OBS: Este estudo é parte do meu livro: MISSÃO INTEGRAL: EVANGELISMO E RESPONSABILIDADE SOCIAL NA DINÂMICA SOLIDÁRIA DO REINO DE DEUS. PARA ADQUIRI-LO, CLIQUE AQUI: MISSÃO INTEGRAL E-BOOK
Indicadores
para a Igreja
Com
respeito à relação entre mundo e Igreja, a Bíblia nos dá a certeza de que não é
possível haver uma fusão entre os dois. A Igreja é composta por pecadores
separados do mundo para Deus e cuja pátria está nos céus. O mundo é composto de
pessoas ainda perdidas, que não estão debaixo do Senhorio de Cristo nem da
graça salvadora de Deus. Por mais sinais de simpatia – geralmente motivados por
modismos e pela influência da música gospel – que o mundo dê à Igreja, sabemos
que ele nos odeia, assim como odiou ao Senhor: “Se o mundo vos odeia, sabei
que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o
mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário,
dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (Jo 15:18,19; cf. tb. Mt 10:22;
Lc 6:22; Jo 17:14). Até este ponto poderíamos afirmar: de nada vale nos
dedicarmos a pessoas que sempre nos odiarão, que jamais aceitação a nossa
palavra e que, pelo contrário, nos esmagarão com seu ódio mortal contra Deus.
Além
de sermos odiados pelo mundo, somos convocados a não nos envolver com o mundo
nem com aquilo que nele há. Na parte VI deste estudo, porém, aprenderemos que
devemos ter uma visão correta de mundo e do nosso envolvimento com ele para que
possamos decidir que decisões tomar com relação à nossa vida espiritual e o
nosso envolvimento, como Igreja, nas questões que afligem o mundo (comunidade,
sociedade). Se por um lado não devemos amar o mundo (1 Jo 2:15), por outro lado
devemos salgá-lo e iluminá-lo com a luz de Cristo (Mt 5:13-16), pregando pelo
mundo o Evangelho da Salvação (Mt 16:15). Embora o mundo não nos conheça (1 Jo
3:1), é nele que devemos proclamar as virtudes de Jesus (1 Pe 2:9). Está claro
que o envolvimento que devemos evitar é de caráter ético e moral: a nossa
santidade não pode ser manchada pelo pecado do mundo; o nosso corpo, que é
templo do Espírito Santo, não deve ser entregue à prostituição. Por outro lado,
o envolvimento que devemos ter com o mundo é, também, de caráter ético e moral.
Nossos valores transformados nos levam a uma inconformidade de forma (não
adotar o padrão do mundo como parâmetro) e de moral (não se conformar com a
injustiça que o mundo produz).
No
início deste capítulo afirmamos que quanto menos comprometidas com o bem-estar
das pessoas e do planeta, mais negativa será a imagem das empresas no mercado,
menor o seu lucro e menores as suas possibilidades de crescimento. Assim,
investir em Responsabilidade Social tornou-se uma questão de sobrevivência para
as empresas. O antigo ditado “quem não tem competência, não se estabelece”,
parece ter sido trocado por “quem não tem responsabilidade, não se estabelece”.
Para fazermos a conexão entre os indicativos de Responsabilidade Social
apresentados anteriormente e a Missão da Igreja, devemos fazer a seguinte
paráfrase: “Quanto menos comprometida com o bem-estar das pessoas e do planeta,
mais negativa será a imagem da Igreja
no mundo, menor a sua eficácia evangelística e menores as suas possibilidades de testemunho”. Num mundo cada vez mais
virtual, repleto de imagens (vídeos, fotos) e informatizado, a imagem é tudo. O
que a Igreja passa para o mundo – a sua imagem – pode influenciar positiva ou
negativamente em suas ações evangelísticas e sociais.
Criar
indicativos de Responsabilidade Social para a Igreja não significa muito mais
que repetir aquilo que a Bíblia já vem ensinando há séculos. Enquadrar-se
nesses indicadores significa repensar a prática de vida da própria Igreja ou
igreja local. Existem parâmetros descritos na Bíblia que colocam a Igreja no
centro da vontade de Deus naquilo que diz respeito ao seu envolvimento com o
mundo e o seu chamado profético de pregar (viver) o Evangelho de Cristo. Quatro
perguntas devem ser feitas:
1.
Qual o valor dos cristãos para a
igreja? Eles são apenas um número no rol de membros das denominações ou possuem
valor intrínseco? Seus dons e talentos são valorizados? A Igreja tem cuidado dos
seus problemas pessoais (existenciais, sociais)? Eles estão ali mais para
receber ou para dar, compartilhar?
2. Qual
o valor da Igreja para os cristãos? Será que a forma como a igreja lida com os
seus fiéis tem despertado neles um sentimento de pertença, de compromisso com a
obra? Os cristãos têm desenvolvido amor pelo corpo de Cristo e entendido o
papel importante da igreja para as suas vidas e para o mundo? A Igreja é vista
como um evento dominical diferente dos “clubes” do mundo ou como a presença dos
salvos no mundo?
3. Qual
o valor do mundo para a Igreja? Como a Igreja do Senhor Jesus enxerga o mundo
(comunidade, sociedade)? Ele é visto como um estorvo ou como fonte de
oportunidades de manifestação da glória de Deus? O mundo é uma “panela do
diabo” ou o local onde Deus quer operar a salvação? Que valor as pessoas e os
seus problemas têm para a Igreja?
4.
E qual o valor da Igreja para o
mundo? O que o mundo pensa quando pensa na Igreja do Senhor? A Igreja tem
salgado e iluminado o mundo, feito a diferença ao ponto de ser lembrada como
uma bênção? Quando o mundo observa a Igreja encontra cristãos cheios de amor e
misericórdia ou repletos de ganância de intrigas? Se a igreja local deixasse de
existir em certas comunidades, alguém sentiria a sua falta?
A Igreja do Senhor
necessita não somente rever seus conceitos, mas também criar parâmetros que
possam determinar seu rumo diante das constantes demandas sociais. Aquilo que
pode ser feito, deve ser feito. A Bíblia não nos ensina apenas a deixar de
fazer o que é errado, ela também nos indica a coisa certa a fazer. Deixar de
errar é apenas parte do processo: quem errava deve começar a acertar. Aquele
que furtava não deve simplesmente parar de furtar, mas precisa começar a
trabalhar para fazer o bem e acudir o necessitado (Ef 4:28). Se a Igreja tem se
omitido quanto aos problemas sociais, ele deve rever as suas atitudes e passar
a fazer a coisa certa. O que Deus espera de nós? Nós esperamos dele a salvação,
mas após a salvação, Ele nos pede algo: obediência. Obedecer a Deus, biblicamente,
significa tão somente amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos. Amando assim, todos os outros mandamentos serão obedecidos. Quem ama
jamais produz o mal, mas somente o bem. Quem ama não vive badalando tal qual um
sino, mas empreende obras dignas desse amor.
Indicadores
de Responsabilidade Social Cristã (IRSC)
Os
Indicadores de Responsabilidade Social Cristã (IRSC) são parâmetros básicos que
guiam a Igreja na execução da sua Missão Integral. Eles se desdobram em diversas
ações sociais que começam com a própria ekklesia
e se estendem a toda a sociedade. Ser responsável socialmente requer capacidade
de enxergar o outro e o mundo com os olhos de Cristo, olhos de amor e salvação.
Quando olhamos para as pessoas com os olhos turvos de preconceitos e
pressupostos egoístas e mesquinhos, a nossa visão limitada não nos permite
enxergar o seu sofrimento e a nossa possibilidade de auxílio. Para uma ação
social responsável no mundo, a normatização dos IRSC deve ser acima de tudo a
Bíblia. As ações que serão ainda pensadas neste estudo seguem essa
normatização. Outras fontes de normas para a Igreja como parâmetros do que
fazer e de como agir, são: Constituição da República, Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e demais leis
brasileiras. Além disso, a Igreja não pode deixar de dar atenção à Declaração
Universal dos Direitos Humanos e outros documentos internacionais que visam
preservar a vida humana e a natureza. Ainda outra ferramenta para o IRSC é o
Pacto de Lausanne, importante documento que dispõe sobre a Responsabilidade
Social da Igreja.
Os
IRSC são ferramentas importantes para a Igreja, acima de tudo num momento
histórico em que o liberalismo tem produzido teologias e práticas libertinas em
total desacordo com o caráter santo das Escrituras. A presença do
Neopentecostalismo e da Teologia da Prosperidade com a sua fé repleta de
elementos místicos, com o seu apelo constante e insistente à vida abastada de
seus fiéis (empresas milionárias, carreiras de sucesso, bens materiais como
carros luxuosos, casas, iates, etc.) tem servido para moldar no consciente
coletivo uma imagem extremamente deturpada de evangelicalismo e fé cristã.
Pastores, bispos, missionários e apóstolos que enriquecem através dos seus
ministérios; religiosos envolvidos em escândalos sexuais, crimes de estupro,
corrupção, assassinatos, tráfico de drogas e estelionato, formam o saquitel de
exemplos indigestos da falta de ética, de valores cristãos de muitas “igrejas”.
Em meio a esse emaranhado de pecados grotescos, a Igreja do Senhor prossegue em
sua missão de ser sal e luz, de ganhar almas e salvar vidas.
Se
antigamente a Igreja era perseguida – como acontece ainda em alguns países –
hoje ela é cobrada pela sociedade, que deseja ver a sua teologia sendo
demonstrada na vida real das pessoas. De inimiga ela passou a aliada na luta
contra os problemas sociais do mundo. Como ela fará isso sem comprovar um
caráter santo e irrepreensível? Os IRSC fundamentam-se nos seguintes princípios:
·
Gestão ética e responsável
baseada em princípios e valores bíblicos, que garantem a lisura da Igreja, sua
confiabilidade e transparência.
·
Pregação legítima e condizente
com o seu caráter cristão.
·
Direcionamento de estratégias,
avaliação de eficácia das metas e iniciativas planejadas.
·
Indicadores de necessidades e
adaptação das deficiências das iniciativas de Responsabilidade Social.
·
Norteamento das formas como as
lideranças devem agir na sociedade e cuidados que devem tomar em determinadas
circunstancias para demonstrar sua Responsabilidade Social.
Tais
princípios são demonstrados através das ações sugeridas em todo este estudo,
onde a Igreja é chamada a exalar o bom perfume de Cristo e proclamar as suas
virtudes em um mundo desvirtuado. Torna-se mais coerente falar de Jesus – acima
de tudo em pregações onde o mundo é condenado por sua pecaminosidade que gera
injustiça e morte – quando a Igreja demonstra viver na justiça e na vida. Como
ela demonstrará isso, através de seus discursos inflamados em programas de TV e
nas praças públicas? Através da manifestação de línguas estranhas ou de
testemunhos de prosperidade financeira? De forma alguma, mas pela manifestação
do poder do Espírito Santo na obediência aos mandamentos da Deus que, como já
demonstramos, encontram o seu termo no amor. Uma fé viva e prática capaz de ser
sal e luz, de trazer à terra o Reino dos céus é o que Deus espera da sua
Igreja.
Temas
|
Indicadores
|
Gestão Eclesiástica
|
Compromisso
com a verdade da Palavra de Deus, liderança ética baseada em valores
bíblicos, respeito às leis do país e internacionais, capacidade de diálogo
com os fiéis e o mundo, honestidade e transparência na gestão, modo de vida
simples.
|
Público
interno
|
Liderança
(vocação, treinamento, desenvolvimento, gestão ética, corrupção, abusos de
autoridade, serviço); “leigos” (vocação, cuidado, desenvolvimento,
empoderamento, acompanhamento, serviço, valorização da diversidade, serviço
social).
|
Público
externo
|
Gerenciamento
da influência e do impacto da igreja junto à comunidade, relações com
organizações atuantes na comunidade (outras igrejas, ONGs, associação de
moradores, grupos culturais, escolas, etc.), mecanismos de apoio a projetos
sociais (da igreja local ou não), estratégias de atuação na área social,
mobilização dos recursos para o investimento social, reconhecimento/apoio do
trabalho voluntário dos cristãos.
|
Direitos
humanos
|
Apoio e respeito a proteção dos direitos humanos reconhecidos
internacionalmente; isto significa promover ações de combate a toda forma de
abuso contra esses direitos e ao mesmo tempo certificar-se de que não é
cúmplice em abusos aos direitos humanos.
|
Trabalho
|
Defesa da liberdade de associação e o reconhecimento efetivo
do direito à negociação coletiva; A exemplo das pastorais católicas, ele deve
lutar pela eliminação de todas as
formas de trabalho forçado ou compulsório, bem como a erradicação efetiva do trabalho
infantil e a eliminação da discriminação no emprego e ocupação.
|
Meio
ambiente
|
Apoio a uma abordagem preventiva sobre os desafios ambientais,
desenvolver iniciativas a fim de promover maior responsabilidade ambiental e
incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias ambientalmente
sustentáveis. Também é necessário a Igreja ter conhecimento
sobre o impacto no meio ambiente (poluição sonora).
|
Combate à
corrupção
|
Combate
a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina. Esse
combate deve começar primeiramente dentro de sua esfera eclesiástica.
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