O
texto de 2 Coríntios 9:6 é um dos mais utilizados para falar das bênçãos dadas
por Deus em retribuição às nossas ofertas. No momento do culto em que os
dízimos e as ofertas serão recolhidos, após uma pregação de exaltação das
bênçãos de Deus, o pastor cita esse texto e insiste que os fiéis devem ser
bastante generosos nas suas contribuições se quiserem ser abençoados por Deus.
Quanto mais ofertarem à igreja, mais bênçãos de Deus receberão. De modo
inverso, quanto menor for a sua contribuição financeira, menores bênçãos
chegarão. Quem quiser receber muito, muito deve dar, como prova da sua fé. Vê-se
claramente o comércio das bênçãos de Deus, barganhadas a preço de dízimos e
ofertas, que encherão os cofres das igrejas sem cumprir o papel social a que
eles deveriam se propor.
Entretanto, o que está em evidência
nesse texto da segunda carta de Paulo aos cristãos de Corinto não é o dízimo ou
a oferta como moedas de troca que se dá a Deus para que Ele libere as bênçãos
desejadas e decretadas. Esse texto fala muito mais das riquezas espirituais
envolvidas na contribuição amorosa da igreja aos cristãos necessitados. Vamos
analisar alguns pontos importantes, partindo do v. 1, para entendermos todo o
contexto em que Paulo escreve.
Em primeiro lugar, o que está em vista aqui
não é o pensamento equivocado de que Deus só nos abençoará na medida em que
pagarmos por isso com dízimos e ofertas. Esse pensamento está completamente
ausente desse texto. Na verdade, Paulo está falando acerca da “administração
que se faz a favor de todos os santos” (v. 1). A contribuição que é dada não é
um dízimo nos moldes do Antigo Testamento nem se destina aos cofres da igreja,
mas é uma contribuição aos irmãos necessitados. Algo muito importante nesse
versículo é o objeto da contribuição: os santos. Não é aquele que contribui que
recebe a bênção, mas aquele que é o objeto da contribuição.
No v. 5 Paulo diz que tal contribuição só
será tida como uma bênção se for destituída de avareza. Por isso ele afirma:
“Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em
abundância ceifará.” Essa contribuição não visa receber bênçãos, mas ofertar
bênçãos preciosas para aqueles que delas necessitam. A contribuição deve ser
generosa para haver retribuição. Ele, porém, não diz que o motivo da doação é o
recebimento da retribuição, muito pelo contrário. Paulo condena a avareza, que
é o amor ao dinheiro. Quem contribui o faz sem qualquer interesse pessoal. O
interesse do contribuinte está no bem-estar daquele que receberá a sua oferta.
Essa contribuição não tem o seu valor
estipulado, como um dízimo; nem deve causar tristeza em quem contribui, muito
menos deve ser por necessidade, “porque Deus ama ao que dá com alegria” (v. 7).
Jesus demonstrou na parábola da viúva pobre que o que importa não é a quantia
que se dá, mas a motivação com que ela é ofertada. Percebe-se como isso
funciona totalmente o inverso de “quanto mais eu der, mais receberei de volta.”
Uma palavra que vale a pena ressaltar nesse versículo é “dar”. Quando damos
algo a alguém não esperamos receber nada em troca, caso contrário nós não
estaríamos doando, mas negociando. Esta contribuição é totalmente
desinteressada e não visa lucro próprio.
Paulo, então, mostra duas consequências que
abundam na vida daquele que contribui generosamente e com alegria para a obra
do Senhor: abundância de graça e abundância de boas obras (v. 8). Aquele que
semeia pouco (por avareza), jamais poderá superabundar em boas obras; ao
contrário, aquele que semeia muito (com alegria), sempre abundará em toda a boa
obra. O cristão deve ser um “ministro da graça”, levando ao mundo a graça que
superabundou na sua vida. Ele não recebeu algo para enterrar no chão e esperar
que o dono volte para reavê-lo. O que ele recebeu foi para multiplicar, não
somente para si, mas, acima de tudo, para os outros.
O que está em vista claramente neste texto
não é a bênção de dar para receber muito mais em troca, mas dar para contribuir
cada vez mais. As consequências desse desprendimento financeiro em favor dos cristãos
pobres são espirituais: “Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua
justiça permanece para sempre” (v. 9). O cristão não retém as bênçãos somente
para si, mas ele as espalha, dá aos pobres. Os frutos colhidos são os frutos da
justiça que acompanharão para sempre o cristão de coração generoso. O v. 10 é
enfático ao afirmar que o aumento não é o valor da conta bancária daquele que
contribui, mas do seu desprendimento de sempre contribuir: “Ora, aquele que dá
a semente ao que semeia, e pão para comer, também multiplicará a vossa
sementeira, e aumentará os frutos da vossa justiça.” Deus nos abençoa para que
possamos abençoar; Ele nos enche cada vez mais para que possamos dar cada vez
mais.
A consequência dessa contribuição generosa,
além da graça de contribuir cada vez mais (v. 11), é o testemunho da igreja,
que leva as pessoas a darem graças a Deus (vs. 11,12). Muitas igrejas só são
conhecidas pelos seus templos suntuosos e pela forma como arrecadam dinheiro
dos fiéis. Seus pastores acham que o testemunho deve ser de riqueza: quanto
mais rica a igreja se mostrar, maior a unção dos pastores e maior o poder que
opera nela e através dela. Mas a igreja não dá testemunho pelo que recebe, mas
pelo tanto que abençoa as pessoas e a comunidade em que está inserida.
Contribuir também mostra a submissão do cristão ao Evangelho e o uso correto
dos dons que Deus distribuiu à igreja.
Quando Paulo diz que o que semeia muito,
muito também colherá, algo que nos vem à mente é a forma como os cristãos
contribuíam com a obra do Senhor nos primórdios da Igreja. Eles vendiam os seus
bens e as suas propriedades e depositavam o dinheiro aos pés dos apóstolos, que
eram os responsáveis por administrá-los como líderes da Igreja (At 2:44,45;
4:34,35). Essa distribuição dos bens de acordo com a necessidade que ia
surgindo de cada um parece sugerir que as ofertas eram guardadas e depois
distribuídas aos próprios ofertantes. Dessa forma, a lógica é que quanto menos
contribuíssem, menos teriam no momento da necessidade. De modo contrário,
quanto mais contribuíssem, mais teriam em depósito para o momento da precisão e
todos poderiam ser bem mais abençoados nas suas necessidades.
Como pudemos ver, não há como utilizar esse
texto de forma utilitarista para afirmar que quanto mais o cristão contribui
com os dízimos e ofertas, mais bênçãos ele receberá de Deus. A ênfase da
Palavra de Deus recai sempre sobre o dar, não sobre o receber: “Mais
bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35). Em certo sentido, ofertar na
igreja é uma obrigação do cristão, mas que deve ser exercida sem nenhum pesar
ou como um ritual litúrgico e uma barganha com Deus. Ao contrário, deve ser um
ato de amor e alegria, isento de interesses pessoais e avareza. O dinheiro ofertado
não deve ser usado como moeda de troca nem deve se tornar conhecido de todas as
outras pessoas, mas a nossa mão esquerda não deve tomar conhecimento do que a
direita fez (Mt 6:2-4). É Deus quem retribui conforme a sua vontade e Justiça,
não porque nós tencionamos isto ou porque decretamos e exigimos, mas porque Ele
se alegra em derramar ricas bênçãos sobre o seu povo fiel e obediente.
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