Texto áureo: Josué 3:5
Texto base: 1 Pedro 1:13-16
O texto de Josué 3:5 é importante para o
nosso estudo, porque, quando mal interpretado, pode trazer uma visão equivocada
com relação à natureza e o objetivo da santidade. O texto diz: “Disse Josué
também ao povo: Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio
de vós”. O leitor desavisado, com a mentalidade do cristão moderno, pode ser
levado a entender que a santificação redunda em bênçãos dadas por Deus, em vitória
e a posse de promessas. Lendo todo o contexto, porém, vemos que o objetivo da
santificação era preparar o povo para executar a vontade de Deus, culminando
com a queda das muralhas de Jericó. Aparece, então, o sentido básico de
santidade: ser separado por Deus com alguma finalidade. Não é para “receber”,
mas para “executar”.
O
que não é a santidade?
1. Não tem haver com o que fazemos para ser
santos, mas com o que fazemos porque somos santos. Não fazemos algo para ser
santos, mas porque somos santos.
2. Não é algo que contribui para que sejamos
salvos, mas é fruto da salvação que já possuímos pela fé em Jesus Cristo.
3. Não envolve as obras que fazemos para nos
santificar, mas o mover do Espírito Santo em nós que nos leva a produzir obras.
Assim como a salvação, a santidade não é meritória.
4. Não está ligada aos usos e costumes, às
vestimentas ou à prática de rituais, mas à transformação do caráter. Isto é,
não é de fora para dentro, mas de dentro para fora.
5. Não diz respeito à manifestação dos dons
espirituais. Não somos mais santos porque manifestamos os dons, mas
manifestamos os dons porque somos santos, isto é, separados para servir a Deus,
convertidos a Jesus.
6. Não é algo que se possa perder, porque
perder a santidade significaria perder a salvação.
7. Não significa não pecar mais, mas a
capacidade dada por Deus de dizer não ao pecado para viver no Espírito.
8. Não é algo místico ou sobrenatural no
sentido de misterioso e fora da capacidade de compreensão humana, mas é algo
prático, visível e perfeitamente inteligível.
9. Não é um fim em si mesmo, mas possui um
propósito. Fomos salvos para servir a Deus (Ef 2:8-10).
10. Não é demonstrada por meio da gírias
evangélicas, mas de uma vida íntegra.
11. Não é algo que produzimos com o interesse
de conquistar algo de Deus, mas que Ele opera em nós para que o sirvamos com
maior perfeição. Oração e jejum não produzem uma santidade maior, acima de tudo
com o propósito de alcançar algo, alguma promessa ou bênção.
O
que é a verdadeira santificação?
Vejamos
os significados da palavra “santo” no grego, que é a língua em que o Novo Testamento
foi escrito:
LÉXICO: άγιος, ία, ov santo, puro,
separado por / para Deus, moral ou cerimonialmente santo,—1. de coisas: sagrado, consagrado 1 Co
3.17. O superlativo άγιωτάτη πίστις fé santíssima Jd 20. Neut. como subst. το
δγιον tv. Comida sagrada Mt 7.6. τα άγια templo, santuário Hb 9.12.—2. de
pessoas: de Deus, separado (culticamente) moralmente perfeito, puro, santo Jo
17.11. De pessoas, ger. puro, santo, digno de Deus, santos, Ef 1.4.
O tempo da
santificação
1.
Santificação
posicional e instantânea: O apóstolo Paulo descreve a todos os crentes como a “santos” e como já santificados (1 Co 1:2;
6:11), embora muitos deles insistissem em viver ainda uma vida carnal (1 Co
3:1; 5:1,2,7,8), distante do ideal de Deus e da vocação santa à qual foram
chamados. Esta santificação é outorgada
ao cristão no momento da sua conversão, assim como a salvação. Não é algo a ser
conquistado através de caridade e operações de milagres, mas provém do
sacrifício de Cristo na cruz.
2.
Santificação prática
e progressiva:
A separação inicial é apenas o primeiro passo de uma vida de santidade dedicada
a Deus e a sua obra. Desta separação para Deus em Cristo Jesus surge a
responsabilidade de um viver condizente com a fé que é professada. Mas não progredimos até alcançar a santificação; progredimos na santificação da qual nos tornamos
participantes em nossa conversão. Esta santificação é posicional, pois envolve mudança de posição (de pecador a adorador)
e prática porque ela exige uma
maneira santa de viver. O crente carnal (1 Co 3:3) é convocado à
purificação até alcançar a perfeição. Aqueles que foram tratados como
santificados e santos (1 Pe 1:2; 2:5) são exortados a serem santos (1 Pe 1:15).
Quando nos convertemos, morremos para o pecado (Cl 3:3) e portanto devemos
mortificar nossos membros pecaminosos (Cl 3:5). Se nos despimos de velho homem
(Colossenses 3:9) devemos nos revestir do novo (Ef 4:22; Cl 3:8).
Natureza da Santificação
1.
Separação: “Ser santo” significa
“ser separado”. Somos separados do mundo por Deus para servi-lo. Esta santidade
reflete a Santidade de Deus, que está separado de tudo aquilo que diz respeito
ao mundo. É isto que simboliza o batismo: separação do mundo, um novo
nascimento. A santidade de Deus demonstra ainda a sua perfeição moral, e o
santo, ainda que pecador, busca viver esta perfeição através da prática dos
mandamentos de Cristo, movido pelo Espírito Santo.
2.
Dedicação: Aquele que é separado
é separado para alguma coisa, algum fim. O santo é separado do mundo para
dedicar-se a Deus, à prática da sua Palavra (Ef 2:8-10).
3. Purificação: Aquele que se dedica a Deus deve estar
limpo, da mesma forma que era limpo tudo aquilo que, na Antiga Aliança, seria
usado para o serviço divino. No Antigo Testamento os objetos para uso no altar
eram purificados através de azeite (Êx 40:9-11). A nação de Israel necessitava
de sacrifícios para ser purificada de seus pecados (Êx 24:8; Hb 10:29). Mas
estes sacrifícios da Antiga Aliança foram aperfeiçoados em Jesus Cristo,
através do seu sangue derramado para nos santificar (Hb 13:12). Deus Pai nos
santifica em tudo (1 Tessalonicenses 5:23) para um sacerdócio espiritual (1 Pe
2:5) pela mediação de seu Filho, Jesus (1 Co 1:2,30; Ef 5:26; Hb 2:11), por
meio da Palavra (Jo 17:17; 15:3), do sangue (Hb 10:29; 13:12) e do Espírito
Santo (Rm 15:16; 1 Co 6:11; 1 Pe 1:2). Esta
purificação é operada pelo Espírito Santo e não pelas mãos do sacerdote. Isto
significa que o Espírito da Nova Aliança substitui de maneira perfeita e
definitiva o ofício do sacerdócio da Antiga Aliança.
4.
Consagração: Aquele que se
santifica é consagrado a Deus, isto é, vive uma vida santa e justa. Enquanto a
justiça representa uma vida regenerada em conformidade com a lei divina, a santidade aponta para uma
regeneração em conformidade com a natureza
divina (1 Pe 1:15). Aqueles que são
declarados santos (Hb 10:10) são exortados a seguir a santidade (Hb 12:24);
aqueles que foram purificados (1 Co
6:11) são exortados a purificar-se a si mesmos (2 Co 7:11).
5. Serviço: Através da santificação da Nova Aliança, nos
tornamos sacerdócio real, nação santa e por isso devemos oferecer
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus (1 Pe 2:9,5); sacrifício de
louvor (Hb 13:15) e sacrifícios vivos sobre o altar de Deus (Rm 12:1). Se somos
servos de Deus não devemos permanecer apenas como crentes nominais, mas nos
colocar a disposição do seu serviço (At 27:23).
Meios divinos da
santificação
Alguns credos, como o da igreja
católica romana, impõe algumas condições para que a pessoa possa ser chamada de
santa. Normalmente são considerados santos, por esta doutrina infundada,
somente aqueles que já morreram e foram canonizados. Em vida certamente foram
pessoas piedosas, viveram uma vida casta, dedicada ao próximo e desapegada das
coisas mundanas. Mas até mesmo os muçulmanos, que não professam a mesma fé que
nós, podem viver assim, ou os espíritas, os ateus. A santidade não é algo que
façamos por merecer, não é uma condição que depende de nossos esforços e obras
de caridade. Também não é santo aquele que é piedoso. Muitos piedosos são
ateus. Santidade é algo que parte de Deus e tem a ver com o mover do Espírito
Santo em nosso ser, nos moldando conforme a vontade de Deus.
Portanto, os meios de santificação
não fazem parte de um conjunto de condições humanas, mas divinas. O papel do
homem é se entregar à vontade de Deus e permitir que Ele trabalhe em sua vida e
seu caráter. E quando o homem permite que isso aconteça, é porque o Espírito
Santo já está trabalhando em seu interior. Os meios divinamente estabelecidos
para a santificação são três:
1.
O sangue de Cristo: Este é um meio
eterno, absoluto e posicional que proporciona uma santificação absoluta diante
de Deus (Hb 13:12; 10:10,14; 1 Jo 1:7). A santificação é resultado da obra
de Cristo, isto é, a redenção efetivada na cruz do Calvário, através do seu
sacrifício vicário. Através da redenção, somos santificados e purificados,
livres da condenação eterna e chamados à presença de Deus, unidos a Ele pelo
seu Filho e o Espírito Santo da promessa (Hb 2:11). Embora santificados e
em comunhão com Deus, podemos cair em tentação, mas a santificação é contínua e
o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado (1 Jo 1:7). A confissão de
fé e o eterno sacrifício de Cristo removem a barreira da impureza que nos
impede de chegar até Deus (1 Jo 1:9). A renovação do sacrifício de Cristo
através da Eucaristia demonstra um sacrifício imperfeito de Jesus e, por
conseguinte, uma santificação imperfeita da parte de Deus, pois há uma necessidade
de constante e diária renovação.
2.
O Espírito Santo: O Espírito Santo
produz uma mudança interna na natureza do homem (1 Co 6:11; 2
Ts 2:12; 1 Pedro 1:1,2; Rm 15:16). É o Espírito Santo que nos
identifica como separados para Deus. Ele é o selo que nos autentica. Não nossos
esforços, nossas rezas, Maria, os santos, o rosário, mas o habitar da terceira
Pessoa da Trindade em nosso coração. Os povos gentios eram desprezados por não
andarem de conformidade com a lei mosaica, mas o Espírito de Deus desceu sobre
eles na casa de Cornélio, não restando mais dúvidas que eles eram santificados
pelo Espírito Santo, independente da lei (Rm 15:16). Se fôssemos
santificados por nós mesmos, de que adiantaria o Espírito Santo? De que nos valeria
o sacrifício de Cristo?
3.
A Palavra de Deus: A santificação
através da Palavra de Deus é um meio externo e prático, que diz respeito a vida
prática do cristão (Jo 15:3; 17:17; Ef 5:26; Tg 1:23-25; Sl
119:9). A Palavra de Deus confronta-nos com nossos pecados, nos mostra o quanto
somos impuros e nos dá um caminho certo a ser seguido. É nela que encontramos
as doutrinas sobre Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo e sobre a salvação.
Ela aponta para uma vida renovada e um proceder reto diante de Deus; ensina-nos
sobre amor e perdão e sobre todas as coisas que devemos saber para viver de
forma santa nesta vida. Ela, também, aponta para outra vida, a vida eterna. A
Palavra de Deus serve como espelho para nossa alma, uma vez que fomos regenerados
e lavados (Tt 3:5; Tg 1:22-25). É impossível haver santidade sem a Palavra
Santa do Deus vivo.
O verdadeiro método de santificação
Existem inda três ideias errôneas sobre santificação:
a) erradicação do pecado, o que é
impossível do ponto de vista humano e improvável do ponto de vista divino. Só
estaremos livres do pecado quando estivermos na glória com Deus; b) legalismo, isto é, observância de regras
e regulamentos, como os monges. Paulo nos ensina que nada disso serve para a
nossa santidade (Rm cap. 6), assim como também não pode nos justificar
(Rm cap. 3); c) ascetismo, que é
tentar subjugar a carne e alcançar a santidade através de privações e
sofrimentos, método que a maioria dos católicos romanos aprecia, também os
hindus ascéticos. Mas é a alma e não o corpo que peca. Este é um trabalho do
Espírito Santo.
O método verdadeiro e bíblico
baseia-se na obra redentora de Cristo e na atuação do Espírito Santo na vida do
crente salvo. A libertação que ele tanto necessita das obras da carne só pode
ser alcançada através de uma negação de si mesmo e uma total entrega às mãos do
oleiro, que é Deus. Para negar estas verdades e impor seu sistema de
indulgências, cuja finalidade sempre foi arrecadar fundos para as dioceses, o
catolicismo romano jamais poderia fazer uso somente da Bíblia somente, por isso
inventou a Tradição. Biblicamente, o verdadeiro método de santificação é:
1.
Fé na expiação: A obra de
santificação acontece da mesma maneira que ocorre a salvação: pela fé. Os
judeus, para justificarem-se diante de Deus dos seus pecados e para expiá-los,
faziam constantes sacrifícios. Mas eram sacrifícios externos que não podiam
mudá-los internamente. Com a Nova Aliança, a graça de Deus tomou o lugar da
lei, de modo que pela lei ninguém pode ser justificado, mas pela graça que atua
através da fé (Ef 2:8,9). Esta fé, sem obras, poderia, segundo acusavam
alguns, levar a pessoa a continuar na prática do pecado (Rm 3:8; 6:1), mas
Paulo afirma que os que morreram para o pecado devem viver segundo a graça,
procurando não pecar mais (Rm 6:2). A nova vida em Cristo Jesus (Mt
6:24) exclui a possibilidade de uma vida de pecado, mas cobra uma vida nova, um
novo proceder (Rm 6:4). Ora, aquele que está morto[1] está justificado do
pecado (Rm 6:7). Aquele que está morto para o pecado, deve viver para
Cristo (Rm 6:9-11). Esta é uma obra que não parte de nós, mas da expiação
de Cristo na cruz. Pelas suas feridas fomos sarados (1 Pe 2:24), de modo que
não há nada que façamos que nos justifique a nós mesmos, já que já fomos
justificados. Ele morreu por nós sendo nós ainda pecadores (Rm 5:8).
2.
Cooperação com o
Espírito:
Como já temos visto, é impossível que pela lei mosaica o homem seja
justificado. Os católicos não seguem esta lei, mas criaram um conjunto de
outras regras e dogmas para a justificação e a santificação, começando pelo
batismo e pela caridade e culminando com a criação do Purgatório. O livro de
Romanos trata sobre este assunto e assegura que pela lei nenhum homem será
justificado. Não que a lei de Deus seja má, mas ela pode causar a inclinação
pecaminosa da natureza humana. Paulo indica, na epístola aos Romanos, capítulo
7, que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v. 8), o poder (v. 9), a
falsidade (v. 11), o efeito (v. 10,11) e a vileza do pecado (vs. 12,13). O
próprio Paulo, antigo observador cativo da lei, reconhece-se como miserável (v.
24, vide 6:6) e agradece por agora estar debaixo da lei de Cristo, que é a lei
da graça (v. 25). Nós estamos mortos no pecado,
isto é, condenados (Ef 2:1; Cl 2:13), separados de Deus, e necessitamos
morrer para o pecado, isto é, a
santificação (Rm 6:11), através de Cristo que morreu pelos nossos pecados (2 Co 5:14; Gl 2:20). Morrer para
o pecado não é uma obra que possamos realizar através de rezas, sacrifícios e
mortificação ou indulgências, mas é uma obra realizada pelo Espírito Santo de
Deus (Rm 8:13). Esta obra conta com a nossa cooperação: viver e andar no
Espírito, permitir que Ele atue, sem apagá-lo ou relegá-lo ao segundo plano em
nossas vidas, dando mais ênfase ao ego e ao mundo. Cooperar com o Espírito
Santo significa permitir que Deus opere sua vontade sobre a nossa vontade, suas
decisões sobre as nossas decisões. Todavia, não é uma sinergia entre nós e
Deus, mas só nos entregamos ao Espírito movidos pelo próprio Espírito.
Santificação completa
Será que é possível para o homem
alcançar a perfeição aqui na Terra? A resposta dependerá do que entendemos por
perfeição. Os protestantes são acusados de quererem ser perfeitos, “santinhos”,
julgando a todos os que não procedem da mesma forma. Para o catolicismo, ser
santo pode significar uma perfeição tal como Maria alcançou, mesmo antes de
nascer, por ser predestinada a ser mãe do Salvador. Mas se formos estudar
profundamente o sentido de perfeição que a Bíblia ensina, veremos que em muito
se distancia dos nossos padrões. Existe, segundo a Palavra de Deus, a
possibilidade de sermos perfeitos, ainda que vivamos em um mundo de pecado.
1.
O significado de
perfeição: A
perfeição pode ser absoluta e relativa. Deus é absolutamente perfeito,
pois não necessita ser melhorado em nada. Seus pensamentos e suas ações são sem
erro. Ele é completo em todos os sentidos, por isso pode chamar-se de o Eu Sou. Deus é, não está sendo, se
transformando para chegar a algum ponto de perfeição. Ao homem pertence a
perfeição relativa. No Antigo
Testamento, a palavra “perfeição” significa ser “sincero e reto” (Gn 6:9;
Jó 1:1) e estava ligada ao desejo e determinação em fazer a vontade de Deus,
apesar do pecado. Davi, mesmo com todos os seus erros, era um homem “segundo o
coração de Deus”. No Novo Testamento, várias palavras são usadas para dar o
sentido de perfeição: ser apto ou capaz para uma certa tarefa ou fim (2 Tm
3:17); algum fim alcançado por meio de crescimento mental ou moral (Mt
5:48; 19:21; Colossenses 1:28; 4:12; Hb 11:40); um equipamento cabal (2
Co 13:9; Ef 4:12; Hb 13:21); terminar ou trazer a uma
terminação (2 Co 7:1); fazer repleto, cumprir, encher, nivelar
(Ap 3:2). Cada uma destas palavras deve ser usada dentro do seu
contexto, mas todas elas indicam que há possibilidade de perfeição para o
gênero humano. Esta perfeição – conforme o significado da palavra no Novo
Testamento – é resultado da obra de Cristo por nós (Hb 10:14) e diz
respeito a uma madureza espiritual em oposição às inclinações carnais (nossa
infância espiritual: 1 Co 2:6; 14:20; 2 Co 13:11; Fp
3:15; 2 Tm 3:17). Ela é progressiva (Gl 3:3) e está presente na
vontade de Deus, no amor ao homem e no serviço (Cl 4:12; Mt 5:48;
Hb 13:21). Mas a perfeição final do crente não é terrena; ela será
alcançada somente no céu, onde não haverá mais necessidade de buscá-la, pois
tudo será perfeito (Cl 1:28,22; Fp 3:12; 1 Pe 5:10).
2.
Possibilidades de
perfeição:
A perfeição é efetivada em nós através do perfeito sacrifício de Cristo e da
sua perfeita graça e justiça. Os sacrifícios da lei mosaica eram imperfeitos,
incapazes de purificar o homem de seus pecados. Mas Deus, que é perfeito,
morreu para nos salvar e nos conduzir a uma vida em santidade, conforme a sua
imagem e semelhança. Mas não são todos os teólogos e pregadores que sustentam
esta verdade. Alguns acham ser impossível alcançar tal perfeição. Por outro lado,
alguns ficam num lado extremo, achando que o crente não peca mais. A posição
mais correta seria a de que a salvação é perfeita e definitiva, bem como a
santidade, mas que o cristão deve desenvolvê-las no decorrer da sua vida, o que
podemos chamar de “crescimento espiritual”. O Novo Testamento sustenta um nível
moral elevado, sendo dever do crente – movido pelo Espírito Santo – buscar esta
perfeição (Fp 3:12; Hb 6:1). Esta santidade entra em confronto com
a nossa natureza pecaminosa, uma vez que agora temos, também, uma natureza
espiritual (Gl5:17). Em contradição a isto temos a doutrina romanista da
canonização pós-morte. Depois que a alma deixa o corpo, como poderá pecar? Como
poderá buscar equilíbrio entre a natureza humana e a divina? Como o defunto
buscará um nível moral elevado num contexto onde já não existem níveis de
relacionamentos humanos capazes de proporcionar crescimento moral e espiritual?
Santos pecadores
Mesmo justificados e santificados, ainda
existe a possibilidade do pecado, por isso a necessidade de vigilância (Gl
6:1; 1 Co 10:12). Quando nos convertemos não nos tornamos super-humanos,
com superpoderes, mas humanos com poderes sobrenaturais que fazem guerra dentro
de nós para que não façamos apenas o que for da nossa vontade. É isto que nos
difere dos demais: o ser humano comum, descrente, tem em si somente a natureza
pecaminosa, carnal, terrena. Quando convertidos, passamos a possuir, também,
uma natureza espiritual, celestial, divina. É este fator que nos torna santos,
independente de nossa potencialidade humana. Não nós, “os protestantes”, mas
todo aquele que crê (João 3:16).
Por termos nascido em pecado (Sl 51:5) não
temos como nos livrar de nossa carne, que está sendo constantemente provada
(Gl 5:17; Rm 7:18; Fp 3:8). Nosso conhecimento não é
completo, mas repleto de lacunas que bem podem ser preenchidas por pecado,
mesmo fruto de ignorância. Ainda assim, podemos manter-nos firmes no propósito
de não pecar, resistindo à vontade da carne e às investidas do inimigo (Tg
4:7; 1 Co 10:13; Rm 6:14; Ef 6:13,14), permitindo que
frutifiquem em nós os frutos da justiça (1 Co 10:31; Cl 1:10)
para que possuamos a graça, o poder do Espírito Santo e a perfeita comunhão com
Deus (Gl 5:22,23; Ef 5:18; Cl 1:10,11; 1 Jo 1:7).
Deus sabe da nossa natureza, sabe que somos
seres falhos, nascidos em pecado e, por isso, estamos constantemente errando,
mesmo que nossas inclinações sejam santas (Sl 103). Por isso Ele nos proveu
de algo que superasse nossos erros, que estivesse acima da nossa capacidade de
autojustificação, que não partisse de nós, mas dele: o sangue de Cristo, que
nos purifica de todo pecado e nos leva limpos para entrarmos na Sua presença (1
Jo 1:7; Fp 2:15; 1 Ts 5:23).
Se santidade significa ser separado para o
serviço de Deus e cumprir os seus mandamentos, como poderíamos fazer estas
coisas estando já mortos? Como servir a Deus dentro de nossas covas? Estando no
céu, já não temos mais o que fazer, a não ser adorá-lo pelos séculos. Lá Ele
não necessita da nossa ajuda para nada. Ele tem os anjos, que são seus
mensageiros ocasionais, tem a sua Palavra entregue aos homens, tem o Espírito
Santo e tem seu Filho, o Verbo que se fez carne, além de nós, vivos, seus
ministros.
[1] Morto aqui não é no sentido de “falecido”,
mas morto espiritualmente para o pecado: nascer de novo.
MIZAEL XAVIER