs. 11,12). Outro ponto importante é a relação dos filipenses com Paulo, demonstrando o seu cuidado com o apóstolo (v. 10,14; cf. 1:3-7). Nas lutas e sofrimentos, na provação, não devemos esquecer a comunhão com os irmãos, os conselhos, levar as cargas uns dos outros (Cl 3:16; Gl 6:2; Tg 5:12-16). Somos membros uns dos outros e devemos crescer em conjunto (Rm 12:4,5; 9-21). O ramo longe da videira não produz frutos e morre (Jo 15:1-5).

h) Deve haver mutualidade no sofrimento. Quando falamos a respeito do sofrimento cristão, devemos entender que não é possível a um membro do corpo de Cristo sofrer sozinho, ou pelo menos não deveria ser do ponto de vista da Palavra de Deus. Se um crente está sendo perseguido e morto na China, isso deve ser motivo de dor e tristeza para os crentes em qualquer outro lugar do planeta; ou por outro lado: devem se alegrar com ele por fazerem parte dos que são dignos de sofrerem por Jesus. A Igreja é um corpo, uma unidade orgânica que comunga de todas as coisas, como escreveu Paulo aos coríntios (1 Co 12:12-31). Deus coordenou o corpo de maneira perfeita para que nele não haja divisão, muito pelo contrário, todos os membros cooperem em favor uns dos outros (v. 25). Assim, “se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (v. 26). O pregador da Palavra, o evangelista, está na linha de frente do exército de Cristo. É ele quem visita os inimigos da cruz, aqueles que odeiam a igreja e abominam os cristãos. Ele vai onde eles estão, em suas casas, bares, bocas de fumo, hospitais, presídios. A Igreja precisa reconhecer e honrar estes servos de Deus, cooperando em seu ministério, não apenas para colher os frutos das almas que se convertem, mas também para lutar as suas guerras, chorar as suas lágrimas. O apóstolo Paulo exortou seu discípulo Timóteo: “Não te envergonhes, portanto, do testemunho do nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2 Tm 1:8; cf. 2:3). Quando sofremos com quem prega o Evangelho, estamos sendo cooperadores com eles, com a proclamação do Reino de Deus. Ao contrário, se os evangelistas e missionários estão sozinhos no ministério, se não recebem sequer as nossas orações e apoio espiritual, não estamos dando valor à obra áurea da Igreja de pregar a Palavra da salvação aos perdidos.

i) O sofrimento pelo Evangelho gera dependência de Deus. O evangelista deve viver em total dependência de Deus. É ele quem o salva, capacita, sustenta e direciona. Todavia, nem sempre isso fica totalmente claro. Às vezes cremos que podemos vencer por nossa própria força, que nossos dons e talentos nos isentam de depender constantemente do auxílio de Deus. As tribulações servem para nos colocar no nosso lugar e nos levar a reconhecer que sem Ele nada podemos fazer (Jo 15:5). Paulo aprendeu que toda a tribulação sofrida na sua carreira ministerial tinha um significado: para que ele aprendesse a não confiar em si mesmo, mas em Deus que ressuscita os mortos (2 Co 1:9). É esse sentimento de dependência total de Deus que falta em muitos crentes, acima de tudo pregadores da Palavra que estão na mídia. Eles creem que o seu sucesso está ligado à sua exposição nas redes de TV, no rádio e na Internet; que é a força do seu carisma e a eloquência das suas pregações que impactam a vida das pessoas. De fato, aqueles que estão sedentos pelas mentiras que o falso evangelho oferece, com seus objetos ungidos, suas promessas de prosperidade e suas supostas curas milagrosas, deixam-se enredar por esses indivíduos. Todavia, quando se trata da pregação do Evangelho de Cristo, o poder que opera é o de Deus. As tribulações geram ainda mais dependência de Deus quando o evangelista percebe que o seu potencial está totalmente sujeito à ação do Espírito Santo.

j) O sofrimento conduz à maturidade maturidade. Os crentes maduros são aqueles que passam pelo caminho das tribulações, que sofrem angústias e enfrentam provas, pois somente assim podem ser aprovados. Geralmente é fácil encontrar motivos de alegria nos momentos tranquilos, na certeza de que fomos justificados e temos uma esperança eterna em Deus (Rm 5:1,2). Todavia, o apóstolo Paulo vai mais além e nos chama a nos alegrarmos nas próprias tribulações (v. 3). As tribulações produzem crescimento e maturidade na vida do crente, de modo que ele passa a enxergar e valorizar aquilo que realmente importa: a salvação (vs. 4-11). Escrevendo aos tessalonicenses, Paulo revela que aqueles irmãos ainda passavam por perseguições e tribulações (2 Ts 3:1-5). Semelhantemente à primeira epístola, ele louva a Deus pela fé daqueles crentes que não encontravam empecilho no sofrimento, mas, ao contrário, viam a sua fé aumentar cada vez mais (v. 3). Além disso, o sofrimento que eles suportavam fortalecia seus laços afetivos, de modo que o amor que tinham uns para com os outros aumentava na mesma proporção da sua fé. O que para muitos seria motivo de tristeza, contribuía para o crescimento do corpo de Cristo. Além de um sinal de juízo contra aqueles que perseguem a Igreja, o sofrimento dos crentes demonstra que eles são considerados dignos do reino de Deus (vs. 5,6).
O sofrimento, como nós vimos, traz dependência maior de Deus; ele nos torna maduros e habilitados para a sua obra. Tiago escreveu: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tg 1:2-4). Diante das provações, o evangelista deve se alegrar ao avaliar os lucros que elas trarão à sua vida espiritual. Assim como o outro é apurado pelo fogo, as provações apuram o crente (1 Pe 1:6-9). Algumas vezes, elas são a forma de Deus lidar com os nossos erros e nos corrigir. O autor de Hebreus escreve que é para a disciplina que perseveramos (Hb 12:7). Se estamos debaixo da disciplina de Deus, devemos nos alegrar com o fato de sermos seus filhos e com os frutos dessa disciplina (vs. 8-11). Não é necessário sofrer para aprender, mas todo sofrimento nos traz aprendizado.

l) O crente sofre já vitorioso. Muitas são as barreiras e as lutas que o evangelista encontrará no decorrer da sua vida cristã e ministerial. Algumas teologias e mensagens pregam uma vitória que ainda está por vir, geralmente uma bênção intencionada pelo crente e colocada diante de Deus em oração. A Palavra de Deus, contudo, não aponta para uma vitória que não seja a de Cristo e a sua gloriosa ressurreição. Se uma bênção conquistada for a vitória que esperamos, não entendemos o Evangelho e não damos o devido valor à volta de Cristo. O apóstolo Paulo nos mostra que a vitória do crente já está presente e faz parte da sua vida, mesmo que ele não o reconheça ou perceba. Em Romanos 8:31-39, ele deixa claro que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (v. 28). O sacrifício vicário de Cristo garante a nossa vitória acima do pecado e de todas as tribulações presentes neste mundo. O contexto aqui é da justificação, onde o crente não pode receber acusação alguma ou ser condenado (vs. 31-34). Em todas as coisas relatadas pelo apóstolo (vs. 31-39), somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou (v 37). O crente sofre todas as tribulações e perseguições porque em Cristo ele já venceu, porque entende o preço da sua salvação e os frutos gloriosos da sua momentânea angústia. Quando o evangelista prega a Palavra de Deus, ele entende que Cristo já venceu na vida de quem a ouvirá, que aqueles que serão salvos ouvirão e crerão. Ele entende, também, que mesmo que sofra perseguições e até mesmo o martírio por pregar o Evangelho, isso não representará uma derrota, mas é parte da vitória que ele já carrega consigo como filho e servo de Deus.

m) Não devemos sofrer por fazer o que é errado. Existe um sofrimento que não provém do nosso compromisso com Deus, mas da prática do pecado. A Palavra de Deus nos ensina que devemos sofrer pelo Evangelho e não por fazer aquilo que é errado. Falando da relação entre os servos e alguns patrões perversos, o apóstolo Pedro apela à submissão, dizendo: “porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo da sua consciência para com Deus” (1 Pe 2:19). Não existe glória alguma para o crente sofrer por praticar aquilo que é errado (v. 20). O seu sofrimento como servo é um retrato do próprio sofrimento do Senhor Jesus (v. 21), a quem temos como exemplo em todas as coisas. O crente, o evangelista, não deve sofrer como aquele que faz o mal, “mas se sofrer como cristão”, diz o apóstolo Pedro, “não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome (1 Pe 4:15,16). Muitos, porém, estão sendo provados pelo fogo porque insistem em fazer aquilo que desagrada a Deus e passam a sofrer as consequências disso.
Quando pecamos, distanciamo-nos de Deus e passamos a sofrer com os resultados desse distanciamento. Todavia, isso serve para pelo menos uma coisa: mostrar-nos o quando é ruim viver longe da verdade do Senhor (Sl 32). Mas o que Deus quer é que permaneçamos fiéis e firmes na fé (Sl 78:37; 1 Rs 2:4; 2 Cr 34:12; Mt 24:45; 25:21; Lc 16:10; 1 Co 4:2; 2 Tm 2:13; Tt 2:10; 3 Jo 5; Ap 2:10). A única coisa que podemos encontrar longe de Deus é uma vida de amargura e destruição, onde nossas lágrimas não são enxugadas nem nossas forças renovadas. Ao cairmos assim em pecado, acabamos perdendo a esperança e o foco principal da nossa vida, que é Cristo; deixamos de orar, de ler a Bíblia e de ter comunhão com os irmãos. Muitos acabam se desviando, mas Deus nos garante que se nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados, Ele nos perdoará (1 Jo 1:9; 2 Cr 7:14). Ele tem poder para realizar o impossível na nossa vida e transformar o nosso coração (Lc 1:37; Ez 36:26). Por outro lado, persistir na rebeldia contra Deus pode levar o crente a um endurecimento de coração, onde ele deixa de enxergar o Senhor e a necessidade de mudança de vida. Quando agimos assim, fomos provados e reprovados (Hb 3:7,8; Pv 29:1).

MIZAEL XAVIER

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quinta-feira, 1 de junho de 2017

VENCER É PRECISO




Vencer é preciso. Este é o título de uma música evangélica que afirma o que tantas outras falam sem cessar: vencer é preciso! Não existe espaço para derrota na vida do crente. Mas que vitória é esta tão pregada e tão cantada nas igrejas? É aquela em que o crente precisa alcançar a sua promessa, tomar posse da sua bênção e conquistar a sua vitória. É quase que uma obrigação, ao ponto de alguns pregadores afirmarem que o crente que não tem uma vida vitoriosa não tem fé. Muitos que não conseguem alcançar o padrão de vitória ensinado por esses falsos mestres se decepcionam com Deus ao ponto de abandonar a fé. Mas se a sua fé em Deus se baseava em apenas conquistar as suas bênçãos, na verdade não abandonaram fé alguma, pois nunca creram em Deus verdadeiramente. Essa teologia da vitória comporta pelo menos três características terríveis que precisamos conhecer. Primeira: é egoísta e egocêntrica. Retira Deus do centro da adoração e coloca o pecador e seus problemas. O culto não é uma adoração genuína a Deus, mas um momento de barganha por bênçãos, uma busca pelo sucesso pessoal, e isso jamais em termos espirituais, sempre materiais. O quadro é ainda pior quando vemos que a vitória sempre diz respeito ao "meu", jamais ao "nosso". Cada um chega diante de Deus em busca de resolver a sua situação, nunca a da comunidade. Segunda: essa teologia contradiz a Bíblia. A fé que a Palavra de Deus ensina é uma fé que vence o mundo, não que nos prende a Ele (1 Jo 5:3-5). Quem é nascido de Deus vence o mundo, não é vencido por ele. A fé vitoriosa em Cristo nos transporta para um reino celestial, não um poder terreno. As suas promessas são de vida eterna, não de prosperidade financeira. Esta vitória da fé envolve sofrimentos e privações, não nos isenta da dor nem afasta de nós a angústia. O Senhor nos garantiu que no mundo ainda passaremos aflições (Jo 16:33). Aquele que venceu o mundo por nós suportou aflições; não foi aplaudido, mas crucificado. O bom soldado de Cristo participada também do sofrimento (2 Tm 2:3). O apóstolo Pedro escreveu: “Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1 Pe 2:21).   

Uma vitória que envolve o amor e o apego às coisas deste mundo e despreza o sofrimento vem do diabo, não de Deus. Não devemos amar o mundo nem as coisas do mundo, como afirmou o apóstolo João (1 Jo 2:15), “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo” (v. 16). A vitória pregada hoje faz o caminho inverso: procura atender a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Terceira característica: esta vitória egocêntrica e mundana nos afasta daquilo que realmente importa: a mensagem da cruz, onde vemos o Filho unigênito de Deus dando a si mesmo em sacrifício para que aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3:16). Esta é a verdadeira vitória: a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte para nos reconciliar com Deus e nos dar uma herança gloriosa nos céus (1 Co 15:55-57). Não somos vitoriosos por Deus nos livrar das tribulações, mas porque mesmo a própria morte não poderá nos separar do seu imenso amor (Rm 8:37-39). Vencer não é preciso se o centro da nossa vitória não é o Senhor Jesus. Adorar a Deus, obedecê-lo, ser-lhe grato, servi-lo, amá-lo, proclamá-lo é preciso. Deus tem prazer em nos abençoar, mas se esta é a razão pela qual o buscamos, já somos derrotados. A nossa vitória está nele pelo que Ele é, não por qualquer bênção que ele possa nos proporcionar. Como diz a letra da canção: “Não o adoro pelo que Ele faz, eu o adoro pelo que Ele é. Haja o que houver, sempre será Deus”. Em Cristo já somos mais que vencedores. Se o céu não é uma vitória suficiente para nós, Deus também não é. Sintamo-nos sempre abençoados, porque somos salvos pela graça de Deus, porque os nossos pecados são perdoados, porque nos tornamos seus filhos, porque fomos salvos da sua ira, porque Ele cuida de nós. O apóstolo Paulo escreveu aos efésios: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Qualquer bênção material que possamos receber não é nada para comparar com as bênçãos espirituais e eternas que já temos em Cristo.

MIZAEL XAVIER

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