domingo, 24 de fevereiro de 2013

poesias românticas

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COMO LER E ESTUDAR A BÍBLIA - princípios básicos


Introdução

Amados, o objetivo deste pequeno esquema é ajudá-los a estudar e compreender melhor as verdades da Palavra de Deus e aplicá-las na sua vida de maneira correta e eficaz. Antes, porém, de adentrar em qualquer estudo bíblico é preciso orar e pedir a Deus sabedoria espiritual para discernir as suas verdades e compreender a sua vontade. Então, orem e peça ma Deus que os auxilie neste estudo e os leve a conhecê-lo melhor através da sua revelação específica: a Bíblia.


I – Aspectos gerais do livro a ser estudado.

1)    Busque informações sobre a comunidade ou povo de quem o livro trata ou a quem a carta é dirigida, no caso das epístolas. Quem são essas pessoas? Quais são os seus aspéctos políticos, econômicos, sociais, comerciais, religiosos, espirituais, etc.?
2)    Analise o contexto em que o livro foi escrito: o contexto histórico (Quando foi escrito?), o contexto cultural (Que povo? Que cultura?) e o contexto circunstancial (O que se passava? Qual o motivo do conteúdo do livro?).
3)    Procure entender quais os motivos que levaram o autor a escrever.

II – O autor.

1)    Quem é o autor do livro?
2)    Note os títulos com os quais o autor se apresenta.
3)    Como é o seu modo de ser e de agir?
4)    Ele é apenas um espectador ou participou da narrativa?

III – Os pontos positivos e negativos.

1)    Positivos: Que pontos positivos conseguimos encontrar nos personagens da narrativa e no seu contexto?
2)    Positivos: Quais são os seus problemas, suas tensões, seus conflitos?

IV – A apresentação da Trindade.

1)    Veja como Jesus é apresentado, juntamente com o Pai e o Espírito Santo. No caso do Antigo Testamento, procure encontrar os textos que tipificam Cristo. Compare, por exemplo: Isaías 7:14 com Mateus 1:23.
2)    Anote as dúvidas que permanecem e procure esclarecê-las.

V – Aplicação.

Aplique à sua vida tudo o que foi lido, estudado e aprendido, levando em conta o contexto histórico, cultural e circunstancial. Medite: Sendo a Bíblia a revelação de Deus e da sua vontade para nós, como aplicar na nossa vida textos como Josué 7:24-26 e 1 Coríntios 14:34,35? A resposta a esta pergunta revela a necessidade do estudo e da aplicação corretos da Palavra de Deus.

DEZ RAZÕES BÍBLICAS PELAS QUAIS NÃO SOU MAIS CATÓLICO


Dez razões bíblicas pelas quais não sou mais católico


            Nasci num lar católico. Já a minha mãe havia sido criada por três senhoras católicas; o sonho de uma delas, dona Adelaide, era que eu fosse padre. Fui batizado e fiz a primeira comunhão. Participei do grupo mirim da Igreja N. Senhora do Rosário, em Petrópolis, RJ, onde aprendia lições católicas sobre Deus. Sempre ia à missa, comungava, me confessava, mas jamais senti arder dentro de mim a chama do catolicismo. As imagens de escultura e os santos representados por elas, jamais me chamaram a atenção. Maria, mãe do Salvador, digna de respeito e admiração nossa, jamais produziu nada era, na verdade, mais um católico nominal, induzido à prática da religião pela tradição dos meus pais. Não havia conversão legítima e nem uma crença sincera nas doutrinas que ouvia e aprendia. Tudo sempre foi vazio e frio, como as imagens de escultura que enfeitavam os altares. No ano de 1994 enxerguei a verdadeira luz que brilha (João 1:4; 8:12; 1 João 2:8), conheci a verdade e ela me libertou (João 8:32; 14:6).
         Quero aqui expor alguns motivos pelos quais não sou mais católico. São coisas simples, mas que mostram porque é impossível voltar atrás na decisão que tomei.

Somente Cristo salva

Descobri que somente Cristo salva (Atos 4:12; João 17:3; 5:24; 10:9; 3:16,36; 11:25; 6:47; Atos 4:10,12; 16:31; 1 Coríntios 1:13,14; 15:57; 1 Tessalonicenses 5:9; Lucas 19:10; 1 Timóteo 2:5; Tito 2:14; Apocalipse 5:9; Lamentações 3:26; 1 João 5:12), pois somente Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29; Atos 8:32; 1 Coríntios 5:7; 1 Pedro 1:19; Apocalipse 5:6,12; 7:10; 22:3), somente Ele é o Messias (João 1:41; 4:25), o Redentor que morreu na cruz para me salvar (Isaías 59:20; Lucas 21:28; Romanos 3:24; 1 Coríntios 1:30; Efésios 1:7; 4:30; Colossenses 1:14; Hebreus 9:12). Não encontrei na Bíblia qualquer referência à necessidade da intercessão de Maria para minha salvação ou sua co-redenção, seja em vida ou após a minha morte.

A salvação é somente pela fé em Jesus Cristo

Descobri que a salvação é unicamente pela fé, através da graça de Deus, independente de qualquer obra que eu possa praticar em meu favor ou da intercessão de qualquer um pela minha alma após a morte: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus, não de obras para que ninguém se glorie (Efésios 2:8,9). Descobri, também, que o batismo e a igreja não salvam, nem Maria ou qualquer um dos santos (Romanos 3:23,24; João 3:16,17; 6:28; 20:31; 11:40; 1 João 5:3,4; Romanos 3:26,28; 5:1,20; 1:17; 3:20-23; 4:14,18,22; 10:4; Gálatas 2:16; 5:4; Atos 13:39; 26:18; Tito 3:1; Tiago 2:18; Hebreus 11:1; 10:38; 1 Timóteo 6:11; Lucas 18:42; 8:48; 7:50; 5:20; Habacuque 2:4). Não encontrei na Bíblia qualquer referência que me desse suporte à necessidade de pertencer à igreja católica para obter a minha salvação, pois nem mesmo a igreja evangélica é capaz de salvar, só Cristo, pela graça de Deus, através da do arrependimento e da fé (Mateus 21:21; Marcos 5:34; Lucas 5:20; 18:42; 7:50; 8:48João 3:16; 6:28; 20:31; 1 João 5:3,4; Romanos 1:7; 3:20-23; 4:5,14,18,22; 5:1,20; Efésios 2:8,9; Gálatas 2:16,21; 5:4; Atos 26:18; 13:39; Tito 3:1; Hebreus 10:38; 11:1,16; 1 Timóteo 6:11; 1 Pedro 1:8,9).

Somente Jesus é nosso mediador

Descobri que somente Jesus é o mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5), não necessitando de outros intermediários, como Maria e os santos que já morreram. É no seu nome apenas que encontro salvação e resposta às minhas orações (João 14:13; 1 Timóteo 2:5). É ele, também, o nosso único advogado (1 João 2:1), pois somente Ele venceu a morte por nós e foi entronizado à destra de Deus nos céus. A Palavra de Deus não mostra os apóstolos rogando por seus santos mortos, nem há nenhuma indicação doutrinária para isto. Também não encontrei referências à mediação de Maria, nenhuma sequer.

A Bíblia é a revelação perfeita de Deus e possui plena autoridade em matéria de fé e prática cristãs

Descobri que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo (2 Timóteo 3:16,17; Marcos 7:13), contendo em sua totalidade todos os preceitos divinos da fé cristã, isenta de erro e eficaz na conduta ética, moral e doutrinária da igreja (Hebreus 4:12). Ela basta para o cristão e não depende da Tradição ou do Colégio Apostólico, porque é completa e irrevogável (1 Timóteo 4:6,13; 2 Pedro 1:21; Hebreus 1:1,12; João 5:39; Tiago 1:21; Marcos 7:13; Filipenses 2:16; Romanos 10:8,17; Efésios 1:17; 6:17,18; 6:17,18; 1 Tessalonicenses 2:13; Atos 17:11; 2:41; Mateus 4:4; 22:29; Salmo 119:105,111; Isaías 37:26; Apocalipse 1:3; 1 Pedro 2:2,3; Lucas 24:25; Colossenses 3:16; Jeremias 15:16; Ezequiel 3:1-3). A Palavra de Deus é infalível, mesmo tendo sido escrita por seres humanos falhos, pois eles escreveram inspirados plenamente pelo Espírito Santo de Deus (2 Pedro 1:21; Hebreus 1:1,2; Atos 1:16; 1 Coríntios 6:7,12; 1 João 1:5).

Somente Jesus é a pedra fundamental da igreja e nosso sacerdote eterno

Descobri que Pedro nunca foi papa nem a pedra fundamental da igreja e que jamais existiu hierarquia na igreja cristã primitiva. Todavia, Cristo sempre foi a pedra angular sobre a qual a igreja está edificada (Efésios 2:20; Atos 4:11; Mateus 16:18; 21:42; Marcos 12:10; Lucas 20:17; 1 Pedro 2:6) e a sua cabeça da igreja (Colossenses 1:17,18; Efésios 1:22,23). Além de não existir papa, o sacerdócio católico romano é uma mentira, pois somente Jesus é nosso eterno sacerdote. Ao contrário dos sacerdotes romanistas, Cristo tinha todas as qualificações de sacerdote (5:6; 6:20; 7:15,17; cf. Salmo 110:4). Cristo não era sacerdote por mandamento ou instituição carnal, mas por desígnio divino e infalível (Hebreus 3:1,2; 5:4,5). Cristo exerceu todas as funções do ofício sacerdotal: mediação (Hebreus 9:15; 12:24; cf. Efésios 2:13-18); sacrifício (Hebreus 9:13,14,25,26; 7:27) e intercessão (Hebreus 7:25; 9:24). Estas funções, como já vimos, eram exercidas pelo ministério sacerdotal da Antiga Aliança e pretende ser copiado pela igreja romana. A figura do sacerdote é a mesma e seus rituais são os mesmos, inclusive com o altar onde Cristo é sacrificado como um cordeiro em todas as celebrações eucarísticas, onde o padre-sacerdote diz ao elevar a hóstia: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Estas funções não foram repassadas por Cristo aos seus Apóstolos, mas Ele continua eternamente salvando os pecadores através da fé pessoal de cada um que se converte. O sacerdócio de Cristo substitui todos os outros (Hebreus 7:20-28; 9:23-28). Se de fato é assim que ensinam as Sagradas Escrituras, por que deveria o sacerdócio católico romano substituir o sacerdócio de Cristo? Se Cristo é um sacerdote eterno e o seu sacrifício foi perfeito e para sempre, por que haveria Ele de instituir um novo sacerdócio através dos Apóstolos e da “sucessão apostólica”?

Em Cristo todos os nossos pecados são perdoados

Descobri que Deus perdoa todos os meus pecados quando os reconheço e confesso diante dele (1 João 1:8,9), portanto não necessito de indulgências, de penitências ou de orações ao meu favor para livrar minha alma do imaginário purgatório. Deus perdoa, remove e faz desaparecer a minha transgressão (Salmos 32:1; 103:12; Isaías 44:22); Ele cobre e cancela os meus pecados (Salmos 32:1; Romanos 4:7; Atos 3:19); Ele lança os meus pecados no mar (Miquéias 7:19), não os imputa mais (Romanos 4:8), não faz menção deles (Ezequiel 18:22) e os esquece (Hebreus 10:17). Não encontrei na Bíblia necessidade de expiar pecados através de rezas e da prática de obras, nem qualquer passagem que dissesse que a salvação efetuada por Cristo me fosse insuficiente. Todavia, a redenção efetuada por Cristo foi providencial (Gálatas 4:2-7; 1 João 4:9-15), perfeita (Hebreus 7:20-28), única (Hebreus 10:1-18) e eterna (Hebreus 10:12). Não há mais necessidade de libertação. Deus, em Cristo Jesus, nos deu completo livramento do juízo vindouro (João 3:16,36; 5:24; 6:47; 14:16; 10:9; 11:25; 17:3; Lucas 19:10; Atos 4:10,12; 16:31; 1 Coríntios 1:13,14; 15:57; 1 Tessalonicenses 5:9; 1 Timóteo 2:5; Tito 2:14; 1 João 4:14; 5:12; Apocalipse 5:9). Não há necessidade de uma estadia no purgatório. A justificação pela fé é completa, não restando pena alguma a ser purgada após a morte do cristão (Romanos 3:24; 5:12; 6:7; Tito 3:7; 1 Coríntios 6:11; Gálatas 2:16; 3:24).

O sacrifício de Cristo foi perfeito e eterno

Descobri que o sacrifício da missa, a “santa eucaristia” é inútil e desnecessário. O livro de Hebreus mostra que o sacrifício de Cristo foi: eterno (7:11-19); único e perfeito (7:20-28); eficaz (9:11-22); para sempre (9:23-28) e permanente (10:1ss). Se foi eterno já não há necessidade de renovação em cada celebração eucarística. Se foi único e perfeito, os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes romanos são inúteis. Se foi para sempre, eles também são desprezíveis e ferem o sentido de tal sacrifício. Se foi permanente, a Missa é uma mentira que fere a santidade e o poder de Deus. Em João 3:16 lemos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Deus oferece seu próprio Filho em sacrifício pelos pecados da humanidade. Poderíamos afirmar que, ao oferecerem constantemente Jesus Cristo em sacrifício durante a celebração eucarística, estariam os sacerdotes romanos fazendo as vezes de Deus?

Somente Deus é digno de adoração

Descobri que a veneração das imagens de escultura pelos católicos não passa de idolatria. Toda e qualquer idolatria é proibida por Deus. Qualquer tentativa de substituir Deus por um falso deus é abominável ao Senhor (Gênesis 35:2; Êxodo 20:4; 34:17; Levítico 26:1; Deuteronômio 7:25; 11:16; 16:22; Salmo 81:9; 1 João 5:21). O texto de Isaías 42:8 é bastante contundente sobre este assunto: “Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura”. Isto significa que a ninguém devemos glorificar por quaisquer meios ou palavras, porque somente a Deus pertence a Honra, a Glória e o Poder, agora e para sempre (1 Crônicas 29:11; 1 Timóteo 1:17; 6:16; Hebreus 2:7; 1 Pedro 1:7; 2 Pedro 1:17; Apocalipse 4:11). As imagens dos santos são como os ídolos pagãos: não possuem sentidos (Deuteronômio 4:28; Salmos 115:4), são perecíveis (Isaías 40:20), são impotentes (Isaías 45:20; Jeremias 10:5), são indignos de adoração (Atos 17:29) e são degradantes (Atos 1:22,23). A idolatria é abominação ao Senhor (Deuteronômio 7:25; 1 Pedro 4:3), é odiosa (Deuteronômio 16:22; Jeremias 44:4), vã e insensata (Salmos 115:4-8; Isaías 44:19; Jeremias 10:3), sanguinária (Ezequiel 23:29), sem proveito (Juízes 10:14; Isaías 46:7), irracional (Atos 17:29; Romanos 1:21-23) e contaminadora (Ezequiel 20:7; 36:18). Por isso, todo cristão deve resguardar-se da idolatria (Josué 23:7; 1 João 5:21) e fugir dela (1 Coríntios 10:14ss).

Maria era tão pecadora quanto eu

Descobri que Maria foi uma serva do Senhor (Lucas 1:26-38), a virgem escolhida para ser a mãe de Jesus Cristo, o verbo de Deus que se fez carne (João 1:14). Ao contrário do que os católicos falam de Maria, glorificando-a como uma deusa-mãe, ela era pobre, da linhagem de Davi, porém não da linhagem real. Vivia humildemente, casada com seu marido José, que era carpinteiro. Para se locomover necessitava de um jumento, sem luxo ou regalias. Não hesitou em ter seu filho numa estrebaria. Era submissa à vontade de Deus. Era cuidadosa com os problemas dos outros, como nos atesta as bodas de Caná. Mostrava-se muitas vezes confusa quanto ao ministério de seu filho. Era boa mãe, sempre atenta e preocupada com o filho. Foi mãe sofredora, a ponto de assistir o martírio do próprio filho. Era mulher de oração! O que sabemos, e isto baseados na Palavra de Deus, é que a presença de Maria só é citada uma única vez fora dos Evangelhos, no livro de Atos. A referência é à volta dos discípulos a Jerusalém, onde perseveraram em oração juntamente com algumas mulheres, Maria e os irmãos de Jesus (cf. Atos 1:12-14). Todavia, em momento algum a Bíblia fala sobre qualquer cuidado especial que os discípulos ou quaisquer outras pessoas prestaram a Maria, muito menos veneração. Maria era, com certeza, humilde e desinteressada de qualquer tipo de cuidado especial ou veneração. Maria era pecadora como todos nós (Romanos 3:23; 1 João 1:8). Ela certamente cria que Cristo morreu pelos nossos pecados (1 Coríntios 15:3), o justo pelos injustos (1 Pedro 3:18). Sabia, também, que somente ele poderia salvá-la e a toda humanidade (Atos 16:31; Romanos 10:9; Efésios 2:8,9; Tito 3:5). Não encontrei na Bíblia nenhuma referência à virgindade perpétua de Maria, sua imaculada conceição, sua assunção, mediação e intercessão. Também não obtive apoio da Bíblia para o dogma da co-redenção de Maria, pelo contrário, descobri que a salvação efetuada por Cristo foi ÚNICA (1 Pedro 3:18; Atos 4:12; Hebreus 10:12-14), SUFICIENTE (Gálatas 5:1-12), PERFEITA (1 Pedro 1:19-21), TOTAL (Hebreus 7:25-27), DEFINITIVA (Hebreus 5:9; João 6:39,40; 18:9; 10:28) e PESSOAL (João 3:16,36).

O catolicismo é uma forma de espiritismo

Descobri que, apesar de o catolicismo romano condenar o espiritismo, ele possui muitas doutrinas semelhantes a ele: 1) O catolicismo romano prega a salvação através das obras e da permanência dentro dos seus domínios. Embora afirmem que a salvação é pela fé somente, é necessário o batismo, isto é, uma obra de iniciação no cristianismo antes da fé. Sem o batismo o fiel não participa do Espírito Santo, não é salvo. O espiritismo, embora não creia na salvação da alma como crê o catolicismo e o protestantismo, mas na sua constante evolução espiritual até a perfeição, prega que esta se dá através das obras de caridade e do sofrimento pelo qual o espírito passa para purificar-se de seus pecados. 2) Esta purificação lembra-nos o sistema do purgatório. Após uma vida inteira dedicada a Deus e à igreja, ou mesmo após uma vida não tão santa e piedosa, o católico romano ainda tem que amargar uma estadia no purgatório para purificar-se daqueles pecados que não foram totalmente expiados em vida. Assim como o purgatório é a segunda chance de Deus ao fiel católico, a reencarnação é a segunda chance de Deus ao espírita. O que o fiel católico purifica depois de morto no purgatório, o fiel espírita purifica, também depois de morto, através de outras encarnações. 3) O catolicismo romano critica o Espiritismo pela sua conduta com os mortos em mesas brancas através dos médiuns ou livremente através do espírito do morto intervindo no mundo dos vivos. Porém, os dogmas do purgatório e da comunhão dos santos nos levam a crer que o catolicismo romano mantém uma prática de convívio com os mortos tão profunda quanto o Espiritismo. Senão vejamos: a) os espíritas consultam os mortos; os católicos rezam a eles, fazem votos, promessas e simpatias; b) os espíritas acreditam em “fantasmas”, que são espíritos (bons ou maus) que entram em contato com os vivos para algum fim; os católicos têm várias aparições de santos que já morreram, principalmente de Maria. 4) Outra semelhança entre estas duas religiões é a prática da caridade. Os católicos praticam a caridade como uma forma de aliviar suas futuras dores no purgatório e merecer o Reino dos Céus, além de aliviar o sofrimento de seus entes queridos que já estão lá. Os espíritas praticam a caridade como uma obrigação religiosa da alma para evoluir em seu Karma, amenizar seu sofrimento infligido pela necessidade de expiar seus pecados pela eternidade. Como pude compreender, as doutrinárias romanistas e as espíritas têm fortes ligações; embora difiram na prática, a essência é a mesma. A busca pelos mortos, as visões e aparições de pessoas que já morreram, a necessidade de obras em favor próprio, a purificação dos pecados, a idolatria... Todas formam um conjunto de crenças que se mesclam em um sincretismo religioso pagão totalmente desprovido de fundamento bíblico.


Mizael Xavier

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TRADIÇÃO CATÓLICA E DOGMAS CATÓLICOS

ATENÇÃO: o estudo a seguir é parte do meu livro DESVENDANDO O SEGREDO DE MARIA, no capítulo que falo sobre a Tradição católica e a mariologia.


3.2. Tradição e Dogma


            Uma das grandes consequências da Tradição católica romana é a criação de dogmas estranhos à Bíblia. Na história do Cristianismo, onde durante séculos o catolicismo imperou com sua hierarquia e seus anátemas, muitos dogmas foram decretados como forma de defender a fé evangélica contra doutrinas que, inclusive, desacreditavam a divindade de Jesus Cristo e a divina inspiração da Bíblia. Foram muitas as heresias surgidas desde os tempos de Jesus: as heresias judaicas; o Ebionismo, que não aceitava Cristo como o Filho de Deus; o Nicolaísmo, que condenava o Deus da criação; o Gnosticismo, uma heresia bastante complexa combatida pelos apóstolos; os Antitrinitários, que rejeitavam a doutrina da Trindade; o Maniqueísmo, que teve como adepto o próprio Agostinho; o Pelagianismo, que ensinava que não era necessário a graça para se salvar. Somam-se a estas o Arianismo, o Monofissismo e tantas outras heresias que até hoje incomodam os cristãos. Para nós, protestantes, o neopentecostalismo e sua “Teologia da Prosperidade” está entre as heresias mais terríveis da modernidade cristã.
            Contra todas essas heresias a igreja católica se levantou, organizou Concílios, emitiu bulas e criou dogmas. Muitos desses dogmas estão coerentes com a Bíblia, em especial aqueles que defendem a divindade de Cristo e a Trindade. O Concílio de Niceia e o de Constantinopla I defenderam a doutrina da Trindade. O Concílio de Constantinopla I (381), confirmou a doutrina bíblica da divindade de Cristo. Contra tais resoluções conciliares não cabem argumentos contrários, uma vez que as verdades defendidas por eles estão claramente expressas na Bíblia. Desta forma, um dogma de fé para ser aceito necessita ter comprovação bíblica, levando-se em conta a sua totalidade, Antigo e Novo Testamentos, utilizando-se da iluminação do Espírito Santo e de instrumentos corretos de hermenêutica. Assim, podemos crer, por exemplo, na doutrina da salvação pela graça como um dogma de fé, como também na obra redentora de Cristo e na sua segunda vinda, onde julgará o mundo.
            Mas será que todo dogma é bíblico? Quando a mesma igreja que decretou sabiamente e baseada nas Escrituras Sagradas o dogma da divindade de Cristo institui a doutrina do purgatório, algo totalmente alheio à verdade contida nas Sagradas Escrituras, devemos tomar também como um dogma de fé? Quando, em 1545, o Concílio de Trento decretou dogmas como os sacramentos, a missa, a veneração e invocação dos santos, o purgatório e as indulgências, devemos crer que são verdades de Deus e por isso devemos aceitá-las como dogmas de fé? Quando o concílio Vaticano I decretou o governo de Deus sobre a sua criação (SB 8,1) e que Ele cria livremente todas as coisas do nada (DS 3025), mas ao mesmo tempo decreta, na Constituição Dogmática Pastor Aeternus, o primado e a infalibilidade do papa, devemos tomar esse último como Palavra de Deus, como dogma de fé irrefutável? Se por um lado a igreja católica se esforçou para defender a fé cristã contra as grandes e pequenas heresias, por outro lado, por meio do Pala Adriano I, instituiu, no Concílio de Nicéia I, no ano 787, o culto à Maria (hiperdulia). Então, temos duas espécies de dogmas: aqueles que podemos comprovar por meio da Bíblia, e aqueles que são totalmente estranhos a ela. Nos primeiros devemos crer, mas os segundos devemos combater.
            Então o que é dogma? Será que tudo o que foi estudado na obra de Montfort e diversos outros autores marianos a respeito das doutrinas e dogmas referentes à Maria são dogmas dignos de fé? Os católicos romanos sabem fazer a distinção entre um dogma bíblico e um extra-bíblico? Na teologia protestante, o termo dogma tem o sentido de doutrina e diz respeito àqueles pontos de fé aprendidos por meio das Sagradas Escrituras e cridos por toda a cristandade. Ele faz parte do métodos Especulativo de interpretação utilizado pela Teologia Sistemática, que também envolve os métodos Teológico, Místico e Indutivo (Hodge, 2001). O dogmatismo pode ser um apego demasiado à razão em detrimento da fé, por ser uma demonstração filosófica de como as coisas são ou devem ser. O dogmatismo transporta a autoridade e infalibilidade da verdade revelada à falibilidade do intelecto humano (Hodge, idem). As doutrinas apresentadas pelo dogma seriam, portanto, conclusões da mente humana diante da revelação divina em detrimento da autoridade de Deus e das Escrituras Sagradas.
            Hodge toma o testemunho das Escrituras contra o dogmatismo racional. Ele afirma que os escritores bíblicos se apresentam no caráter de testemunhas, como instrumentos de Deus e não com base em demonstrações racionais e filosóficas. A primeira, última e suficiente razão para a fé é: “Assim diz o Senhor” (p. 36). O seu evangelho era sustentado pelo testemunho de Deus, asseverando que suas doutrinas “eram matéria de revelação, para serem recebidas com base no testemunho divino”. De fato, o evangelho pregado pelos apóstolos, as epístolas do Novo Testamento e todos os escritos do Antigo não são parte de uma racionalização humana, mas da sabedoria de Deus. O próprio apóstolo Paulo, conhecedor profundo da Lei e excelente pregador cristão, não pregava o evangelho seguindo seus próprios pensamentos (1 Coríntios 1:17), mas pela sabedoria de Deus (vs. 18-25). Para ele, a sabedoria deste mundo era loucura para Deus (3:19). A sabedoria que interessa ao crente é aquele que é do alto e que provém de revelação divina (12:8; Tiago 3:17), isto é, a Palavra de Deus: a Bíblia.
            Quanto ao significado do dogma para o católico, o fiel leigo, isto é, a grande maioria do povo católico, certamente não saberia dar uma explicação correta. Um texto postado na Internet por um católico que descreve dez razões pelas quais não é protestante, traz a seguinte assertiva:

Nossos queridos protestantes não sabem o que são dogmas... Pensam que a Igreja, ao dogmatizar um ponto de fé afirma algo do tipo: “a partir de agora, todos acreditamos nisto”. Só que não é assim! A Igreja, ao dogmatizar algo, diz claramente: “os cristãos, sempre, desde os primórdios, e em todos os lugares, acreditaram nisto, pelo que não é lícito a nenhum católico duvidar que esta é a fé verdadeiramente cristã.” Portanto, importa muito pouco que um dogma tenha sido proclamado no século IV ou no século passado. O fato é que os cristãos sempre acreditaram neles.

            Se como pontos de fé aceitos pelos cristãos desde sempre o autor está se referindo à Tradição católica romana na pessoa de seus santos e papas, ele tem razão naquilo que diz. Como já vimos, o dogma da Imaculada Conceição atravessou os séculos até se tornar um ponto de fé católico. Isto significa que desde épocas remotas do cristianismo ele era crido como verdadeiro. Porém, isto não é para animar os fiéis católicos. Muitas heresias eram cridas e pregadas muito antes de se falar sobre esse dogma, como o Gnosticismo. A luta da igreja católica durante séculos de sua existência sempre foi a de combater tais heresias, determinando aquilo em que criam e o que deveria ser considerado como anátema. O Concílio de Trento, reconhecidamente contra os pilares da Reforma Protestante, ditou suas regras e escolheu no que crer, deixando de lado aquilo que considerava herético. Então, só porque os cristãos acreditaram em algo durante séculos não quer dizer que isto seja verdade e tenha o mesmo peso da revelação divina e bíblica. Os homens são muito prodigiosos no invento de doutrinas que não se encontram na Bíblia.
            Ao afirmar que os protestantes não sabem o que são dogmas, o missivista apenas demonstra ele próprio desconhecer o significado dos dogmas para a igreja católica romana. A respeito da definição dos dogmas, o Catecismo da Igreja Católica (n. 88, grifo meu), se expressa da seguinte maneira:

O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma conexão necessária.
           
            De acordo com Schneider (2000, p. 27), citando F. Diekamp, dogma é “uma verdade revelada diretamente por Deus, proclamada pelo Magistério da Igreja de forma clara e definitiva para todos os cristãos, como objeto de fé católico e divina obrigatória”. Essa dogmática é supostamente orientada pelas Sagradas Escrituras, mas estas sob a orientação do Magistério, que também deve levar em conta as autoridades teológicas reconhecidas, principalmente da época dos Pais da Igreja. Neste trabalho, o bispo de Roma pode gozar da infalibilidade papal, podendo pronunciar em última instância, a palavra que decide ou também exclui (Schneider, idem). A dogmática atua como uma interpretação da autocomunicação de Deus, estabelecendo as normas de fé para serem cridas pelos fiéis. Como visto, um dogma não é algo que se possa desacreditar, mas é uma obrigação que de fato diz: “A partir de agora todos devem acreditar nisto”.
            É sob esta fórmula que apela para a autoridade do Magistério da igreja e a infalibilidade dos papas que o catolicismo romano engendrou seus dogmas durante os séculos. Os dogmas, embora sejam confirmados como regras de fé definitivas e irrevogáveis, podem ser desconsiderados de acordo com as conveniências histórias e circunstanciais da igreja. Na relação existente entre a Tradição e as Sagradas Escrituras, há uma estreita união e comunicação, de modo que ambas formam a mesma fonte divina e tendem para o mesmo fim (Dei Verbum, 67). Existem, porém duas modalidades distintas de transmissão dessas fontes comuns. Enquanto a Sagrada Escritura é a Palavra de Deus redigida sob a direção do Espírito Santo, a Tradição é a transmissão e a interpretação da Palavra de Deus confiadas por Cristo e pelo Espírito Santo aos apóstolos e seus sucessores. Assim, a igreja católica não deriva apenas da Bíblia a certeza de tudo o que foi revelado por Deus, mas ambas, Escritura e Tradição “devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência” (CIC, 82; Dei Verbum, 9).
            O Catecismo da Igreja Católica (n. 83) faz uma diferenciação entre Tradição Apostólica e Tradições Eclesiais. A primeira atesta o processo da Tradição viva da igreja, uma vez que não havia nada escrito na primeira geração de cristãos. A segunda, diz respeito às tradições teológicas, disciplinares, litúrgicas e devocionais surgidas ao longo do tempo nas Igrejas locais. Á luz da primeira Tradição, tais tradições “podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do Magistério da Igreja”. Com isto podemos entender que a compreensão de algum ponto de fé determinado no passado pelos santos padres pode ser, no presente, mantido, modificado ou abandonado. Isto é, embora as Tradições católicas façam parte do depósito da fé da igreja e partam de uma interpretação ex cathedra de seus magistrados; e embora os fiéis sejam levados a acreditar que tal ponto de fé é verdadeiro e por isso deve ser seguido, em algum momento ele pode ser revogado. Então, o que é a verdade?
            O exemplo mais clássico que podemos citar é o da Santa Inquisição. Este acontecimento histórico que se impôs sobre o mundo durante muitos séculos, colocou na prisão e assassinou incontável número de pessoas que não criam em Deus da mesma forma que os católicos criam. Mesmo muitos padres católicos tiveram de enfrentar os tribunais inquisitoriais, bem como os judeus, os protestantes e as “bruxas”. Foi em 1179 que o Concílio de Latrão decretou a perseguição permanente aos “hereges” (Peres, 1998). Em 1215, o mesmo Concílio decretou que os bens dos “hereges” fossem confiscados pelos governos. A verdadeira Inquisição, porém, foi organizada pelo papa Gregório IX (1181-1185), no Concílio de Verona.
Não é o objetivo deste estudo fazer um relato minucioso das práticas cruéis e desumanas engendradas pelos tribunais da “Santa Inquisição”, mas comparar as doutrinas do passado católico com as do seu presente. O início do Malleus Maleficarum, escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger, traz uma bula escrita pelo papa Inocêncio VIII, a 9 de dezembro de 1484, com o seguinte prólogo (2002, p. 43):

Desejando, na mais sincera apreensão, como bem requer o Nosso Apostolado, que a Fé Católica, mormente em Nossos dias, cresça e floresça por todas as partes, e que toda a depravação herética seja varrida de todas as fronteiras e de todos os recantos dos Fiéis, é com enorme satisfação que proclamamos e inclusive reafirmamos os meios e métodos particulares pelos quais Nosso desejo piedoso poderá surtir os efeitos almejados, já que quando todos os erros forem erradicados pela Nossa dissuasão diligente, como pela enxada do agricultor previdente, um maior zelo e uma observância mais regular de Nossa Santa Fé venham a ficar firmemente impressos no coração dos fiéis.

            Também o Directorium Inquisitorum, o Manual dos Inquisidores, escrito por Nicolau Eymerich em 1376, traz inúmeras revelações a respeito da intolerância dos líderes da Sé romana contra os “hereges”. Eram considerados como ameaças, por exemplo, aqueles blasfemadores que se opunham aos dogmas da igreja católica ou maldiziam o Senhor e a Virgem Maria. A insistência em permanecer no seu erro diante dos tribunais da Inquisição significaria a sua entrega ao braço secular (p. 49, 50), que se encarregaria de assassiná-los, pois a igreja não podia jamais derramar sangue. Um ato de extrema hipocrisia. Nos julgamentos, eram empregados alguns meios – conforme prometido pelo papa Inocêncio VIII – para arrancar a confissão dos supostos hereges: apetrechos de mutilação, o balcão de estiramento, a cadeira das bruxas, a cadeira inquisitória, a cadeira inquisitória menor, a caixinha para as mãos, o cavalete, a cegonha, o despertador, o esmaga-cabeça, o esmaga-joelho, o esmaga-polegar, o esmaga-seios, a forquilha do herege, o garrote, a guilhotina, o machado, a máscara da infâmia, a mesa de evisceração, o pêndulo, a roda alta, a roda de despedaçamento, o tronco e a virgem de Nuremberg (Peres, idem).
            Além do que já foi dito, inúmeros livros de História geral e da religião podem ser consultados como uma forma de aprofundamento do tema. Quanto ao nosso estudo, vimos que os líderes da igreja católica romana, falando ex cathedra, na posição de alter Christus, em posse do múnus da infalibilidade, utilizando-se do depósito da fé, pronunciando-se com base na Tradição viva da igreja, decretaram um tribunal sanguinário, intolerante e espúrio que até hoje causa vergonha e constrangimento aos próprios católicos. Lendo-se “O Martelo das Feiticeiras”, o que se vê é que os inquisidores tinham seus atos bárbaros e sanguinários baseados na Bíblia! Então eles estavam errados? Mesmo tomando por base o texto bíblico e com o múnus da infalibilidade a Inquisição teria sido um trágico equivoco?
Como vimos acima, o Catecismo da Igreja Católica tem uma saída para esse labirinto de enganos. O que foi expresso como uma verdade pode ser mantido, modificado ou abandonado. E é o que foi feito: foi abandonado. Hoje, dentro de uma visão totalmente diferente, e embora ainda considerando a igreja católica romana como única e verdadeira, os papas não perseguem mais os “hereges”, mas se unem a eles em prol da paz no planeta. Os judeus outrora perseguidos e mortos são considerados irmãos; os muçulmanos assassinados na tentativa de tomada da Terra Santa pelos Cruzados, são considerados amigos. Principalmente a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, a igreja romana prega o diálogo com outras religiões. E o discurso inquisitório do passado é trocado, na Verbum Domini, por um discurso mais amistoso em prol do diálogo e da liberdade religiosa (n. 120):

Todavia o diálogo religioso não seria fecundo, se não incluísse também um verdadeiro respeito por toda a pessoa para que possa aderir livremente à sua própria religião. Por isso o Sínodo, ao mesmo tempo que promove a colaboração entre os expoentes das diversas religiões, recorda igualmente “a necessidade de que seja efetivamente assegurada a todos os crentes a liberdade de professar, privada e publicamente, a sua própria religião, e também a liberdade de consciência”, de fato “o respeito e o diálogo exigem a reciprocidade em todos os campos, sobretudo no que diz respeito às liberdades fundamentais e, de modo muito particular, à liberdade religiosa. Tal respeito e diálogo favorecem a paz e a harmonia entre os povos”.

            Com um discurso totalmente diferente e inverso que aquele de Inocêncio VIII, o papa Bento XVI nos mostra como é impossível crer na infalibilidade do papa em matéria de fé e de moral cristãos. Mas nos mostra algo ainda mais importante: a necessidade de nos voltarmos completamente para a Bíblia como nossa única regra de fé, de moral e de prática cristãs – Sola Scriptura! O que a Palavra de Deus inicia falando em Gênesis, ela termina confirmando até o Apocalipse. Não existe contradições, mudança de opiniões. Muito pelo contrário: o próprio Deus, por meio dos seus profetas, denuncia o afastamento do seu povo das verdades divinas. É a ignorância quanto aos desígnios de Deus que nos leva ao erro, a sabedoria que não provém de Deus e por isso não pode gerar a verdadeira adoração (cf. Jeremias 8:7-9). Por isso o apelo bíblico pela boca do profeta Oséias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (6:3), para que não erremos por falta de conhecimento das Escrituras e nem do poder de Deus, como os fariseus (Mateus 28:29).
            Outro exemplo pertinente é o da forma como o Concílio Ecumênico de Trento (1545-1563) trata a leitura da Bíblia e como ela diverge completamente do Vaticano II e da Verbum Domini. Assim se expressam os sumo pontífices no Concílio de Trento (n. 785, 786):

Além disso, considerando que poderá resultar em não pequena utilidade para a Igreja de Deus, dando-se a conhecer qual de tantas edições latinas que correm dos Livros Sagrados se deve ter por legítima, esse mesmo sacrossanto Concílio determina e declara: que nas preleções públicas, nas discussões, pregações e exposições seja tida por legítima a antiga edição da Vulgata, que pelo longo uso de tantos séculos se comprovou na Igreja; e que ninguém, sob qualquer pretexto, se atreva ou presuma rejeitá-la [...] Ademais, para refrear as mentalidades petulantes, decreta que ninguém, fundado na perspicácia própria, em coisas de fé e costumes necessárias à estrutura da doutrina cristã, torcendo a seu talante a Sagrada Escritura, ouse interpretar a mesma Sagrada Escritura contra aquele sentido, que [sempre] manteve e mantém a Santa Madre Igreja, a quem compete julgar sobre o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras, ou também [ouse interpretá-la] contra o unânime consenso dos Padres, ainda que as interpretações em tempo algum venham a ser publicadas. Os que se opuserem, sejam denunciados pelos Ordinários e castigados segundo as penas estabelecidas pelo direito. [Seguem uns preceitos sobre a impressão e aprovação dos livros, onde se estabelece entre outras coisas o seguinte:] que para o futuro a Sagrada Escritura, principalmente essa antiga edição da Vulgata, seja publicada do modo mais exato possível; e que a ninguém seja permitido imprimir ou fazer imprimir qualquer livro sobre assuntos sagrados sem o nome do autor, nem vendê-los ou retê-los consigo, se não forem primeiro examinados e aprovados pelo Ordinário…

Além de proibir a leitura da Bíblia na língua vulgar (popular), determinando a versão latina como correta e oficial, o Concílio proíbe qualquer interpretação que exceda aquela advinda da “Santa Madre Igreja”. As pessoas não podiam interpretar a Palavra de Deus fora dos ditames dos padres, como também não deveriam publicar o fruto de sua interpretação, sob o risco de serem castigadas segundo pelas estabelecidas. Além disso, os livros teológicos estavam proibidos sem uma anterior aprovação da igreja. É claro que isto afetava diretamente a nascente Reforma Protestante e visava freá-la.
Já no ano 600, o papa Gregório I já havia imposto a língua latina como idioma oficial dos cultos nas igrejas. Em 1287, o Concílio de Valença viria a proibir a Bíblia aos leigos. O Concílio de Trento apresenta o seu cânone dos livros sagrados, incluindo diversos apócrifos, e promete excomungar quem não os aceitasse na íntegra e na Vulgata (n. 783): “Se alguém não aceitar como sacros e canônicos esses livros na íntegra com todas as suas partes, como era costume serem lidos na Igreja Católica e como se encontram na edição antiga da Vulgata Latina; e desprezar ciente e premeditadamente as preditas tradições: - seja excomungado”. Esses fatos nos mostram como sempre foi a relação da igreja católica com a Bíblia e o cuidado que sempre teve em jamais permitir opiniões próprias dos leigos, principalmente se contrárias àquilo que ela pregava. Basta um olhar para a História para percebermos que a conquista do crente pela leitura e interpretação da Palavra de Deus custou muito tempo, lágrimas e sangue.
A Verbum Domini, entretanto, tem um objetivo bastante claro e específico: incentivar os fiéis a lerem e estudarem a Palavra de Deus. Ao contrário do Concílio de Trento que determinou, sob pena de excomunhão, a tradução e a leitura da Bíblia apenas na Vulgata (versão latina da Bíblia realizada por São Jerônimo por volta do final do século IV a pedido do papa Dâmaso), a Verbum Domini, constatando que várias igrejas locais ainda não dispunham de uma tradução integral da Bíblia na sua própria língua, determinou (115,2):

Por isso, o Sínodo considera importante, antes de mais nada, a formação de especialistas que se dediquem a traduzir a Bíblia nas diversas línguas. Encorajo a que se invistam de recursos neste âmbito. De modo particular, quero recomendar que seja apoiado o empenho da Federação Bíblica Católica para um incremento ainda maior do número de traduções da Sagrada Escritura e da sua minuciosa difusão. Bom será que tal trabalho, pela própria natureza, seja feito na medida do possível em colaboração com as diversas Sociedades Bíblicas.

            Embora a tradução, a leitura e a interpretação da Bíblia, como temos visto, estejam sempre sujeitas ao Magistério e aos papas, o texto citado demonstra uma diferença gritante na mentalidade do Concílio Ecumênico de Trento e da exortação pós-Vaticano II, a Verbum Domini. Munidos da mesma autoridade apostólica, baseados na mesma Tradição da igreja e conduzidos pelo mesmo múnus da infalibilidade, os papas de diversas épocas conseguem criar dogmas que se contradizem, que se tornam incoerentes. Se a palavra conciliar do papa é verdadeira e definitiva como dogma de fé, a Bíblia ainda deveria estar sendo lida em latim e as demais versões nas línguas populares deveriam ainda estar sendo proibidas. E se hoje entende-se e pratica-se o contrário, ou o Concílio de Trento errou ou o Vaticano II e a Verbum Domini estão equivocados. Novamente perguntamos: O que é a verdade?

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OS OUTROS FILHOS E FILHAS DE MARIA



O texto a seguir é parte do meu livro DESVENDANDO O SEGREDO DE MARIA, no capítulo que trata sobre a hermenêutica bíblica.


2.3.1.b Primeira regra: tomar as palavras em seu sentido usual, comum


            Quando o interprete se depara com um texto bíblico, ele deve ter em mente que ele não foi escrito em sua língua, mas em outros idiomas. Algumas palavras utilizadas pelos autores bíblicos tiveram sentido para quem as escreveu o os seus leitores na época em que o texto fora escrito. Assim, quando lemos qualquer palavra na Bíblia, precisamos entender o sentido que ela carrega no texto e no contexto original em que foram escritas. Conforme veremos mais adiante, uma mesma palavra pode ter sentidos variados, dependendo do autor que a escreveu, da sua época, do contexto histórico e do contexto de ideias que ele pretendia transmitir naquele momento.
            Um erro corrente até mesmo nas traduções da Bíblia é a escolha errada de palavras para substituir termos bíblicos que no nosso contexto possuem um significado diferente. Por exemplo, aquilo que hoje traduzimos como “coração”, no texto bíblico hebraico significa as entranhas, literalmente as nossas tripas. Na nossa cultura porém, é do coração que brotam as emoções, assim como os judeus faziam alusão às entranhas. Mas o sentido é preservado. Embora existam textos escritos na mesma época das escrituras que contenham as mesmas palavras, para compreendermos o sentido daquilo que a Bíblia nos diz, é nela mesma que devemos nos basear. A palavra “evangelho”, por exemplo, não é de origem cristã, mas era corrente na época em que os textos bíblicos foram escritos e significam “boa-nova”. Mas para sabermos que boa-nova é essa, devemos consultar as Escrituras.
            O contrário disso é o que o catolicismo romano emprega na interpretação da Bíblia, não fazendo caso da exegese correta, interpretando os textos na tradição Alexandrina, isto é, de maneira espiritualista, sem levar em conta o significado real das palavras no texto original. Dessa forma, inúmeros são os textos reconhecidos pelos teólogos católicos como marianos e que não fazem qualquer alusão à Maria, nem o significado das palavras, nem o próprio contexto em que elas foram escritas originalmente. Um claro exemplo é a dificuldade em interpretar os “irmãos de Jesus” descritos em vários textos bíblicos (cf. Mateus 12:46; 13:55; João 7:5). A grande maioria dos teólogos católicos, como Murad (2009), interpretam esses “irmãos” como sendo primos de Jesus, filhos de uma outra Maria, que seria mãe também de Tiago e José, citando Marcos 6:3 em comparação com 15:40 e 16:1.
            Apesar dos esforços dos teólogos católicos para comprovarem que os irmãos de Jesus citados na Bíblia eram primos de Jesus, filhos desta outra Maria, a própria Bíblia se encarrega de nos revelar a verdade. Vejamos:

·         Em Mateus 12:46 está claro que “sua mãe e seus irmãos” eram de fato mãe a irmãos de Jesus. Ele tinha quatro irmãos, que são mencionados pelo nome em Marcos 6:3.
·         Em Marcos 6:3 existe uma descrição direta dos irmãos de Jesus pelos nomes (Tiago, José, Judas e Simão), além das suas irmãs que não são nomeadas. Os seus ouvintes, impressionados pelas coisas que ouviam, e pelas maravilhas que presenciaram, indagam sobre “o carpinteiro, filho de Maria”, isto é, o próprio Jesus. Neste caso é necessário atentar também para a palavra “filho”. Embora ela seja utilizada em quase todos os idiomas para se referir a um parente próximo (filhos da uma mesma mãe), na Bíblia pode ser utilizada para remontar a um parente remoto. Embora sendo neto de Saul, Mefibosete é chamado de seu neto. Ló é chamado de filho de Abraão, embora fosse seu sobrinho. Isto é um hebraísmo que explica como todos os israelitas eram chamados de “filhos de Abraão” (João 8:39), ou como existem os “filhos da promessa” (Romanos 9:8), “filhos da ira” (Efésios 2:3), “filhos da luz” (Efésios 5:8). No texto de Marcos 6:3, todavia, a referência a Jesus como “filho” de Maria está diretamente ligada ao fato de ele ter outros “irmãos e irmãs”. Isto é, tais irmãos e irmãs eram reconhecidamente “filhos” de Maria, assim como Jesus. Uma interpretação diferente é meramente especulativa.
·         Em Marcos 15:40 está claro que a Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José não é a mãe de Jesus. O contexto deixa isso bastante claro. O Tiago mencionado neste versículo era o filho de Alfeu e irmão mais velho do apóstolo João (Marcos 1:19; 3:17), morto por ordem de Herodes Agripa I (Atos 12:2). De José não se tem conhecimento. Esta Maria é citada novamente no versículo 47 e em 16:1.
·         Em João 2:12; 7:1-10; Atos 1:14; 1 Coríntios 9:5 e Gálatas 1:19 vemos uma clara referência aos irmãos de Jesus, que ainda não criam nele.
·         Em Colossenses 4:10 temos uma ocorrência da palavra “primo”, onde Paulo refere-se a Marcos como primo de Barnabé. Paulo utiliza o termo aneyioz para “primo”. Em Gálatas 1:19, ao referir-se a Tiago como o irmão do Senhor, ele utiliza adelfon tou kuriou. Em Mateus 12:46, o termo utilizado para os irmãos de Jesus foi o mesmo empregado em Gálatas. O mesmo ocorre nos outros textos onde o catolicismo romano insiste que os “irmãos” (adelfoi) de Jesus, na verdade são seus “primos” (aneyioz). Comprovada está a verdade da Bíblia pela própria Bíblia.

Embora em diversas partes da bíblia a palavra irmão possa denotar um carinho especial por alguém, o compatriotismo, irmandade na fé. Embora Murad (2009) utilize-se de Gênesis 11:31 e 13:8 para mostrar como irmãos podem significar parentes próximos e Gênesis 2:11 para explicar o termo “irmãos” no sentido de compatriotas, e com isto dar base à teoria de que os irmãos de Jesus descritos na Bíblia eram seus “primos”, filhos de uma outra Maria ou de um primeiro casamento de José, o fato é que outras regras da hermenêutica ainda precisam ser observadas. Então o que explica a confusão literária entre as palavras “irmãos” e “primos” causada pelos teólogos católicos? Uma declaração de Murad (p. 113, 114) desvenda-nos o mistério:

Embora consideremos somente a Bíblia como Palavra de Deus, nós, católicos, também levamos em conta a Tradição cristã, isto é, tudo aquilo que a Igreja, inspirada pelo Espírito, foi selecionando e acumulando na sua experiência, e afirmando como decisivo na sua identidade. Guardamos, com especial carinho, os documentos de homens e mulheres que viveram e testemunharam a fé desde o início, como Clemente, Justino, Irineu, Inácio de Antioquia, Perpétua e Felicidade, Cirilo de Jerusalém e tantos outros. Eles são chamados os “pais e mães da Igreja”.

            Quando os argumentos baseados na Bíblia não são suficientes para comprovar suas doutrinas, os teólogos católicos ficam a vontade em apelar para a Tradição, para os sermões, orações, hinos litúrgicos, cartas e outros depoimentos desses “pais e mães da Igreja”, ainda que eles não se sustentam na Verdade divinamente revelada por Deus, ainda que dela difiram, ainda que a ela deturpem e mesmo que dela tenham que abrir mão. Assim, tendo-se o cuidado para não tomar a palavra ao pé da letra, mas buscando os modos próprios de expressão de cada idioma (Lund e Nelson), é necessário buscar sempre o sentido literal dos termos. Alguns textos podem nos soar estranhos, como Lucas 14:26 ou Mateus 10:37, mas o estudo do idioma e do contexto sempre nos levarão a uma correta interpretação da Bíblia. Compare-se, por exemplo, os diversos significados, em diversos textos e contextos diferentes, das palavras “mundo” e “carne”; ou das palavras “salvação”, “confiança”, “fé”. Ou mesmo de “obras” em dois contextos: a teologia paulina da justificação pela fé e a epístola de Tiago, irmão de Jesus.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SACERDÓCIO CATÓLICO ROMANO E CELIBATO: doutrinas e refutações



O sacerdócio católico-romano


         Na parte de baixo da “igreja piramidal”, mais perto do povo, encontram-se os sacerdotes da igreja católica romana, aqueles que guiam mais diretamente o rebanho e repassam aos fiéis as doutrinas decididas pelos seus superiores. Eles são chamados de “padres”. Mas qual a sua origem? E a sua função? Existiam padres no Novo Testamento, na igreja primitiva?

Quem é o sacerdote?

         O padre é o presbítero da igreja romana. Ele é ordenado sacerdote e comissionado para um serviço numa igreja específica, onde poderá ficar pelo resto de sua vida. Há bastante discussão entre os teólogos romanistas se o padre como sacerdote encarna a igreja em si ou apenas determinada função ou serviço eclesiástico. É certo que nos tempos idos a figura do sacerdote era mais imponente na igreja. Ele realizava todos os serviços, tanto ministeriais quanto sacramentais. Com a abertura do Vaticano II para uma maior participação dos leigos na celebração eucarística e nos diversos ministérios e pastorais da igreja, este poder parece ter sido descentralizado e dividido entre os membros da congregação aptos a exercê-lo, embora o sacerdote ainda aja como líder, regendo a igreja e ensinando-a. Este chamado “sacerdócio comum dos crentes” levou centenas de anos para se consolidar e caminha a passos curtos, mas já permite aos leigos uma maior criatividade e liberdade de ação no serviço religioso e um prazer maior em participar dos problemas da sua diocese.
         O próprio papel do sacerdote parece ter assumido outras dimensões, além do poder especial para ministrar os sacramentos, em especial o da Eucaristia. Ele tornou-se mais próximo e participativo da comunidade, deixando de ser aquela figura distante, intocada, de difícil acesso para estar mais próximo das carências de suas ovelhas. Também ficaram mais visíveis suas necessidades humanas básicas e comuns, bem como suas falhas de caráter e conduta. Embora o padre ainda seja visto com enorme respeito pela comunidade católica, a sua imagem de homem santo, modelo de virtude e castidade não tem encontrado mais tanto espaço na mente do povo, principalmente depois de inúmeras denúncias – a maioria abafada pelo Vaticano – de homossexualismo e pedofilia praticada por alguns indivíduos que se utilizam da sacramentalidade de sua batina para práticas menos santas. Muitos destes problemas podem ter sido ocasionados pela imposição do celibato, castrando a natureza masculina dos padres – e feminina das freiras – como se fosse possível abdicar tão facilmente de uma natureza dada pelo próprio Deus. Os que têm o Dom de celibato podem ter mais facilidade para se conter. Todavia, os que desejam abraçar o ministério sacerdotal, mesmo sem possuir este Dom, se vêem obrigados a cumpri-lo, contra todos os seus desejos.
         Em fim, o sacerdote é o representante do bispo nas igrejas e, num plano maior, do papa. A ele são confiadas as ovelhas do rebanho de Deus, para guiá-las, cuidá-las e ensiná-las sobre as leis da igreja e de Deus. Se fôssemos estudar mais profundamente veríamos que, apesar da certeza romanista de que o padre é um homem comum revestido de um poder especial, ele de qualquer forma torna-se diferente das demais pessoas.
A ordenação sacerdotal

         O sacerdócio romanista não é aceito pelo protestantismo, porque o Novo Testamento não faz alusão alguma a esta função dentro da igreja cristã, como atesta o Pe. Ribolla:

Nas origens, não se conhecia a palavra sacerdote na comunidade cristã. No fim do I século é que São Clemente esboça uma teologia sacerdotal. E no século VI é que a palavra hierarquia predominou com o significado, com o “cheiro” de Poder. E daí vem a “Igreja piramidal”: no ápice, em cima, os bispos, depois os padres e na base, o povo. No começo não era assim. O todo era o Povo de Deus.[1]

         Esta idéia de sacerdócio é, então, algo que não fazia parte da prática da igreja primitiva e que só começou a ser praticado pelo final do primeiro século. No decorrer da história cristã a função sacerdotal foi ganhando força e somando doutrinas e dogmas até se tornar naquilo que conhecemos hoje como o ofício do padre na igreja romana. A História também mostrará que muitos dos padres da Antigüidade eram filhos de outros padres ou bispos e muitos deles ascenderam ao trono de Roma, como papas, como foi o caso de Bonifácio I (418-422).
         A entrada no sacerdócio dá-se através do sacramento da “ordenação”. Após anos de estudo e preparo, o candidato ingressa no ministério da igreja através da Ordenação Sacerdotal. Segundo o Vaticano II, o sacerdócio dos presbíteros (padres) difere do sacerdócio comum dos leigos. Ele goza de poder sacro, forma e rege o povo sacerdotal, confecciona o sacrifício eucarístico e o oferece em nome de todos (LG, 28). A palavra “padre” vem do latim pater, que significa “pai”. Assim, o padre-sacerdote é considerado como “pai na fé” e guia dos fiéis de sua igreja.
         O sacerdócio católico romano origina-se do sacerdócio do Antigo Testamento. Explicam alguns autores romanistas que, assim como as diversas culturas, mesmo pagãs, têm a função sacerdotal que serve como uma espécie de intermediária entre o fiel e a sua divindade, o catolicismo possui o sacerdote, que faz esta mediação; uma figura de caráter sagrado, respeitada por toda a comunidade. O sacerdote é, na verdade, mais que um simples homem; ele é revestido de um grande poder, sendo às vezes tomado como um cidadão-modelo, portador da verdade divina e pastor do rebanho de Cristo. Embora o Vaticano II e outros documentos que tratam do ofício sacerdotal afirmem que o padre deve ser exemplo para a comunidade para a qual foi designado, não são poucos os que levam uma vida comum e, muitas vezes, mundana, entregues aos vícios e as paixões da carne, chegando a freqüentar regularmente ambientes e festas que não seriam lícitas a homens da sua posição.
         Este sacerdócio fundamenta-se na suposição de que Jesus queria que seu sacerdócio continuasse, e para isso deixou representantes seus na Terra, entregando seus poderes sacerdotais nas mãos dos homens, seus sucessores como sacerdotes, conferindo-lhes tremendos e diversos poderes, os mesmos conferidos aos Apóstolos[2] (Marcos 3:13-19; Lucas 10:46). Deste modo, os Apóstolos nomeados por Cristo tiveram os seus sucessores. Os sucessores de Pedro prefiguram na História como papas, enquanto os sucessores dos demais Apóstolos como bispos. Os padres são o que o Novo Testamento chama de “presbíteros”, estando sujeitos diretamente à autoridade do bispo diocesano e por fim ao papa.
         O ato de ordenação sacerdotal é um ato sacramental feito através da imposição de mãos pelo bispo, seguindo o exemplo das primeiras comunidades cristãs relatados no Novo Testamento. Em Atos 6:6 foram eleitos sete diáconos através da oração e da imposição de mãos pelos Apóstolos. Outra vez, através do mesmo sistema, foram comissionados Barnabé e Saulo para uma obra específica para a qual o Espírito Santo os havia chamado. (Atos 13:1-3). Do mesmo modo se dava a eleição dos presbíteros em cada igreja por que passavam (Atos 14:23). Paulo fala a Timóteo dos dons que ele havia recebido através da imposição de mãos (1 Timóteo 4:14; 2 Timóteo 1:6). Na imposição de mãos da ordenação católica romana está incluída a prece pelo derramamento do Espírito sobre o candidato ao sacerdócio.
         Esta ordenação sacramental, todavia, sempre ofereceu problemas e controvérsias, principalmente entre os reformadores, não encontrando estes fundamentação bíblica para a sacramentalidade da ordenação sacerdotal, visto serem todos os crentes tidos como sacerdotes (1 Pedro 2:9), independente de ritos de iniciação e imposição das mãos por outros membros da igreja. É necessário observar que nenhum dos textos citados acima do livro de Atos e nas epístolas de Paulo a Timóteo, existe referência à sacramentalidade da ordenação diaconal e missionária; principalmente não há menção a uma ordenação sacerdotal dos sete diáconos escolhidos para um serviço específico na comunidade, nem de Paulo ou Barnabé, muito menos de Timóteo, nem qualquer indicação que em algum momento de seu ministério tenham exercido tal função. Contra tais argumentos reformistas o Concílio de Trento agiu prontamente, anatemizando qualquer um que afirmasse não haver no Novo Testamento sacerdócio visível e exterior:

961. Cân. l. Se alguém disser que no Novo Testamento não há sacerdócio visível e externo, ou que não há poder algum de consagrar e oferecer o verdadeiro Corpo e Sangue do Senhor, bem como de perdoar e reter os pecados, mas há apenas um simples ministério de pregar o Evangelho, ou que aqueles que não pregam não são absolutamente sacerdotes — seja excomungado [cfr. n° 957, 960].
962. Cân. 2. Se alguém disser que além do sacerdócio não há na Igreja Católica outras Ordens maiores e menores, pelas quais gradualmente se chega ao sacerdócio — seja excomungado [cfr. n° 958].
963. Cân. 3. Se alguém disser que a Ordem ou sacra ordenação não é verdadeiro e próprio sacramento instituído por Cristo Nosso Senhor, ou que é uma invenção humana, excogitada por pessoas ignorantes das coisas eclesiásticas, ou que somente é um rito de eleger ministros da palavra de Deus e dos sacramentos — seja excomungado [cfr. n° 957, 959].

         Visível e externo significa que existe uma função específica dentro da igreja, uma função que não é simplesmente espiritual, mas personificada em uma pessoa: o padre, tendo como poder pregar o Evangelho e oferecer o sacrifício eucarístico. Este sacerdócio é uma evolução hierárquica: começa-se como seminarista, diácono, até o ato da ordenação, continuando em ordem crescente até o episcopado. A ordenação romanista não é, portanto, como se dá com os ministros evangélicos que são ordenados pastores para cuidar do rebanho de Deus; ela é um ato sacramental e como sacramento confere conseqüências espirituais, como a salvação da alma, por exemplo.

         Entretanto, o século XX veio reiterar a sacramentalidade da ordenação sacerdotal:
Os diferentes princípios podem ser entendidos como diferentes aspectos do todo. Inicialmente deve ser visto o contexto maior: o serviço para o qual a Igreja foi chamada em sua totalidade. Ela como um todo e todos os seus membros têm a missão de proclamar a Palavra de Deus (martyria), de viver a mensagem proclamada em comunhão praticada (diaconia) e celebrar ambas as coisas em sinais (leitourgia). Os cargos de serviços específicos servem à realização dessas manifestações elementares na Igreja. Porque a Igreja não tem como tarefa proclamar a si mesma, e, sim, a Palavra de Deus preestabelecida e que também sempre a questiona; por isso ela precisa do papel do proclamador, que defronta a comunidade – e que, nesse sentido, no exercício desse serviço, representa a Cristo. Para que se realize comunhão, há necessidade do serviço congregador, inspirador, despertador de capacidades, que pode ser denominado serviço prestado à comunidade. E visto que esse serviço é parte essencial da Igreja, ele também se manifestará nas celebrações litúrgicas centrais da Igreja.[3]

         Todavia, o que está em questão aqui não são os serviços prestados à comunidade pelo sacerdote como pastor e ministro do Evangelho, mas a sua função sacerdotal, através da qual ele pode ministrar os diversos sacramentos, em especial a Eucaristia, onde ele oferece constantemente o sacrifício de Cristo, renovando-o e repetindo-o a cada celebração eucarística. Está em questão, também, o fato de tal sacrifício e função sacerdotal jamais terem feito parte do ideal apostólico ou ministerial do Novo Testamento. Estudando sobre a doutrina romanista a cerca da Eucaristia, podemos ver que se pretende igualar a santa ceia ao sacrifício pascal judaico, numa tentativa de garantir que a presença de Cristo no sacrifício eucarístico é muito mais que figurativo, memorial, mas de fato uma presença viva (transubstanciação).
         Acima de tudo, a ordenação sacerdotal confere ao padre títulos que jamais permearam a doutrina dos Apóstolos, nem foram ensinados por Jesus Cristo. A ordenação feita pelo bispo ocorre durante a celebração da missa. O candidato é ungido com óleo enquanto são ditas as seguintes palavras:

Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo, e revestiu de poder, te guarde para a santificação do povo fiel e para oferecer a Deus o Santo Sacrifício (...) Tu és, agora, sacerdote eternamente, segundo a Ordem de Melquisedeque, como Cristo Jesus o foi, e a quem tu representas por toda a eternidade.[4]

         Desta forma, o padre-sacerdote passa a exercer uma função que, biblicamente, é de exclusividade do Senhor Jesus. Note-se que o autor se refere ao sacerdócio de Cristo no passado: “o foi”. O que se pode concluir com esta afirmação é que o sacerdócio eterno e imutável de Cristo (Hebreus 9:26-28) teve fim, dando-se início a sucessividade do sacerdócio romanista, onde qualquer homem pode assumir o lugar de Cristo no sacerdócio da igreja. Por ser um sacramento, o sacerdócio é um carisma, um sinal que permanece para sempre, irreversível, eterno. O autor citado chega a comparar o sacerdócio dos ministros católicos com o de Cristo “segundo a ordem de Melquisedeque”. Então ambos, Jesus Cristo e os sacerdotes católicos, possuem esse sacerdócio eterno, sendo que o de Cristo “foi” e agora é perpetuado pela igreja romana.
Caso o queira, o sacerdote pode alcançar a dispensa do serviço sacerdotal, inclusive, do celibato, mas de sua ordenação de caráter sacerdotal ele jamais receberá dispensa. O perigo de abandonar a igreja é conhecido desde os primórdios do catolicismo romano. Para o leigo isso acarreta em perda da salvação. Para o sacerdote, além disso, passa a existir uma série de restrições contra ele, principalmente se ainda desejar permanecer no seio da Santa Madre Igreja. Em outras épocas as punições eram mais severas e as perseguições mais intensas. Assim condenava o I Concílio de Nicéia (325):

Quem temerariamente, sem se importar com o temor de Deus e sem atender à lei eclesiástica, seja presbítero ou diácono ou qualquer forma sujeito à regra canônica, abandonar a Igreja, não deve ser acolhido em nenhuma outra igreja; antes, devem ser empregados todos os meios para forçá-los a voltarem às suas próprias paróquias; e se insistirem em ficar, devem ser privados da comunhão. (cânone 16)[5]

         Atualmente, alguns sacerdotes que decidem largar a batina, dependendo da região do país onde se localiza a sua paróquia, precisam amargar a vergonha de serem considerados ex-padres, traidores da verdadeira igreja, ficando marcados para sempre. Decidir largar o sacerdócio romanista é um processo doloroso, principalmente porque o que assim procede sempre continuará sendo considerado como sacerdote, jamais poderá se livrar do seu ofício totalmente.
  
Funções eclesiásticas

         Conforme as resoluções do Vaticano II, os presbíteros (padres ou sacerdotes) estão destinados a pastorear uma Igreja em particular (CD, 1088), constituindo com o bispo uma só família, onde este é o pai. A sua primeira tarefa é anunciar o Evangelho de Deus a todos, ensinando não a sua sabedoria, mas o Verbo de Deus, aplicando a verdade perene às circunstâncias concretas da vida (PO, 1148). Outra função dos presbíteros é agirem como ministros de Cristo nas celebrações sagradas, reconciliando, pelo sacramento da penitência, os pecadores com Deus e a Igreja, e aliviando os doentes pela Unção dos Enfermos (PO, 1150, 1151). Sua função principal, porém, diz respeito à celebração eucarística, que é onde o seu ofício de sacerdote mais encontra significado.
         A função do sacerdote na igreja romana é mais que representativa. Em virtude do sacramento da Ordem, ele age “in persona Christi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça), fazendo as vezes do próprio sacerdote, que é Cristo Jesus. O sacerdote da Antiga Lei era apenas figura de Cristo, ao passo que o sacerdote da nova dispensação age em sua pessoa, apesar de esta presença de Cristo não tornar o sacerdote imune das fraquezas humanas (Catecismo da Igreja Católica, 1548-1550). Mas podemos perguntar: se o sacerdote age na pessoa de Cristo, como seu substituto, não deveria fazê-lo em todas as áreas da sua vida, já que ele continua sendo sacerdote mesmo sem estar celebrando a Eucaristia? Como, então, encontramos estes Alter Christus em rodas de bâbados e festas profanas, agindo como se nenhuma relação tivessem com o Salvador? Como explicar que a cada dia a moralidade dos padres tem-se tornado cada vez mais baixa? Cristo agiria assim?
         Como dissemos, a presença do sacerdote na comunidade está mais constante e viva, não devendo ele exercer somente a ministração dos sacramentos, mas sendo levado a interagir com a comunidade e torná-la mais participativa da obra da igreja. Além de anunciar o Evangelho de Deus (PO, 4) e ministrar o sacrifício eucarístico (PO, 2), os presbíteros desempenham outras funções que os tornam mais participativos da comunidade onde a paróquia está inserida, preocupando-se mais com os seus problemas mais elementares, tornando sua função menos simbólica para o povo. Ele deve, portanto:
        
·         Reunir em nome de Cristo a família de Deus em um só objetivo, levando-a a Deus.
·         Ensinar aos fiéis em humildade de espírito e admoestá-los como filhos.
·         Cultivar a vocação pessoal de cada um.
·         Orientar os homens à maturidade cristã.
·         Exercitar a caridade e o serviço ente os fiéis, levando-os a realizarem de maneira cristã as tarefas da comunidade.
·         Receber com maior importância os mais pobres e humildes da sociedade para a evangelização.
·         Ocupar-se dos mais jovens, além dos casados e pais, reunindo-se em grupos de amizade.
·         Mostrar solicitude com os doentes e agonizantes, visitando-os e confortando-os no Senhor.
·         Cultivar o espírito missionário universal para o qual a Igreja está designada.[6]
·         Esforçar-se em conjunto com os leigos, dando-lhes exemplo.[7]
·         Reconhecer e promover a dignidade dos leigos e suas incumbências na missão da Igreja.
·         Ouvir com gosto os leigos, apreciando seus desejos e reconhecendo sua experiência e competência nos diversos campos de atividade humana, verificando juntos os sinais dos tempos.
·         Reconhecer e incentivar os diversos carismas dos leigos.
·         Entregar com confiança tarefas aos leigos para o serviço da Igreja, deixando-lhes liberdade e possibilidade de agir.
·         Harmonizar de tal forma as diversas mentalidades, que ninguém se sinta estranho à comunidade.
Como se pode ver, toda a doutrina da Idade Média veio por terra. Antes, o que era uma figura distante que se sobrepunha a todos os fiéis, agora deve buscar unir-se a eles em prol do bom andamento da igreja. Os fiéis outrora calados, aquém do significado das missas celebradas em Latim e privados da livre leitura da Bíblia, agora são chamados a participarem da vida eclesiástica com ações de sua própria iniciativa, dando vida às diversas pastorais existentes hoje na igreja católica romana. O movimento carismático, criticado por muitos católicos tradicionalistas, coloca o leigo em contato com a possibilidade da manifestação dos diversos carismas e deixa bem claro: o sacerdote não encarna toda a igreja; é apenas mais uma parte da engrenagem. Ele não é o portador de todos os dons, mas apenas o facilitador deles.
Esta nova visão de sacerdócio pode estar inserida dentro de um contexto de contenção do avanço do protestantismo. De fato, nas igrejas reformadas, o cristão sempre teve espaço para agir, sendo os pastores e bispos escolhidos dentro da própria comunidade, tendo eles o chamado específico para exercer o ministério. Embora encontremos “crentes de banco”, o cristão é chamado a exercer ministérios, colocando em prática os diversos dons e talentos que Deus distribui para a edificação do corpo de Cristo. Esta participação sempre ativa e renovadora difere da apatia da grande maioria dos católicos que freqüentam as igrejas, aonde vão simplesmente para cumprir uma obrigação religiosa. Somente os pouquíssimos que se engajam nas pastorais e nos movimentos carismáticos podem dedicar-se um pouco mais completamente ao serviço de Deus. Para mudar o quadro de apatia que envolve os seus fiéis e impedir que eles troquem a morbidez do catolicismo pelas igrejas protestantes, é que o catolicismo romano tem “aberto” as suas portas para a comunidade. O serviço do sacerdote aí é fundamental, pois é ele quem mais está em contato com os fiéis.

O celibato

         Um dos ensinos mais controversos da igreja romana é o dom de celibato. Apesar de ser chamado de “dom”, o celibato é imposto àquele que deseja ingressar no presbitério da igreja romana, sendo ordenado sacerdote. Esta doutrinação não veio à luz senão no ano de 1139, através do Concílio de Latrão. Isto é, mais de mil anos se passaram após o início oficial do cristianismo para que a igreja romana definisse como dogma de fé a doutrina do celibato, encontrando muita resistência por parte do clero que jamais quis abrir mão de suas aventuras sexuais de fornicação, homossexualismo e prostituição. Se a promiscuidade entre o clero já era insuportável, tendeu a piorar com a instituição do celibato, passando os chefes de Roma a agir à surdina. Além disso, havia os clérigos casados que viram sua vida conjugal ruir e suas esposas e filhos ficarem desamparados.
         Como veremos mais adiante na refutação desta doutrina, existe, mesmo dentro da própria igreja romana, uma certa confusão com relação à autenticidade do celibato. Esta confusão não é atual, mas vem desde o início das discussões sobre o dogma. Até o início do século IV o celibato não era imposto aos diáconos, presbíteros e bispos pelas leis eclesiásticas, mas muitos membros de autoridade entre o clero já faziam a opção por segui-lo. O Concílio de Valence (374) considerou casados duas vezes os que se casavam uma vez enquanto pagãos e depois contraíam o matrimônio novamente através da igreja romana. A partir do século IV começaram a surgir novas e diversas exigências quanto à vida sexual e conjugal dos membros eclesiásticos. O Concílio de Ancira (314) permitia o casamento de um diácono somente se, no momento da sua ordenação, ele tivesse manifestado a vontade de se casar. Já o Concílio de Neocesaréia (entre 314 e 325) exclui do clero o sacerdote que se casa.
         O Concílio de Elvira (início do século IV) traz mandamentos mais severos com relação a situação dos clérigos casados. O cânone 33 obriga os membros do clero que haviam se casado antes da ordenação a observarem a continência com suas esposas, sendo isto expandido para todo o Ocidente pelo fim deste mesmo século, trazendo vários problemas ao clero: se deveriam ou não coabitar com suas esposas. O que estava por detrás destes concílios e dogmas não era muito a questão moral e prática do celibato para os religiosos, mas a questão financeira. Por respeito ao patrimônio eclesiástico, os bispos eram obrigados a permanecerem célibes ou a colocar suas esposas em conventos[8]. O estado deplorável do clero na Idade das Trevas da igreja romana comprova isso. Como se sabe, esta igreja sempre foi portadora de abundantes bens materiais, como suntuosas catedrais, latifúndios, obras de arte, ornamentos de ouro, etc., frutos de indulgências concedidas aos nobres, doações, “esmolas” e outras fontes mais obscuras. Este denominado “Tesouro da Igreja” sempre foi o alvo preferido dos papas mais devassos que ocupavam o trono de Roma, gastando as riquezas da igreja com prostitutas, jogatina, apostas, amantes homossexuais e uma vida promiscua. Para a igreja romana seria um enorme prejuízo a constituição de famílias por parte de seus sacerdotes e clérigos, pois assim deveriam lhes pagar salário compatível com seu cargo e função. Estes “empregados” deveriam deixar herança quando morressem e esta, certamente, sairia dos cofres da igreja.
A favor do celibato, os autores romanistas citam argumentos cristológicos e escatológicos, bem como razões práticas[9]. Através dele, argumentam, haveria uma maior possibilidade de testemunho expresso a favor de Cristo. Sem a sua penosa renúncia (sexo e casamento), o sacerdote jamais poderia alcançar a plenitude de vida. Livre das preocupações decorrentes de uma vida matrimonial, o sacerdote estaria livre para desenvolver melhor o seu ministério, servindo com mais liberdade aos homens e as suas necessidades. É o que atesta o Vaticano II ao afirmar que o celibato é a perfeita e perpétua continência por amor ao Reino dos céus (PO, 1195), recomendada por Jesus Cristo (Mateus 19:12), a favor da vida sacerdotal, ao qual se ajusta de mil modos.
         Vê-se claramente que, para o catolicismo romano, o celibato está acima do matrimônio, como uma virtude especial, superior, capaz de tornar o homem mais santo e apto para o serviço religioso. Todavia, considerar o matrimônio como empecilho ao bom desenvolvimento da vida espiritual e eclesiástica é ir contra o mandamento divino e a própria natureza do homem. O que é o celibato? É a ausência total de relacionamento amoroso, o que inclui o sexo. Será, então, que o sexo é impuro? Será que o casamento denigre a imagem espiritual do ser humano? Se a resposta for positiva, por que tanto Jesus como os Apóstolos não condenaram o casamento e exaltaram o celibato?
         A Palavra de Deus nos mostra o matrimônio como sendo o ideal de Deus para o homem. O Apóstolo Pedro, suposto primeiro papa da igreja católica romana, era casado; Jesus curou a sua sogra (Mateus 8:14; Marcos 1:30; Lucas 4:38). Se Pedro era casado e o casamento não é permitido ao sacerdote, Jesus deveria tê-lo aconselhado a abandonar sua esposa para servir-lhe melhor? Em momento algum na Bíblia encontramos a esposa de Pedro como sendo uma pedra no seu ministério. Não há referências de que ele tenha sido impedido de empreender uma viagem missionária por estar cuidando dos afazeres domésticos. Muito pelo contrário, é bem provável que sua esposa o acompanhava nas suas viagens missionárias. Se Pedro e alguns outros Apóstolos eram casados, porque a igreja romana instituiu o celibato? Se a igreja católica reivindica o título de Una e Infalível igreja de Cristo, invariável e sempre a mesma desde a sua fundação, porque não continuou com o costume da época, deixando que seus obreiros se casem, caso o queiram?

Refutações

         Toda doutrina romanista referente ao sacerdócio, suas funções e o celibato, é estranha à Bíblia. Como veremos a seguir, não há indicação alguma que Cristo tenha formado um corpo de sacerdotes ao reunir os doze apóstolos, nem que os tenha conferido qualquer tipo de sucessão apostólica. Muito menos iremos encontrar em toda a Escritura Sagrada alguma passagem que apoie a doutrina do Alter Chirtus. O sacerdócio imutável de Cristo é também intransferível; não há como homem algum se dizer no lugar de Cristo, como se quisesse anular a sua presença. Conforme ficará provado, a sucessão sacerdotal de Cristo é a Bíblia e o Espírito Santo que Ele nos enviou para operar em Seu Nome. Os cristãos é que são os verdadeiros sacerdotes e templos do Espírito Santo, não para oferecer constantemente Cristo como sacrifício, mas para oferecerem-se a si próprios em sacrifício a Deus.
         É interessante notar que, mesmo dizendo-se parte da Nova Aliança, a igreja católica romana tira do Antigo Testamento muitos de seus rituais, trazendo passagens totalmente fora de seu contexto para explicar suas doutrinas. Não estamos querendo com isso dizer que se deve desprezar o Antigo Testamento, como se o Novo não dependesse dele e vice-versa. O que está em questão é que os cristãos vivem realmente a nova dispensação, onde a funcionalidade do sacerdocio perdeu todo o seu sentido. Se já não existe mais a necessidade de sacrifícios em prol dos pecados, pois Cristo já ofereceu um único, último, perfeito e eterno sacrifício de si mesmo pela humanidade, por que haveria necessidade de sacerdotes? Se sacerdote é aquele que oferece sacrifícios a Deus pelo pecado do povo para uni-los novamente, esta função cessou no sacrifício salvítico de Cristo que une a Deus todo aquele que nele crê.

O sacerdócio no Antigo Testamento

         Como já foi afirmado, a função de sacerdote não fazia parte do ideário da igreja cristã primitiva nem jamais foi esboçado por qualquer um dos Apóstolos no livro de Atos, nas epístolas ou no livro de Apocalipse. A função sacerdotal sempre foi adotada no Antigo Testamento, onde havia a sua necessidade. O sacerdote era um homem designado por Deus para fazer a mediação entre as coisas divinas e o homem, em prol deste. Eram pessoas específicas que Deus separava para esta mediação, já que o homem não tinha acesso direto à Sua presença por causa dos seus pecados. Arão foi separado por Deus para ser sacerdote, servindo como oficiante do culto realizado no primeiro tabernáculo e depois no templo. Porém, antes de Arão já havia sacerdote, Melquisedeque, do qual seguiu-se Jesus segundo a sua ordem eterna (Gênesis 14:17-20; Hebreus 7:1-3).
         Outra designação do sacerdote no Antigo Testamento era oferecer sacrifícios a Deus pelo pecado do povo, reconciliando-os e fazendo expiação pelos pecados (1 Samuel 2:28; Ezequiel 44:11,15; Hebreus 5:1; 8:3). Estes sacrifícios envolviam a imolação de animais, cujo sangue aspergido servia para a purificação. Por fim, ao sacerdote cabia interceder pelo povo. Esta intercessão estava além de uma simples intercessão, mas envolvia todo o seu ofício sacerdotal como mediador e reconciliador pelos sacrifícios oferecidos (cf. Êxodo 28-29; Levítico 21; 1 Crônicas 24).
         Todas estas funções sacerdotais da Antiga Aliança aplicam-se com perfeição ao sacerdócio romanista: a mediação entre os homens e Deus; a oferta do sacrifício pelos pecados e, finalmente, a intercessão a favor dos fiéis. Os sacerdotes, também, serviam como mestres do povo e mensageiros de Deus, até o surgimento do ministério profético, quando os profetas passaram a exercer esta função. Já no catolicismo romano, esta função continua com o sacerdote, embora o Vaticano II tenha aberto mais aos fiéis a participação efetiva na igreja, inclusive no ministério de ensino. Mas tudo isto encontra um problema bíblico: não existe no Novo Testamento o sacerdócio que havia no Antigo ou qualquer outro tipo de sacerdócio humano, pois ele teve seu fim em Cristo Jesus, que se tornou nosso último e Sumo Sacerdote para sempre. Se o catolicismo romano pretende firmar seu sacerdócio com base no sacerdócio do Antigo Testamento, deve saber que, assim como ele, o seu também é totalmente ineficaz.

O sacerdócio de Cristo

         O sacerdócio de Cristo parte da necessidade do homem pecador de expiar os seus pecados para entrar novamente em comunhão com Deus. Os sacrifícios do Antigo Testamento mostravam-se inúteis, uma vez que o povo de Israel a cada dia se tornava mais pecador e de coração endurecido. Os sacrifícios prescritos por Deus haviam caído no legalismo; era o sacrifício por ele mesmo, como mero cumprimento religioso. Aqueles sacrifícios, no entanto, tipificavam o sacrifício de Cristo (1 Coríntios 5:7; Efésios 5:2; Hebreus 10:1,11,12). Eles não podiam tirar os pecados (Salmo 40:6; Hebreus 9:9; 10:1-11) e não eram aceitos por causa destes pecados (Isaías 1:11,15; 66:3; Oséias 8:13). Além disso, os sacrifícios eram insuficientes para se adquirir a salvação (1 Samuel 15:22; Salmo 40:6; 51:16,17; Isaías 1:11; Oséias 6:6; Amós 5:22; Malaquias 6:6; Mateus 9:13; 12:7; Hebreus 9:9).
         Deus, porém, na sua infinita misericórdia, insistia em reconciliar-se com os homens, em trazê-los de volta para si. Jamais foi da Sua vontade que o homem vivesse destituído da Sua Glória, perdido e sem esperança. O objetivo dos sacrifícios no início era que o homem deixasse seus pecados e buscasse a Deus, vivendo uma nova vida, repleta de perdão. Mas isso não foi possível, não porque Deus errara ou visse seus planos sendo destruídos, mas por causa da dureza do coração do homem, que insistia em cometer pecados, seguro de que seria justificado quando um novo sacrifício fosse oferecido. Conforme vimos no capítulo sobre “penitência”, este fato da continuidade do pecado já preocupava os líderes católicos há centenas de anos, levando-os a instituir o sacramento da penitência, onde haveria uma satisfação pelos pecados cometidos após o batismo. O erro do catolicismo romano, porém, é desacreditar no poder do Espírito Santo e da salvação de Cristo, continuando a praticar sacrifícios semelhantes aos do Velho Testamento, mas com uma roupagem Cristã.
         A solução para o homem já havia sido prescrita desde a queda de Adão e Eva: a vitória de Cristo sobre o pecado e Satanás (Gênesis 3:15). Deus ofereceu em sacrifício o seu único e amado Filho para que, através dele, o homem pudesse encontrar a salvação e o caminho de casa. Jesus fez o que nenhum sacrifício oferecido por mãos humanas jamais pôde fazer. Deus o fez sacerdote e vítima e o exaltou sobremaneira, dando um Nome que está acima de todo nome (Filipenses 2:9). Este sacerdócio de Cristo cumpria o que se pedia do sacerdócio do Antigo Testamento no tocante a mediação entre os homens e Deus, o sacrifício pelos pecados e a intercessão pelo povo. Toda a tipificação e o simbolismo do sumo sacerdote, único que podia entrar no Santo dos Santos além do véu, foram cumpridos em Cristo.
         Como os sacerdotes da Antiga Aliança, Cristo foi designado por Deus em favor dos homens (Hebreus 5:1), para aproximá-los de Si e oferecer sacrifício[10] em favor deles. Através do livro de Hebreus podemos constatar a maneira e o tipo do sacerdócio de Cristo e nos perguntar: Existe ainda a necessidade de sacerdotes, como os da igreja romana? Existe ainda a necessidade de sacrifício pelos pecados, como o sacrifício eucarístico? Existe ainda a necessidade de sacrificar Cristo todos os dias sobre o altar da Missa?
1.    Ao contrário dos sacerdotes romanistas, Cristo tinha todas as qualificações de sacerdote (5:6; 6:20; 7:15,17; cf. Salmo 110:4). Ele era segundo a ordem de Melquisedeque, um sacerdócio sem princípio e fim. Sem princípio porque Jesus já existia desde a eternidade, e sem fim porque seu sacerdócio é para sempre. Embora afirmem que “fazem as vezes de Cristo”, o sacerdócio romano tem início, meio e fim.
2.    Cristo não era sacerdote por mandamento ou instituição carnal, mas por desígnio divino e infalível (3:1,2; 5:4,5). Seu sacerdócio era o cumprimento dos desígnios de Deus para o homem. Se os sacerdotes romanos pretendem tomar as vezes de Cristo, subtende-se que eles devem, também, estar designados divinamente para tal, o que é bem provável, já que o sacerdócio de Cristo é imutável.
3.    O sacerdócio de Cristo é de uma ordem superior a de Arão e aos sacerdotes levitas (7:11,16,22; 8:1,2,6), por um motivo: nestes sacerdócios havia sempre a necessidade de um novo sacrifício pelos pecados. Mas Cristo sacrificou a si mesmo, tornando-se Sacerdote e vítima ao mesmo tempo, não havendo mais necessidade de se oferecer sacrifícios pelo pecado do povo. Seu sacerdócio eterno o tornou fiador de superior aliança. Se Cristo como sacerdote ofereceu-se a si mesmo como sacrifício, morrendo na cruz, os sacerdotes romanos deveriam, como “outros cristos”, fazerem o mesmo?
4.    O sacerdócio de Cristo substitui todos os outros (7:20-28; 9:23-28). Se de fato é assim que ensinam as Sagradas Escrituras, por que deveria o sacerdócio católico romano substituir o sacerdócio de Cristo? Se Cristo é um sacerdote eterno e o seu sacrifício foi perfeito e para sempre, por que haveria Ele de instituir um novo sacerdócio através dos Apóstolos e da “sucessão apostólica”?
5.    Cristo exerceu todas as funções do ofício sacerdotal: mediação (9:15; 12:24; cf. Efésios 2: 13-18); sacrifício (9:13,14,25,26; 7:27) e intercessão (7:25; 9:24). Estas funções, como já vimos, eram exercidas pelo ministério sacerdotal da Antiga Aliança e pretende ser copiado pela igreja romana. A figura do sacerdote é a mesma e seus rituais são os mesmos, inclusive com o altar onde Cristo é sacrificado como um cordeiro em todas as celebrações eucarísticas, onde o padre-sacerdote diz ao elevar a hóstia: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Estas funções não foram repassadas por Cristo aos seus Apóstolos, mas Ele continua eternamente salvando os pecadores através da fé pessoal de cada um que se converte.
6.    O sacrifício de Cristo foi: eterno (7:11-19); único e perfeito (7:20-28); eficaz (9:11-22); para sempre (9:23-28) e permanente (10:1ss). Se foi eterno já não há necessidade de renovação em cada celebração eucarística. Se foi único e perfeito, os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes romanos são inúteis. Se foi para sempre, eles também são desprezíveis e ferem o sentido de tal sacrifício. Se foi permanente, a Missa é uma mentira que fere a santidade e o poder de Deus.
7.    O sacrifício sacerdotal e expiatório de Cristo trouxe conseqüências sobre a humanidade, sobre aqueles que crêem nele: a expiação da culpa (7:27; 10:12), a propiciação de Deus (2:17) e a reconciliação com Deus (2:17). Se em Cristo a nossa culpa foi expiada e por isso alcançamos reconciliação com Deus, que necessidade haveria de novos sacerdotes e novos sacrifícios?
8.    Em João 3:16 lemos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Deus oferece seu próprio Filho em sacrifício pelos pecados da humanidade. Poderíamos afirmar que, ao oferecerem constantemente Jesus Cristo em sacrifício durante a celebração eucarística, estariam os sacerdotes romanos fazendo as vezes de Deus?
Independente da boa vontade que o sacerdote católico romano possa ter em tornar-se participativo da vida prática dos seus fiéis, o seu serviço como sacerdote em todos os sentidos do termo é totalmente desnecessário e antibíblico. Cristo não formou um corpo de sacerdotes, mas de Apóstolos, discípulos que deveriam lançar os fundamentos da sua igreja, pregando o Evangelho aos povos e nações, batizando-os e ensinando-os a guardar todos os seus mandamentos. A missão dos 12 era a de serem ministros de uma Nova Aliança, oferecida à humanidade por Deus através do sacrifício de seu próprio Filho na cruz. Este sacrifício foi providencial e perfeito, não havendo necessidade de repeti-lo todos os dias. Os autores romanistas argumentam que o sacrifício feito pelos sacerdotes é único porque, em todas as partes do mundo, em todas as vezes, sacrificam o único e o mesmo Cristo, sempre.
Além disso, o sacerdócio da igreja romana denuncia a existência de uma hierarquia que tende a suprimir os direitos dos leigos, por mais que se esteja abrindo a eles um espaço participativo da vida eclesiástica. Esta hierarquia não existia na igreja primitiva, como já tivemos a possibilidade de ver. Os Apóstolos e discípulos sempre trabalharam em conjunto, mesmo exercendo funções administrativas e ministeriais dentro da Igreja, aproveitando cada dom individual (profecia, ensino, aconselhamento, etc.), servindo todos para a edificação do corpo, do qual Cristo era a Cabeça, o líder supremo. Se aceitarmos a possibilidade da existência da função sacerdotal na Nova Aliança, por sermos todos sacerdócio real (1 Pedro 2:9), todos deveríamos ter o direito de celebrar a eucaristia e não somente o sacerdote.

O celibato

         Quando o papa Gregório VII (1073-85) decidiu proibir o casamento entre os clérigos, afirmando que padres pecadores não eram mais padres, houve grande resistência por parte da igreja, principalmente na Alemanha e na França. Em 1074 ele afastou os padres casados, mas ele mesmo tinha como sua amante uma condessa chamada Matilda, segundo afirmavam. A imposição do celibato aos religiosos gerou enormes crises na igreja romana, principalmente problemas sociais para as ex-esposas de padres e seus filhos que se viram perdidos e sem apoio. Famílias foram separadas, lares foram destruídos e muitas mulheres abandonadas cometeram suicídio. Em 1076 Gregório foi excomungado por um grupo de bispos por ter separado os maridos de suas esposas. E em 1080 o Concílio de Brixen condenou-o por “fomentar divórcio entre legítimos esposos”[11].
         O casamento honroso entre os religiosos foi substituído pela fornicação, homossexualidade, incesto, pedofilia e por toda sorte de torpeza. Os religiosos que estavam casados, maridos de uma só esposa, felizes com seus filhos, se viram privados de tudo isso e passaram a agir às escondidas. Com o passar dos anos a situação piorou, pois os padres e bispos que iam sendo ordenados já estavam sob a imposição celibatária e, portanto, jamais poderiam contrair matrimônio, vindo a buscar prazer em outras fontes, onde não poucas freiras e virgem acabaram como escravas de seus prazeres mais sórdidos. Tudo isto como conseqüência de um dogma inconseqüente que não levou em canta a Palavra de Deus e sua sã doutrina.
            O celibato é, então, uma doutrina antibíblica que necessita de uma breve explanação. Antes de tudo, baseados nas informações já repassadas, deveremos nos perguntar: 1) Em que possibilitaria o celibato a favor de Cristo? Por acaso Cristo era contra o casamento ou o fato dos sacerdotes se casarem diminuiria a sua santidade e o testemunho das Escrituras? 2) Devemos entender que o fiel comum, casado, está impossibilitado de alcançar a plenitude de vida cristã? A sua esposa é um entrave ao seu desenvolvimento espiritual? O matrimônio é um empecilho à atuação do Espírito Santo? 3) Como Jesus podia ser a favor do celibato para os sacerdotes se ele não criou nenhuma classe sacerdotal? 4) Jesus, quando disse a Pedro: “Segue-me e o farei pescador de homens”, estava acrescentando aí que para segui-lo Pedro deveria abandonar a sua esposa?
         O citado cânone 33 do Concílio de Elvira já demonstra a total incoerência romanista ao impor a doutrina do celibato aos seus clérigos. Jamais foi da vontade de Deus que o marido mantivesse qualquer tipo de continência com sua esposa ou vice-versa. O casamento sempre foi visto na Bíblia como algo divino e saudável que deve ser incentivado e mantido, pois é indissolúvel para Deus. Para compreendermos a enormidade do equívoco romanista devemos observar os seguintes pontos:
1.    Como vimos, a instituição do celibato só veio surgir muitos séculos depois de Cristo, isto quer dizer que demorou muito para que toda a sua teologia fosse formulada, aguardando-se um momento histórico específico para confirmá-la. Este dogma de fé católico jamais foi unânime entre aqueles obrigados a se tornarem celibatários, tanto na Idade Média quanto nos dias atuais, onde vemos grande insatisfação por parte dos padres, culminando com a promiscuidade sem limites entre os sacerdotes romanos. Era contra estes problemas que Paulo alertava: é melhor casar do que viver abrasado (1 Coríntios 7:1,7-9). Ao contrário do que muitos pregam, Paulo não determinou o celibato, mas fez uma exceção para aqueles que tivessem o dom e o quisessem assumir. Paulo provavelmente era viúvo, embora a Bíblia não deixe isso claro. Mas como ele deveria ser membro do Sinédrio, ser casado era uma das condições para este cargo. Este ensinamento não era direcionado somente aos que possuíam algum cargo eclesiástico efetivo, mas a toda a igreja. Se o padre decide pelo celibato, não há condenação alguma nisso, caso ele realmente tenha o dom e seja capaz de sustentá-lo. Caso não o tenha, ele tem duas possibilidades: casar-se e esquecer do sacerdócio ou exercer o sacerdócio lutando contra seus instintos naturais. Daí surge a pergunta: o que os vocacionados para o sacerdócio devem fazer se desejam ardentemente exercer este ministério, mas por outro lado também anelam casar-se um dia?
2.    O casamento é o ideal de Deus para a humanidade. Quando Deus criou o homem e a mulher e os colocou no paraíso deu-lhes a ordem de crescer e se multiplicar (Gênesis 1:28). Se o próprio Deus não achou bom que o homem estivesse só e por isso lhe fez uma companheira (Gênesis 2:18), por que a igreja romana deseja privar os seus sacerdotes desta? Celibato é uma questão de dom. Assim como nem todos são profetas ou mestres, mas possuem outros dons, nem todos estão aptos a casar-se ou a serem celibatários.
3.    Em Levítico 21:13,14 consta que os sumos sacerdotes deveriam selecionar suas esposas, não podendo desposar-se de uma viúva, repudiada, desonrada ou prostituta, mas escolhendo entre as virgens do povo. Por que os papas, os novos sumos sacerdotes, não tomam esposas dignas como os sumos sacerdotes do Antigo testamento e permitem que seus sacerdotes façam o mesmo já que o catolicismo romano considera-se totalmente fundamentado na Bíblia? Se o sacerdócio romanista é em tudo parecido com o sacerdote antigo, por que não se assemelhar também neste ponto? E mais: Se os sacerdotes da Antiga Aliança tinham tempo de dedicar-se ao serviço sacerdotal e a sua família, porque os “sacerdotes da Nova Aliança” não o teriam?
4.    Ao contrário dos concílios que pretendiam separar os sacerdotes de suas esposas ou obrigar os bispos casados a observarem a continência, a Bíblia nos ensina claramente que o casal não deve jamais se privar um do outro, salvo por motivo específico, vindo a juntar-se o mais rápido depois (1 Coríntios 7:5). O que ocorreu em 1076 foi um total desrespeito à Palavra de Deus. Os líderes romanos deliberadamente decretaram uma imposição que ia totalmente contra àquilo que Deus já havia prescrito por intermédio do Apóstolo Paulo. Se a igreja romana alega seguir fielmente a Tradição Apostólica, como explicar estes fatos grosseiros? Se o papa desde sempre foi considerado infalível, como explicar que o Concílio de Elvira tenha obrigado os clérigos à continência? E porque obrigaram os papas que os sacerdotes se separassem de suas esposas se a Bíblia ensina que quem está casado não deve se separar (1 Coríntios 7:27)? Jesus, que julgam como exemplo para o dom de celibato, era contra o divórcio (Mateus 19:3-12). O fato de Jesus ter dito a Pedro que quem abandonasse tudo para segui-lo receberia grande recompensa no presente e no porvir, não quer dizer que ele apoiasse a idéia do celibato para os seus seguidores. “Qualquer um” poderia significar não somente os Apóstolos, mas qualquer outra pessoa.
5.    O matrimônio já foi visto na Idade Média como algo impuro que trazia malefícios ao homem. Mas, segundo as Sagradas Escrituras, ele é digno de honra (Hebreus 13:14). Proibindo o casamento aos sacerdotes, os papas os entregaram a toda sorte de perversões. Conforme o ideal bíblico, cada homem deve ter a sua mulher para evitar a fornicação. O catolicismo romano caminhou sempre no sentido contrário disto, impondo sobre seus sacerdotes algo que não lhes era próprio e que ia contra a sua natureza. O casamento impede que o homem viva abrasado, ávido atrás da prática sexual com várias parceiras. É certo que o fato de estar casado não impede uma vida extraconjugal, mas o que se espera de pessoas crentes e fiéis a Deus é que vivam de maneira pura e honesta em sua relação. Quando o casamento e o sexo estão dentro da vontade de Deus, não há razão para considerá-los como impuros ou obstáculos à vida ministerial e espiritual.
6.    Que Pedro era casado já está patente. Mas, além disso, ele levava consigo a sua esposa por onde quer que fosse pregar o Reino de Deus (1 Coríntios 9:4,5). Se a esposa de Pedro jamais se tornou um estorvo para o seu ministério intinerante, porque as esposas dos sacerdotes da igreja romana se tornariam? O argumento romanista é que sem estarem casados estariam livres para exercer seu ministério, dedicar-se somente a ele, visto a dificuldade em conciliá-lo com uma vida familiar. Mas o que dizer de profissões como médicos, enfermeiros, policiais, bombeiros, etc., que requerem, às vezes, horas de plantão e fins-de-semana longe da família, além de uma dedicação quase exclusiva? Estes profissionais não precisam, também, conciliar sua profissão com a família? Pelo seu pouco tempo para uma vida pessoal eles deixariam de se casar e ter filhos? Por que?
7.    Paulo alertou seu companheiro Timóteo contra os espíritos enganadores que penetrariam na igreja com intuitos perversos (1 Timóteo 4:1-5). O resultado desta profecia de Paulo estamos vendo em toda a história da igreja romana, com a instituição de celibato para os sacerdotes, privando-os de constituírem uma família e obrigando-os a satisfazer secretamente seus desejos sexuais, estuprando, abusando sexualmente de crianças e desonrando virgens, inclusive noviças e freiras, além de praticarem o homossexualismo nos Seminários e conventos.
8.    O casamento para os ministros do Evangelho parte da necessidade de serrem exemplos para a comunidade cristã, além de poderem ajudar aqueles casais que estejam passando por dificuldades conjugais. Os bispos devem ser maridos de uma só esposa, aptos para ensinar, governando bem sua própria casa e criando seus filhos em toda disciplina e respeito. “Se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará do rebanho de Deus?” – este era o argumento de Paulo (1 Timóteo 3:1-5). Mas ainda podemos indagar: se o ministro não tem casa alguma para cuidar, como espera cuidar da casa do Senhor? Como pretende exortar quanto a educação dos filhos? Como pretende tratar os casais e aconselhá-los? Para isso a igreja romana tem criado as diversas pastorais, a fim de suprir esta deficiência dos seus sacerdotes.
Concluímos desta forma que não existe nenhum impedimento expresso na Bíblia para o casamento dos sacerdotes. O maior motivo para isto é que a função sacerdotal pregada pelo catolicismo romano é inexistente no Novo Testamento, além de desnecessária para o cristianismo, porque Cristo tornou-se o Sumo Sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque. Também para os Apóstolos não foi imposta nenhuma forma de celibato ou continência conjugal. Quando Jesus “deu as chaves da igreja a Pedro” comissionando-o para sua obra missionária, ou quando lhe pediu que apascentasse suas ovelhas, não lhe impôs condição alguma ligada à área conjugal, principalmente porque Pedro era casado e Jesus era radicalmente contra o divórcio. O celibato é uma imposição desnecessária que surgiu ao longo dos séculos para preencher as necessidades de uma igreja específica, a romana. Antes de o celibato ter sido declarado dogma, os diáconos, padres, bispos e papas contraíam matrimônio normalmente, sem que isso viesse afetar seu ministério ou se sentissem menos aptos a exercê-lo. Suas funções eclesiásticas jamais foram abaladas por manterem relações sexuais com suas esposas ou cuidarem de seus filhos. Depois da imposição do celibato, sim, a vida promiscua do clero passou a afetar sua espiritualidade e a santidade da igreja.


[1] Op. cit., p. 163. Grifos do autor.
[2] Devemos com isto entender que os Apóstolos também eram sacerdotes? Se sim, porque não há nenhuma referência ao exercício de seu poder sacerdotal? Se a principal função do sacerdote é o sacrifício eucarístico, onde encontrar referências a ele no Novo Testamento?
[3] SCHNEIDER, op. cit., p. 317.
[4] RIBÓLLA, op. cit., p. 146. Grifo nosso.
[5] SKRZYPCZAK, op. cit., p. 24 e 25.
[6] Até aqui: PO, 6.
[7] A partir daqui: PO, 9.
[8] Cf. Dicionário Patrístico e de Antigüidades Cristãs, p. 277 e 278. 
[9] SCHNEIDER, op. cit., p. 320.
[10] Na Antiga Aliança os judeus ofereciam “sacrifícios” pela expiação dos pecados. Na Nova Aliança um único sacrifício foi oferecido por Cristo para sempre. No catolicismo romano, embora seja o mesmo cordeiro a ser sacrificado (Jesus Cristo), os sacerdotes oferecem-no diariamente, configurando o plural “sacrifícios”, como se um só não tivesse sido o suficiente.
[11] CAWTHORNE, op. cit., ps. 115 e 116.


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